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Estado de Minas PLYMOUTH

Plâncton, pequenos organismos marinhos com impacto colossal


25/10/2021 06:02

A estranha caixa que os cientistas tiram do mar e deixam no convés do navio pode ser uma nave sonhada por uma criança. Mas quando Clare Ostle examina seu conteúdo, ela encontra algumas das criaturas mais importantes da Terra: o plâncton.

O dispositivo, denominado Gravador Contínuo de Plâncton (CPR, na sigla em inglês), é usado desde os anos 1930 para permitir aos pesquisadores conhecer melhor estes organismos marinhos.

O plâncton reúne espécies aquáticas arrastadas pela corrente, animais como águas-vivas no zooplâncton e plantas no fitoplâncton, além de bactérias e vírus.

Ele constitui a base da cadeia alimentar marinha, produz grande parte do oxigênio que respiramos e desempenha um papel essencial no ciclo do carbono.

"O mais importante que vemos é o aquecimento global", explica Ostle, coordenador do Pacific CPR Survey, e isso tem consequências potencialmente graves para a vida marinha e os seres humanos.

O estudo mostrou um deslocamento do plâncton em direção aos dois polos nas últimas décadas, já que as correntes oceânicas mudam, e muitos animais marinhos se dirigem para zonas mais frias.

O plâncton que vive em águas mais quentes está substituindo o das águas frias, com frequência com ciclos sazonais diferentes. Isso forçando as espécies que dele se alimentam a se adaptarem, ou irem embora.

"A grande preocupação é quando a mudança é tão rápida que o ecossistema não consegue se recuperar", disse Oster à AFP.

O aumento da temperatura dos oceanos pode provocar "o colapso de pesqueiros inteiros", explica, lembrando que quase metade da humanidade tem o peixe como principal fonte de proteína.

- Produz oxigênio e armazena CO2 -

O fitoplâncton, por sua vez, contribui para que os oceanos produzam metade do oxigênio da Terra e, ao mesmo tempo, armazenem pelo menos 25% do CO2 emitido pelos combustíveis fósseis queimados pelo homem.

Quando o plâncton e seus predadores morrem e fundem no fundo do mar, levam com eles o carbono que armazenaram.

Mas as mudanças climáticas estão exercendo pressão sobre este ecossistema, com o aumento da temperatura do mar, a diminuição dos nutrientes que chegam do fundo até a superfície e o aumento da acidificação das águas.

O aquecimento "está expondo os ecossistemas oceânicos e costeiros a condições sem precedentes em séculos e milênios, com consequências para as plantas e os animais que habitam os oceanos do mundo todo", afirmam especialistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) da ONU, no rascunho de um relatório a ser publicado em 2022. Neste documento, advertem sobre seu "impacto crescente na vida marinha".

A previsão é de que a biomassa média do plâncton, que mede o peso, ou a quantidade total destas criaturas no planeta, deva diminuir entre 1,8% e 6%, em função do nível de emissões de gases de efeito estufa e das mudanças climáticas.

Devido à sua grande importância, porém, até mesmo uma redução modesta do plâncton pode afetar o ciclo de alimentação marinha e provocar uma redução da vida nos oceanos de entre 5% e 17%.

Também podem haver "mudanças no ciclo do carbono e no sequestro de carbono, já que nosso plâncton muda", e um plâncton menor poderá absorver menos C02, afirma a especialista Abigail McQuatters-Gollop, da Universidade de Plymouth, no sudoeste da Inglaterra.

No momento em que os líderes mundiais se preparam para se reunir na COP26 em Glasgow, este é um claro exemplo de como a aceleração dos impactos da ação humana está desestabilizando os intrincados ecossistemas que sustentam a vida.

- Pensar no micro -

A solução para essa questão não é tão fácil quanto plantar árvores, diz McQuatters-Gollop, mas uma pesca sustentável, a redução de poluentes e a diminuição das emissões de CO2 podem ajudar a melhorar a saúde dos oceanos.

No passado, a proteção do meio ambiente se concentrou em "coisas grandes, bonitas, ou com valor monetário direto", como baleias, tartarugas, ou bacalhau, lembrou.

A questão é que tudo isso depende do plâncton.

Assim como as plantas terrestres, o fitoplâncton precisa de nitratos, fosfatos e ferro para crescer. O excesso de nutrientes podem, no entanto, causar desastres ambientais. Foi o caso da Turquia neste verão (inverno no Brasil), quando o litoral foi invadido por um "muco marinho", que bloqueou a luz solar e privou flora e fauna submarinas de oxigênio.

Visíveis do espaço, as eflorescências de plâncton podem ser alimentadas por tempestades de areia ou por erupções vulcânicas. Este fenômeno natural inspirou David King, fundador do grupo Climate Repair, de Cambridge, a fertilizar o plâncton mediante a dispersão de ferro na superfície da água.

Sua teoria é que isso não apenas ajudaria a absorver mais C02, mas também levaria a um aumento da vida no oceano, inclusive contribuindo para ajudar a aumentar as populações de baleias devastadas pela caça.

- Muito a aprender -

Mais baleias equivalem a mais excrementos, que estão repletos dos nutrientes de que o plâncton precisa para florescer. King espera que isso possa restaurar uma "maravilhosa economia circular" nos mares.

Um projeto piloto testará essa técnica em uma zona do Mar da Arábia, cuidadosamente lacrada em um "imenso saco plástico". King reconhece, porém, que a ideia pode ter consequências não desejadas: "não queremos desoxigenar os oceanos e tenho bastante certeza de que não faremos isso".

Os organismos oceânicos estão há milhares de milhões de anos fazendo fotossíntese, muito antes do que as plantas terrestres. Mas ainda temos muito a aprender sobre eles.

Foi somente na década de 1980 que os cientistas deram um nome à bactéria planctônica prochlorococcus, hoje considerada o mais abundante fotossintetizador do planeta.

Os cientistas usaram os dados obtidos pelo CPR para olhar para trás e rastrear as mudanças climáticas. O equipamento também teve um papel importante no reconhecimento dos microplásticos que poluem os mares.

Ostle usou os registros destes navios para mostrar que os "macroplásticos", como sacolas de supermercado, já estavam nos mares na década de 1960.

Da embarcação em Plymouth, a água parece tranquila, enquanto a luz do sol desliza por sua superfície. Mas cada gota é cheia de vida.

"Há toda uma galáxia de coisas acontecendo lá embaixo", diz a cientista.


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