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Estado de Minas PARIS

Falsa reportagem fotográfica alerta para manipulação de imagens


07/10/2021 11:13

"Veles" é um nome ligado à desinformação: uma cidade da Macedônia do Norte que se tornou o centro de produção mundial de "fake news". Isso motivou o fotógrafo Jonas Bendiksen a explorar os limites da imagem, inventando uma reportagem que conseguiu passar pelos filtros de verificação de sua profissão.

Em agosto de 2016, o jornal britânico The Guardian revelou que havia identificado dezenas de sites falsos de informação pró-Trump e mais de 150 domínios na web registrados na pequena cidade de Veles, na Macedônia do Norte.

Após a eleição de Trump, a atenção midiática internacional se voltou para esta cidade de 44.000 habitantes, transformada em um centro mundial de produção de "fake news".

A tecnologia "deepfake" abriu a possibilidade de criar imagens do zero graças à inteligência artificial. Por isso, com 20 anos de experiência nas costas, o fotojornalista norueguês da Agência Magnum, Jonas Bendiksen, "começou a ter problemas para diferenciar as imagens artificiais das imagens reais", contou ele em uma entrevista à AFP.

Brincando com a história da cidade e a mitologia em torno de um deus eslavo chamado "Veles" (associado à magia, riqueza e conhecido pelo seu humor brincalhão), Bendiksen publicou em abril de 2021 "The Book of Veles", uma fotorreportagem em forma de livro, cujos protagonistas são pessoas criadas em 3D.

O norueguês esperou meses para que sua fraude fosse descoberta. Queria provocar uma reflexão sobre o perigo das imagens manipuladas, mas como ninguém descobria, Bendiksen decidiu apresentar seu trabalho no renomado festival francês de fotojornalismo "Visa pour l'image" em Perpignan (sul). E foi aceito.

- "Pequeno Frankenstein" -

"Comecei a refletir sobre o quão próximos estávamos do momento em que alguém poderia, sem necessidade de formação prévia, fabricar sozinho imagens artificiais que passariam por qualquer filtro" entre os profissionais do fotojornalismo.

"Rapidamente vi que a resposta para esta pergunta era assustadora. Sendo assim, quis fazer um teste".

Em uma entrevista na sede da Agência Magnum, Jonas Bendiksen detalhou como usou programas de computador do mundo dos jogos e do cinema para criar suas personagens artificiais e dar um aspecto humano a elas.

Também visitou Veles duas vezes para fotografar espaços e paisagens vazias onde poderia colocar suas personagens. Pouco a pouco, durante o confinamento pela pandemia de covid-19, foi criando essas imagens falsas e usou até um programa de inteligência artificial para escrever os textos que acompanham seu livro.

"Era como ver meu pequeno Frankenstein" se erguer pouco a pouco, lembra ele.

A verdade não foi revelada até 17 de setembro, quando anunciou sua falsificação em uma entrevista publicada no site da Magnum.

"Meu público é provavelmente formado pelas pessoas que mais conhecem o material visual: fotógrafos, editores de imagem, conservadores de arte. E eles não reagiram quando viram a obra. Chegamos a um ponto em que a informação artificial pode enganar até o olho mais perspicaz", afirma.

Para Olivia Arthur, presidente da Magnum, a iniciativa de Bendiksen levanta um debate: "Ele provou que uma informação falsificada 'bem feita' pode convencer quase todo o mundo, aí está o perigo".


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