"Temos um entendimento! Depois de dois dias de intensas negociações, acaba-se de chegar a um acordo sobre a desescalada e sobre o caminho a seguir", tuitou Lajcak.
De acordo com o representante da UE, as forças policiais mobilizadas nas proximidades das duas passagens de fronteira bloqueadas há vários dias serão removidas, simultaneamente, a partir de 2 de outubro.
Em seu lugar, ficarão representantes da KFOR, a força da Organização do Tratado do Atlânticob Norte (OTAN) responsável pela segurança de Kosovo desde 1999.
Esta semana, a região fronteiriça entre Sérvia e Kosovo foi palco das maiores tensões já registradas em uma década.
A Sérvia não reconhece a independência de Kosovo, sua ex-província, e as relações bilaterais continuam sendo extremamente delicadas.
Em 20 de setembro, Kosovo enviou unidades da polícia especial para o norte do país, uma região de maioria sérvia, para supervisionar a decisão do governo kosovar de proibir placas sérvias de automóveis no território.
De acordo com o governo de Pristina, esta é uma medida de reciprocidade, pois na Sérvia os automóveis com placas da "República de Kosovo" devem utilizar placas temporárias sérvias para poder circular.
Furiosos, centenas de afetados bloquearam, em represália, as estradas que levam aos dois postos de fronteira da região, Jarinje e Brnjak.
- Mobilização da KFOR -
A Sérvia reagiu, elevando o nível de alerta de seu Exército e mobilizou tanques perto da fronteira, enquanto seus aviões de caça sobrevoavam a região pela primeira vez desde a guerra entre separatistas e kosovares e forças sérvias (1998-1999).
Segundo o acordo alcançado em Bruxelas - que durante uma década impulsionou um diálogo que supostamente normalizaria as relações entre esses dois velhos inimigos -, Kosovo concordou em retirar suas forças especiais da polícia da região a partir de sábado (2).
Ao mesmo tempo, as barricadas erguidas pelos sérvios serão desmontadas.
A KFOR será enviada para a área fronteiriça por duas semanas para garantir "um ambiente seguro e a liberdade de circulação".
Ambas as partes também decidiram aplicar uma solução temporária para o problema das placas de registro. Trata-se da entrada em vigor de um acordo antigo nunca aplicado, o qual prevê que os motoristas de ambos os lados cubram os símbolos de soberania em suas placas com adesivos. As futuras negociações devem culminar em um acordo definitivo.
O presidente sérvio, Aleksandar Vucic, que recebeu em seu país a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, mencionou uma "grande vitória".
"Desta maneira, garantimos a livre-circulação de mercadorias e de pessoas, mantemos a paz e a estabilidade", destacou, em conversa com a imprensa.
Por sua vez, o primeiro-ministro de Kosovo, Albin Kurti, também considerou que este acordo é benéfico. "A reciprocidade sobre as placas de registro foi estabelecida", afirmou.
- "Resta muito a resolver" -
Von der Leyen elogiou este "desenvolvimento positivo" da situação, que é algo "bom para toda região".
"O diálogo agora deve continuar", frisou.
Ainda assim, o emissário americano para os Balcãs ocidentais, Gabriel Escobar, alertou: "ainda restam muitas coisas" a serem resolvidas entre ambas as partes.
A última explosão das tensões entre Kosovo e Sérvia, a pior em vários anos, diz respeito à questão delicada dos 120.000 integrantes da minoria sérvia em Kosovo.
Muitos rejeitam jurar fidelidade às autoridades de Pristina e são leais à Sérvia, sua "pátria", e ao presidente Vucic.
Esses vínculos são especialmente fortes entre os 40.000 sérvios do norte de Kosovo, devido à proximidade geográfica com Belgrado, que os ajuda, em grande parte.
Nas barricadas de caminhões, que bloqueavam as estradas que levam para esses dois postos de fronteira, a situação estava bem mais tranquila nesta quinta-feira, segundo uma correspondente da AFP.
"É bom que (as forças policiais especiais de Kosovo) se retirem. Nós também vamos fazer isso. Não é um problema", afirmou Iván, de 33 anos.
Kosovo, que declarou sua independência em 2008, é reconhecido por cerca de 100 países, mas não por Belgrado, que conta com o apoio de Moscou e Pequim.
JARINJE