"Como seria bom se aquela CPI tivesse fazendo algo de produtivo para o nosso Brasil. Tomaram o tempo de nosso ministro da Saúde, de servidores, de pessoas humildes e de empresários. Nada produziram a não ser o ódio e o rancor entre alguns de nós", declarou o presidente durante ato oficial no Ceará.
"Mas nós sabemos que não temos culpa de absolutamente nada. Sabemos que fizemos a coisa certa desde o primeiro momento", insistiu horas após a apresentação do relatório que atribui a ele, a ministros e a três de seus filhos várias responsabilidades na crise de saúde que deixou mais de 600 mil mortos no Brasil.
Após seis meses de sessões, o relator da CPI, senador Renan Calheiros, concluiu que o governo federal expôs "deliberadamente a população ao risco concreto de infecção em massa", o que o levou a pedir o indiciamento de Bolsonaro e outras 67 pessoas.
Além de "atraso deliberado" na compra de vacinas, "se comprovou a existência de um gabinete paralelo, a intenção de imunizar a população por meio do contágio natural, se deu prioridade a um tratamento precoce sem base científica e foram desestimuladas as medidas não farmacológicas", como uso de máscara e distanciamento, afirma o relatório.
A CPI não tem poder de fazer denúncias formais, mas seu relatório será enviado a diferentes órgão que podem prosseguir com as investigações e apresentar acusações, como a Procuradoria Geral, o Tribunal de Contas da União ou um tribunal internacional.
O resumo do relatório será lido nesta quarta-feira e votado pelos 11 integrantes na próxima semana.
Renan Calheiros anunciou na noite de terça que apresentaria as acusações, entre elas as de "crime contra a humanidade" e "prevaricação".
Os crimes de "homicídio" e "genocídio de indígenas" foram retirados no último minuto devido a dissensos no âmbito da CPI.
Para a CPI, o governo Bolsonaro agiu com "dolo", tendo decidido intencionalmente não adotar as medidas necessárias para conter a circulação do vírus.
As acusações gravíssimas devem, no entanto, ter um alcance sobretudo simbólico por enquanto, uma vez que o presidente se beneficia de apoios no Congresso que lhe permitem evitar a abertura de um processo de impeachment. O mesmo vale para o procurador-geral da República, Augusto Aras, um aliado de Bolsonaro, que pode barrar qualquer indiciamento.
RIO DE JANEIRO