Embora tenham sido declarados trabalhadores essenciais durante a pandemia, eles não têm acesso a banheiro, não têm salário mínimo ou seguro saúde e são repetidamente alvos de crimes. Algo que agora procuram mudar.
Os entregadores começaram a se organizar na Big Apple há menos de um ano, seguindo os passos dos motoristas de Uber no Reino Unido, que em maio conquistaram o direito de se sindicalizar após serem reconhecidos como "assalariados", um feito inédito mundial.
Em poucos meses, o primeiro movimento de entregadores independentes de aplicativos de entrega de comida, "Los Deliveristas Unidos", composto em sua maioria por imigrantes hispânicos, já conta com mais de 1.000 membros oficiais, mais de 13.000 seguidores em sua página no Facebook e inúmeros chats no WhatsApp.
Eles organizaram grandes protestos em frente à prefeitura e, com a ajuda de um grupo de vereadores, conseguiram que o Legislativo municipal debatesse seis projetos de lei que poderiam melhorar significativamente suas condições de trabalho.
"Exigimos melhorias nos aplicativos. A vida na rua é dura, estamos expostos à insegurança, acidentes, roubos, injustiças, discriminação", disse à AFP Gustavo Ajche, entregador guatemalteco de 38 anos, cofundador do Los Deliveristas Unidos.
"Queremos ser respeitados. Não ganhamos nem o salário mínimo de US$ 15 a hora", disse outro líder, Jonán Mancilla, entregador mexicano de 33 anos.
Cerca de 200 entregadores ser reuniram em uma praça no bairro de Washington Heights em um domingo para registrar suas bicicletas na polícia, consertar freios e pneus de graça, receber um pequeno dispositivo com GPS para "rastrear" seu veículo em caso de roubo e descobrir mais sobre o movimento.
- "Parem os roubos" -
Vários disseram à AFP que quase todos os aplicativos para os quais trabalham - Grubhub, Doordash, Seamless, Uber Eats, Instacart, PostMates, Caviar e outros - os contratam de forma independente e não são pagos por hora, mas por entrega (quatro dólares cada, mais a gorjeta). Apenas o Relay paga US$ 10 por hora.
Eles denunciam que às vezes os aplicativos ou restaurantes ficam com uma parte das gorjetas, que têm que percorrer longas distâncias por apenas alguns dólares, que as empresas não os ajudam caso se machuquem ou morram, não cobrem as despesas com suas bicicletas e nem mesmo a bolsa térmica onde transportam os alimentos.
"Às vezes os restaurantes não deixam a gente ir ao banheiro e temos que procurar alguém que nos dê permissão, isso nos faz perder muito tempo e com entregas", reclama Orquídea Paz, entregadora mexicana de 27 anos, com um capacete rosa, mãe de quatro filhos - três deles no México, exceto o mais novo, de três meses.
"Trabalho 15 horas por dia, sete dias por semana. Não descanso porque tenho uma família para alimentar", explica seu marido, Aristeo Policao, outro entregador de 32 anos.
Os entregadores também exigem que a cidade combata o roubo de bicicletas elétricas, que custam em média 1.850 dólares.
Os projetos de lei em estudo contemplam acesso aos banheiros dos restaurantes onde fazem a retirada de uma entrega, a fixação de pagamentos mínimos para viagens, excluindo gorjetas, e a obrigação aos aplicativos de revelar o detalhamento das gorjetas.
Também preveem o pagamento semanal dos entregadores, a compra das suas bolsas térmicas e a possibilidade dos trabalhadores definirem uma distância máxima de entrega, sem serem bloqueados pelos aplicativos.
Contatado pela AFP, o Grubhub negou que se apropria de gorjetas e disse não ter números sobre quantos entregadores emprega ou seus salários médios.
O Doordash garantiu que paga aos entregadores 100% de suas gorjetas, que se reuniu várias vezes com eles para ouvir suas reclamações e que atua "para melhorar as condições de trabalho".
Outros aplicativos, como Seamless ou Uber Eats, não responderam ao pedido de comentários feito pela AFP.
NOVA YORK