Jornal Estado de Minas

ARGEL

Argelinos elegem deputados em clima de repressão

Os eleitores argelinos vão às urnas, neste sábado (11), para escolher seus deputados em eleições legislativas antecipadas, rejeitadas pelo movimento de protesto Hirak e por parte da oposição, em um contexto de repressão.



O nível de participação será decisivo, após as consultas eleitorais anteriores - a eleição presidencial de 2019 e o referendo constitucional de 2020 - marcadas por uma abstenção histórica.

A votação terminará às 19h00 (15h00 de Brasília) e os resultados oficiais não são esperados até domingo.

Como de costume, os eleitores não pareciam apressados esta manhã em Argel, onde o comparecimento é tradicionalmente baixo, de acordo com jornalistas da AFP.

"Nunca votei e desta vez será a mesma coisa. Não acho que as coisas possam mudar", disse à AFP Fatiha, uma comerciante de 50 anos.

"Votei pela estabilidade do país. Estamos cercados de perigo. Aqueles que rejeitam a votação não oferecem alternativa realista", defendeu Hamid, um executivo de 60 anos.

Em Kabylia, uma região rebelde onde a participação foi quase zero durante as consultas eleitorais anteriores, a grande maioria dos centros de votação não abriu em Béjaïa e Tizi Ouzou, de acordo com Saïd Salhi, vice-presidente da Liga Argelina para a Defesa dos Direitos Humanos (LADDH).



Esta são as primeiras legislativas desde o levante popular sem precedentes e pacífico, nascido em 22 de fevereiro de 2019 da rejeição de um 5º mandato do presidente Abdelaziz Bouteflika, que foi levado quase dois meses depois a renunciar após 20 anos de reinado.

Ao final de uma campanha apática, os partidos pró-governo apelaram à participação na votação, enquanto o Hirak, que clama, em vão, por uma mudança radical do "sistema" de governança em vigor desde a independência (1962), denunciou uma "farsa eleitoral". A oposição laica e de esquerda boicota a votação.

O regime está determinado a impor sua vontade eleitoral, ignorando as reivindicações do Hirak - Estado de direito, transição democrática, soberania popular, justiça independente.

"Para mim, o comparecimento não importa. O que importa é que aqueles em quem o povo vota tenham legitimidade suficiente", disse o presidente Abdelmadjid Tebboune, dizendo que estava "otimista" depois de ter votado em Argel.



Cerca de 24 milhões de argelinos são chamados a eleger os 407 deputados da Assembleia Nacional para um mandato de cinco anos. Eles devem escolher entre cerca de 1.500 listas, mais da metade das quais "independentes".

É a primeira vez que um número tão grande de independentes se apresenta contra candidatos endossados por partidos - amplamente desacreditados e responsabilizados pela crise no país.

Os vencedores das legislativas de 2017, a Frente de Libertação Nacional (FLN) e a Reunião Democrática Nacional (RND), associados à era de Abdelaziz Bouteflika, estão hoje desacreditados.

Com a aproximação das eleições, o chefe do Estado-Maior do Exército, o general Saïd Chengriha, advertiu contra "qualquer plano ou ação que vise perturbar" a votação.

Considerado a fachada civil da instituição militar, o governo tem feito esforços nos últimos meses para reprimir os protestos, proibindo manifestações e aumentando as prisões e processos judiciais contra opositores, ativistas, jornalistas e advogados.



Três figuras do Hirak presas na quinta-feira - o opositor Karim Tabbou, Ihsane El Kadi, diretor de uma estação de rádio, e o jornalista independente Khaled Drareni - foram libertados nesta madrugada.

Estimando já ter respondido às reivindicações do Hirak, o governo negou durante vários meses qualquer legitimidade a este movimento, que acusa de ser instrumentalizado por "partes estrangeiras".

"Estas eleições honestas e transparentes vão derrotar todas as maquinações diabólicas fomentadas (contra a Argélia)", assegurou neste sábado o porta-voz do governo, Amar Belhimer.

Cerca de 222 pessoas estão atualmente presas por atos relacionados ao Hirak liberdades individuais, de acordo com o Comitê Nacional para a Libertação de Detidos.

Para a organização Human Rights Watch, que denuncia uma "assustadora escalada repressiva", "as vagas promessas de abertura e diálogo do presidente (Abdelmadjid) Tebboune são estilhaçadas contra a realidade da repressão".

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