Jornal Estado de Minas

GENEBRA

OMS alerta que coronavírus ainda circula mais rápido do que vacinas

Um vírus que circula mais rápido que as vacinas, promessas insuficientes do G7, pouco apoio financeiro internacional... A Organização Mundial da Saúde (OMS) pediu nesta segunda-feira (14) uma grande solidariedade para erradicar a pandemia.



Na cúpula deste final de semana na Inglaterra, os dirigentes do G7 anunciaram a doação de 1 bilhão de doses - das quais 870 milhões de doses se somam aos compromissos assumidos desde fevereiro - de forma direta ou em ajuda financeira ao sistema de distribuição Covax.

"Precisamos de mais, e mais rápido. Mais de 10.000 pessoas morrem todos os dias. Essas comunidades precisam de vacinas, e precisam delas agora, não no ano que vem!", insistiu o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, em uma entrevista coletiva.

"Neste momento, o vírus está se movendo mais rápido do que a distribuição global de vacinas", lamentou.

Se uma parte da população dos países ricos volta a ter uma vida normal graças à vacinação, o progresso ainda é frágil nos países menos privilegiados, em grande parte privados de doses.



O Covax distribuiu mais de 85 milhões de doses para 131 países e territórios em 14 de junho, muito menos do que o esperado.

ONGs e parceiros da OMS também estão preocupados.

"Precisamos de mais clareza sobre o número real de doses administradas e o tempo exato que levará para que suas promessas se concretizem", comentou à AFP Yuanqiong Hu, de MSF.

A OMS quer que pelo menos 70% da população mundial seja vacinada até a próxima reunião do G7 na Alemanha, no próximo ano. "Para conseguir isso, precisamos de onze bilhões de doses", argumentou Tedros.

De acordo com Helen Clark, que co-preside um painel de especialistas para avaliar a gestão global da pandemia, os países de alta renda reservaram 4,3 bilhões de doses.

Mesmo com duas doses por pessoa, "ainda há dois bilhões de doses para redistribuir", disse o ex-primeiro-ministro da Nova Zelândia, pouco antes da cúpula do G7.

- Além das doses -

O compartilhamento de doses é, porém, apenas um dos eixos do plano de batalha do G7.



O documento final da Cúpula inclui uma série de compromissos para prevenir uma nova pandemia. Trata-se de reduzir o tempo de desenvolvimento de vacinas, tratamentos e diagnósticos, na esperança de que o mundo esteja pronto em menos de cem dias para enfrentar doenças súbitas.

Outro componente se concentrará no fortalecimento da vigilância sanitária e na implementação da reforma da OMS para torná-la mais poderosa.

Um árduo objetivo sem a China, que não aprecia o G7. Especialmente porque as decisões na OMS tendem a ser tomadas por consenso.

Ilona Kickbusch, fundadora do Centro de Saúde Global do Instituto de Pós-Graduação de Estudos Internacionais e de Desenvolvimento em Genebra, também é cética quanto ao desejo declarado do G7 de fortalecer a agência da ONU: "Vou acreditar nisso quando as contribuições à OMS forem aumentadas".



Para a Oxfam, é necessário antes de tudo resolver a questão da suspensão de patentes das vacinas, a fim de acelerar sua produção.

Opinião compartilhada pela Human Rights Watch (HRW), enquanto as negociações sobre o assunto acabam de ser iniciadas na Organização Mundial do Comércio (OMC), após meses de discussões.

Como explicou Aruna Kashyap da HRW à AFP, "focar nas vacinas e doar para instituições de caridade não é suficiente. O fracasso do G7 em apoiar inequivocamente uma renúncia temporária às regras globais de propriedade intelectual é um status quo assassino".

- 1% -

Para a OMS e seus parceiros, a questão dos fundos também é crucial para erradicar a pandemia.

Mais de 16 bilhões de dólares (13,2 bilhões de euros) ainda são necessários este ano para financiar o mecanismo internacional responsável por acelerar o acesso às ferramentas de combate à covid (ACT Accelerator) e, em particular, para apoiar a distribuição de tratamentos, oxigênio, testes e equipamento de proteção.

"Dezesseis bilhões representam menos de 1% do gasto anual com defesa militar no mundo. Certamente podemos gastar 1% desse valor para salvar vidas e acabar com esta pandemia", afirmou o diretor do programa de emergências de saúde da OMS, Michael Ryan, na conferência de imprensa.



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