Jornal Estado de Minas

PARIS

Julgamento na França chama atenção para fenômeno de assédio virtual em grupo

Um grupo de jovens está sendo julgado em Paris por ter perseguido virtualmente ou ameaçado de morte uma adolescente, Mila, que publicou vídeos polêmicos sobre o Islã, e informou não ter conhecimento de ter participado de uma "caçada" digital.



Treze acusados, entre 18 e 30 anos, a maioria sem antecedentes judiciais, compareceram nesta segunda-feira (21) a um tribunal penal da capital francesa para responder por assédio, em alguns casos acompanhado de ameaças, cujo andamento irá até terça-feira.

O caso remonta a janeiro de 2020, quando Mila, uma francesa de 16 anos, postou um vídeo que se tornou viral no qual chamava o Islã de religião "de merda" e criticava fortemente o Alcorão.

De acordo com seu advogado, ela recebeu mais de 100.000 mensagens de ódio e ameaças de morte desde que publicou o vídeo, motivo pelo qual foi colocada sob proteção policial. Em meados de novembro, ela postou outro vídeo em que atacava seus detratores diretamente.

Como resultado das mensagens e ameaças, a jovem foi obrigada a deixar a escola e, desde então, está fora do ambiente escolar porque nenhum local a aceita como nova aluna.

Um dos acusados, um estudante de inglês de 21 anos, tuitou em 16 de novembro: "Alguém abra seu crânio, por favor".



"Cansei de ver o nome dela o tempo todo na minha linha do tempo, embora ela não me interesse", justificou-se.

"Na época, eu não sabia que estava sendo assediada. Foi estúpido e eu deveria ter pensado nisso", disse ele.

Outro acusado, de 22 anos, tuitou em novembro: "Você merece que te degolem, sua puta suja", e comentou ter reagido "de forma raivosa".

"Você sempre tem que pensar duas vezes antes de tuitar", admitiu, se desculpando à jovem no tribunal.

Enquanto isso, Mila, presente na sala, não escondia sua irritação. Quando chegou sua vez, ela denunciou que esses ataques verbais eram "totalmente injustificáveis" e se recusou a pedir desculpas aos autores dos comentários.

"Não ameacei matar alguém porque me falam algo de que não gosto", declarou. "Nada pode desculpar palavras tão criminosas e monstruosas", acrescentou.

Por sua vez, o presidente do tribunal lançou a reflexão: "Somos ao menos responsáveis por algo que fizemos sem pensar?".

Os acusados podem ser condenados a até três anos de prisão e a uma multa de EUR 45.000.

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