Um rascunho das conclusões dessa cúpula, negociado por diplomatas e ao qual a AFP teve acesso, menciona a necessidade de dialogar com a Rússia sobre questões de interesse comum, mas o documento continha numerosos parágrafos entre parênteses, indicando a falta de consenso.
Entre os interesses comuns, menciona-se questões gerais, como ações contra as mudanças climáticas, cooperação transfronteiriça, questões energéticas, ou a luta contra o terrorismo e o crime organizado. Considera-se, ainda, a possibilidade de coordenar posições em relação à Síria e à Líbia.
Há uma semana, o chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, propôs um novo plano estratégico para as relações com a Rússia, baseado nos conceitos de "responder, conter e dialogar" com Moscou.
Nesta quinta-feira, a chefe do governo alemão, Angela Merkel, defendeu abertamente a necessidade de intensificar o diálogo com a Rússia por meio do "contato direto".
"Não basta que o presidente dos Estados Unidos converse com o presidente russo. Fiquei feliz com isso, mas a União Europeia também deve encontrar formas de negociar" com Moscou, disse.
Para Merkel, "a melhor maneira de resolver conflitos é falar".
- Falta de consenso -
Em resposta, o porta-voz do governo russo, Dmitri Peskov, assegurou que o presidente Vladimir Putin é a favor de uma melhora nas relações com o bloco.
"Recebemos esta iniciativa com prazer. Putin é um defensor da criação de um mecanismo para um diálogo e contatos entre Bruxelas e Moscou", declarou o porta-voz.
Ao chegar a Bruxelas, o presidente da França, Emmanuel Macron, defendeu, por sua vez, um "diálogo exigente" com a Rússia para preservar a estabilidade europeia.
"Acredito que seja o método certo", acrescentou o presidente.
A questão dos contatos de alto nível com a Rússia parece, porém, distante de um consenso entre os países europeus.
Os países bálticos, Polônia, Suécia e Holanda já deixaram clara sua oposição a um diálogo direto com o governo russo, considerando que Moscou mantém atitudes agressivas para com os países vizinhos.
O presidente da Lituânia, Gitanas Neuseda, declarou nesta quinta-feira que "devemos ser prudentes".
Enquanto isso, Kaja Kallas, primeira-ministra da Estônia, disse que queria ouvir os argumentos em favor de um diálogo direto para saber "o que mudou desde a nossa última cúpula".
"Pessoalmente, não acho que seja o momento de reuniões no nível de liderança. Por que? O que mudou? As condições que concordamos em seguir em 2014 não foram cumpridas", justificou.
O primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, afirmou que não se oporá a uma reunião dos líderes das instituições europeias com Putin, mas antecipou que não participará dela.
- Relações em crise -
Borrell recebeu nesta quinta-feira o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, que, ao deixar a reunião, comentou que a ideia de retomar as cúpulas entre a Europa e a Rússia era um "desvio perigoso".
"Iniciativas para retomar as cúpulas da UE com a Rússia sem ver qualquer progresso da Rússia serão um desvio perigoso da política de sanções da UE", expressou Kuleba.
As relações entre a UE e a Rússia ruíram em 2014, na sequência do conflito armado na Ucrânia e da subsequente anexação da região da Crimeia ao território russo.
Desde então, as relações foram agravadas pela condenação do opositor russo Alexei Navalny, e a UE adotou sanções contra funcionários de alto escalão de Moscou. O gesto levou a sanções retaliatórias por parte da Rússia aos cidadãos europeus.
Uma das principais críticas da UE ao atual governo russo é a recusa a dialogar com as instituições europeias e, em vez disso, manter contatos separados com países específicos.
BRUXELAS