Previsto no pacto de coalizão assinado no final de 2019 pelo Partido Socialista do presidente de Governo, Pedro Sánchez, e a esquerda radical do Podemos, o texto deste projeto, que busca conter os preços dos aluguéis, havia sido anunciado para o início do ano.
Mas as negociações foram estendidas por desacordos sobre a delicada questão da regulamentação dos aluguéis, fortemente defendida pelo Podemos. Esta formação acabou vencendo, em troca do apoio ao projeto de orçamento para 2022, aprovado nesta quinta-feira em Conselho de Ministros.
"Tem sido uma negociação complicada", reconheceu a ministra dos Direitos Sociais e secretária-geral do Podemos, Ione Belarra. Mas "entre proteger as pessoas e os grandes proprietários e promotores, sabemos a resposta", disse.
Os preços dos aluguéis aumentaram fortemente nos últimos anos na Espanha, devido à escassez de oferta. De acordo com o portal especializado Idealista, o preço do metro quadrado dos imóveis para locação aumentou 40% entre janeiro de 2011 e janeiro de 2021.
Esta escalada colocou muitos inquilinos em dificuldades, que perceberam como devem dedicar cada vez mais seu orçamento à habitação. Segundo a OCDE, os 20% mais modestos destinam pelo menos 40% de sua receita a esse item.
- Incentivos fiscais -
Para conter essa tendência, a lei habitacional prevê uma mistura de incentivos e coerção. Pretende-se que o acesso à habitação "seja um direito" e não "se especule", afirmou a ministra das Finanças, María Jesús Montero.
A medida que mais tem atraído a atenção visa os grandes proprietários, as pessoas físicas ou jurídicas que alugam mais de dez casas.
Para os pequenos proprietários, a maioria no mercado espanhol, os preços continuarão livres. Mas haverá incentivos fiscais, como a possibilidade de redução de impostos em até 90% para quem concordar em baixar os aluguéis que cobram.
Nas áreas "estressadas", as autoridades locais terão a possibilidade de regular os aluguéis com base em critérios definidos pelo Estado. Também poderiam aumentar o imposto sobre imóveis (IBI) para casas vazias em até 150%, para incentivá-las a serem alugadas.
O governo, que se comprometeu a construir cerca de 20 mil habitações sociais, anunciou um bônus de 250 euros ($ 290) por mês para ajudar com o aluguel pessoas com entre 18 e 35 anos que ganham menos de 23.725 euros (pouco mais de 27.000 dólares) por ano.
Se aprovada no Congresso, a aplicação da lei pode enfrentar grandes obstáculos. Por exemplo, a especificação de várias medidas dependerá de regiões e prefeituras, e boa parte deles, onde a oposição governa, já anunciou que não o fará.
"Somos a favor de que as pessoas façam o que quiserem com o que é delas", disse o chefe do Partido Popular (PP, à direita), Pablo Casado, atacando um governo que em sua opinião "ataca a liberdade, a propriedade privada".
O líder do principal partido da oposição, que denuncia um "intervencionismo suicida", anunciou que vai recorrer do texto, ainda não divulgado, no Tribunal Constitucional.
Twitter
MADRI