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Estado de Minas ARICA

Haitianos e venezuelanos cruzam caminhos na fronteira entre Chile e Peru


01/10/2021 17:32

Em um deserto à beira do Pacífico, uma patrulha noturna na fronteira entre Chile e Peru esbarra nos dois fluxos migratórios que abalam a América Latina: haitianos que voltaram atrás e abortaram a viagem aos Estados Unidos, e venezuelanos que imploram para entrar no Chile.

A frustração dos haitianos que retornam ao Chile contrasta com a ilusão dos venezuelanos que tentam pegar um ônibus que os levará 2.000 km ao sul, até a capital chilena.

"Temos nossa residência e nosso filho é chileno, estou voltando para retomar meu trabalho", diz o jovem Isaiah, haitiano. Ele e a mulher, com um bebê adormecido nos braços, acabam de desembarcar da caminhonete dos Carabineiros do Chile, no complexo fronteiriço de Chacalluta. Foram surpreendidos quando adentravam o território chileno a pé, por uma passagem não autorizada perto da praia.

A polícia chilena na fronteira observa uma mudança no fluxo migratório dos haitianos: nos últimos meses, encontrava grupos de até 50 pessoas saindo do país, disse à AFP o major Patricio Aguayo, chefe da 4ª Delegacia de Chacalluta. "Mas essas tentativas de saída pararam, e" agora temos visto cidadãos haitianos que retornam de avião a Santiago."

"Presumimos que isso tenha a ver com o fato de que os estão devolvendo dos Estados Unidos e de que há muitos bloqueados na Colômbia", acrescentou o capitão Giovanni Tamburrino.

Preocupados e tristes, os haitianos passam horas no aeroporto ou na rodoviária de Arica em busca de passagens para diferentes destinos do centro e sul do Chile. Já os venezuelanos chegam ao país cheios de otimismo.

A venezuelana Diathnys P., uma enfermeira de 38 anos, acaba de ser surpreendida pela patrulha com seis compatriotas, muito perto de onde uma viatura da polícia peruana prendeu outros sete. "Sempre quis emigrar para o Chile, para ter uma qualidade de vida melhor", contou à AFP, tremendo de frio.

Como muitos venezuelanos na fronteira com o Chile, Diathnys acabou de passar três anos no Peru, mas, "depois que Pedro Castillo conquistou a presidência, o preço da comida aumentou, muitas coisas saíram do controle e praticamente não quero viver a mesma situação que vivi na Venezuela", diz a enfermeira, ansiosa para chegar à casa da irmã em Santiago.

- Sem visto e sem emprego -

Um funcionário do aeroporto confirmou que há seis meses começaram a chegar a Arica voos repletos de haitianos que queriam deixar o Chile, mas, "desde a semana passada estão mais voltando". "Viemos para Arica de férias", "Tenho família aqui", disseram 20 homens e mulheres haitianos entrevistados pela AFP. Todos se recusaram a ser filmados ou gravados.

Javiera Cerda, chefe do Serviço Jesuíta a Migrantes (SJM) em Arica, confirmou que, até agosto, houve uma saída numerosa de haitianos para o Peru.

Embora cruzar a fronteira por Arica seja mais simples do que pelos Andes, existe um complexo fronteiriço que trabalha em coordenação com a parte peruana, e é uma área historicamente vigiada também pelo Exército.

"Não vou deixar o Chile, mas está muito difícil. Tínhamos trabalho e ia bem, até que deixaram de renovar meu visto. É impossível ser legalmente empregado assim", queixa-se o mecânico Gustave R., 36, que vive há quatro anos em Villa Alemana (centro), onde ganhava quase mil dólares por mês.

A demora na regularização de estrangeiros no Chile afetou haitianos e venezuelanos, mas também cônjuges estrangeiros de chilenos ou empreendedores europeus com visto vencido, que não podem fazer operações bancárias, por exemplo.

Após a destruição do Haiti pelo terremoto de 2010, o Chile acolheu 200.000 haitianos, no momento em que era reconhecido como país mais próspero da América Latina. Em 2018, o atual governo de Sebastián Piñera implementou um visto de turismo emitido em Porto Príncipe, o que deteve a chegada de imigrantes a partir do Haiti.

Os haitianos tentaram deixar o Chile em busca de um futuro melhor, e agora voltam com pouca esperança. "Trabalhar sem papéis é muito ruim, e é um país muito caro", explica Bethany, 26, que afirma ter viajado a Arica para visitar amigos.


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