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Estado de Minas CABUL

Polícia do Talibã aprende o ofício em Cabul


06/10/2021 09:44

Rahimullah passou 13 anos nas fileiras da insurgência talibã. Hoje, com sua patrulha de policiais, deve ficar de guarda em um posto de controle ou patrulhar as ruas de Cabul para pegar "ladrões, assassinos ou aqueles que bebem vinho".

Como o restante do movimento talibã, este ex-combatente vive a transição de um cotidiano repleto de violência, guerra e insurreição para os desafios de governar um país.

O policial dirige "uma viatura e oito homens" encarregados de manter a ordem e reprimir pequenos criminosos no setor denominado "Distrito Policial 10", no centro da capital afegã.

"O trabalho não é arriscado", considera o homem de 28 anos. "Era realmente perigoso lutar", insiste este jovem da província de Wardak, no oeste de Cabul.

Lá, ainda adolescente, juntou-se às fileiras do Talibã "pelo Islã e por seu país".

A "polícia talibã" tem 4.000 soldados na cidade, explica Afez Sirajuddin Omeri, um porta-voz da polícia em Cabul, sentado ao redor de um velho e empoeirado Corolla, com o rádio transmitindo cânticos religiosos.

"Com o governo anterior, eram 300 ou 400 crimes denunciados diariamente, hoje, recebo cerca de 15", diz o funcionário em um balanço impossível de verificar.

- Avisos contundentes -

O movimento islâmico, que aplica uma das visões mais fundamentalistas da sharia, liderou um reinado de terror entre 1996 e 2001, com apedrejamentos, execuções públicas em estádios, mãos cortadas ou chicotadas na rua.

Vinte anos depois, no início de seu segundo mandato, essas medidas brutais ainda não estão na ordem do dia, embora o Talibã tenha enviado alguns avisos contundentes.

Quatro cadáveres de sequestradores foram pendurados em um guindaste em Herat (oeste) e em Cabul ladrões com rostos pintados de preto foram exibidos.

No entanto, os habitantes da capital reconhecem que em poucas semanas o número de roubos e sequestros diminuiu.

Parar veículos, abrir porta-malas, interrogar motoristas... Na patrulha, alguns policiais ainda procuram seu lugar.

Muitos ficam maravilhados com o espetáculo da capital, distante de seu estilo de vida nas áreas rurais mais conservadoras.

- Deserção de antigos agentes -

Na polícia talibã, os uniformes não consistem em calça e colete, mas em um manto tradicional afegão. Mas de tecido azul militar, cor do uniforme de seus antecessores.

Pouco resta do antigo corpo de segurança, implantado e formado pelas forças internacionais. Com a chegada do Talibã há sete semanas, a maioria dos agentes desertou.

Temendo represálias, muitos ex-altos funcionários se esconderam ou fugiram do país, especialmente as poucas mulheres formadas na polícia.

O porta-voz do ministério do Interior, Qari Sayed Khosti, os convida a retomar seus cargos porque "eles conhecem o trabalho", explica.

"Há um programa de capacitação permanente e haverá profissionais em todas as áreas", diz o ministro.

Manter a ordem, a segurança, combater a corrupção e proteger os civis estão entre as principais promessas do Talibã.

Mawlawi Shaker, de 34 anos, comandante do 10º distrito de Cabul, lidera 200 homens e lida com "problemas de segurança, disputas judiciais e incidentes criminais".

"Não é nosso trabalho favorito, mas é nossa responsabilidade", admite o comandante com um grande turbante preto em sua delegacia.

Na parede ainda está o emblema da antiga polícia e, ao lado, a bandeira do Talibã.

É um desafio para os jovens recrutas passar de uma vida cheia de extrema violência para a manutenção da ordem.

De seu posto de controle a oeste de Cabul, Yahya Mansoor, de 25 anos, diz que não sente falta dos combates, mas sente falta do espírito da "luta santa".

Mas ele e seus colegas estão ali "para servir o povo". "Antes nós servianos à jihad, agora estamos construindo nosso país", diz ele.


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