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Estado de Minas WASHINGTON

Nicarágua testa agenda democrática de Biden na América Latina


11/06/2021 17:19

A violenta repressão do governo nicaraguense à oposição representa um teste para o presidente americano, Joe Biden, que estabeleceu como prioridade máxima promover a democracia e prometeu uma abordagem nova e mais sensata sobre a América Latina, mas até agora se afastou pouco de seu antecessor, Donald Trump.

O país centro-americano tem apenas 6,5 milhões de habitantes, mas especialistas afirmam que a região estará observando atentamente se Biden será capaz de impor custos ao presidente nicaraguense, Daniel Ortega.

Autoridades leais a Ortega detiveram quatro personalidades políticas, excluindo-as das eleições de novembro, nas quais o presidente tentará um quarto mandato consecutivo.

As ações foram tomadas com uma audácia raramente vista nos últimos anos na América Latina, onde até mesmo na Venezuela, o líder da oposição, Juan Guaidó, atua livremente.

O governo Biden reagiu impondo sanções a quatro autoridades nicaraguenses, inclusive a filha do presidente. O Departamento de Estado americano disse considerar Ortega "um ditador" e prometeu aumentar a pressão.

Mas Trump também impôs sanções à Nicarágua, assim como medidas paralisantes na Venezuela, onde outro líder esquerdista, o presidente Nicolás Maduro, tem resistindo à campanha liderada pelos Estados Unidos há mais de dois anos.

Geoff Ramsey, do Washington Office on Latin America (WOLA), um grupo de pesquisas que promove os direitos humanos, disse que Biden ainda precisa demonstrar como irá "se diferenciar das bravatas de Trump".

"Durante a campanha, Biden criticou Trump por priorizar a retórica dura sobre a estratégia realista. Agora é o momento de a administração implementar uma estratégia inteligente que combine pressão direcionada com engajamento inteligente de uma forma que possa realmente fazer avanços", disse Ramsey.

Ivan Briscoe, diretor do programa para a América Latina do International Crisis Group, disse que a equipe de Trump errou na Venezuela ao fazer demandas impossíveis a Maduro, como que ele deixasse o poder. Algumas poucas autoridades desertaram, com o temor pelo futuro superando seu descontentamento.

"Se você introduz mais sanções à Nicarágua, precisa manter a janela aberta a negociações que não sejam apenas sobre Ortega, sua família e pessoas próximas se renderem e deixarem o poder", disse Briscoe.

"Porque se esta for a exigência, então claramente Ortega irá resistir".

- Consistência com Trump -

Como a Nicarágua é o segundo país mais pobre do Hemisfério Ocidental, Biden está certo em ser cauteloso sobre quaisquer medidas que possam provocar a migração - uma prioridade máxima para o governo, que enfrenta críticas em casa pelo fluxo de solicitantes de asilo provenientes de Guatemala, Honduras e El Salvador.

Fora da questão migratória, o governo Biden tem feito poucas mudanças significativas em relação a Trump na América Latina, baixando o tom da retórica sobre a Venezuela, mas ainda reconhece Guaidó como presidente interino.

Surpreendendo alguns observadores, o secretário de Estado, Antony Blinken, também tem demonstrado pouco interesse imediato em reverter a redesignação feita no apagar das luzes do governo Trump ao apontar a comunista Cuba como Estado promotor do terrorismo.

Cubano-americanos e cada vez mais venezuelano-americanos, muitos deles fervorosos críticos aos regimes em seus países de origem, são uma grande força na politicamente crucial Flórida, onde Trump obteve forte apoio dos latinos nas últimas eleições.

Martha Lorena Castaneda, contadora nicaraguense-americana residente em Washington, alertou que o país pode virar uma nova Cuba ou Venezuela se Ortega for reeleito.

"Seria ótimo se os Estados Unidos intensificassem a ajuda, por exemplo enviando observadores para evitar a corrupção nas eleições", afirmou.

- Efeito dominó? -

Os Estados Unidos têm uma história tortuosa com Ortega. O governo de Ronald Reagan financiou clandestinamente os rebeldes dos Contra nos anos 1980, que lutaram sem sucesso para derrubar o então governo sandinista de esquerda.

Os Estados Unidos trabalharam a contragosto com Ortega depois que ele voltou ao poder em 2007 e se colocou como um amigo dos negócios, apesar da retórica marxista.

Ryan Berg, membro sênior do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, disse que é hora de fazer tudo o possível e tentar romper os vínculos de Ortega com a elite comercial, por exemplo suspendendo a participação da Nicarágua no Tratado de Livre-Comércio entre Estados Unidos, América Central e República Dominicana (CAFTA-DR).

Os Ortega "querem derrubar a Nicarágua junto com eles", disse Berg.

Segundo ele, o público-alvo da ação americana é, ao contrário, "a hipócrita e bem sucedida classe empreendedora", que veria "que isto é sério e que o pão de cada dia está em risco".

Especialistas afirmam que outros líderes conhecidos por táticas violentas como o salvadorenho Nayib Bukele e o hondurenho Juan Orlando Hernandez estarão observando.

"Se não tentarmos encontrar uma solução para os déficits democráticos na Nicarágua, pode haver uma espécie de efeito dominó para outros aspirantes a autocratas na região", advertiu Berg.

"Pode ser um grande golpe para Biden, que defende a promoção da democracia, apenas deixar isso acontecer no exterior mais próximo", acrescentou.


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