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Estado de Minas CAIRO

Farida Ramadan, uma egípcia transgênero em busca de dignidade


02/06/2021 12:58

Armada com paciência, Farida Ramadan, uma mulher transgênero de 50 anos, luta por seus direitos em um Egito conservador onde a comunidade LGBTQ + costuma estar na mira.

De uma família modesta de Damieta (nordeste), esta ex-professora diz que desde criança não se interessava "por coisas de menino".

Quando adolescente admitiu para seus parentes que se sentia transgênero, o que lhe trouxe "grande reprovação" e "zombarias inimagináveis", diz.

Rejeitada "por 90% das pessoas" de Damietta, rapidamente deixou o lar da família e a região e tentou abrir caminho no Cairo e Alexandria (norte).

A lei egípcia "não reconhece a transexualidade", segundo um dos membros fundadores da Bedayaa, uma ONG local para a defesa dos direitos das pessoas LGTBQ + (lésbicas, gays, transexuais, bissexuais, queer e outras variações de gênero).

No entanto, em seus regulamentos, o sindicato dos médicos autoriza operações de "correção sexual" desde que seja obtido "o aval de um comitê especial" formado por médicos e um xeque de Al Azhar, uma grande instituição do Islã sunita no Cairo.

O comitê se baseia numa fatwa (decisão islâmica) que estipula que a redesignação sexual, ou seja, a operação de mudança de sexo, deve ser justificada por um "problema biológico e não mental", diz o ativista da associação, sob anonimato.

As regras do sindicato impõem "exames hormonais, testes cromossômicos e pelo menos dois anos de psicoterapia e tratamento hormonal", o que exclui diretamente muitos candidatos. Não existem estatísticas oficiais sobre pessoas trans.

Além disso, o comitê se reúne de forma muito irregular e o xeque está ausente "há pelo menos dois anos", de acordo com Bedayaa.

"Nenhuma operação pode ser realizada sem a concordância de Al Azhar", acrescenta.

A instituição, contatada pela AFP, não quis comentar.

- Violência -

Sem meios, Farida Ramadan teve que se armar de paciência: iniciou os trâmites há quinze dias, obteve a autorização em 2006 e foi operada em 2016.

"Não tinha dinheiro: trabalhava, economizava um pouco e marcava consulta", lembra.

Em 2006, depois de lecionar por 13 anos, foi demitida por absenteísmo devido ao tratamento.

Atualmente, não tem renda. Ela fez incontáveis pequenos trabalhos, mas sempre os perdeu por ser estigmatizada.

"A situação dos homens trans é mais bem aceita do que a nossa", estima Farida Ramadan.

Em maio de 2020, o ator Hicham Selim expressou publicamente apoio ao seu filho transgênero Nour, gerando uma onda de simpatia.

Seis meses depois, o ministro da Educação, Tarek Chawki, pediu que a televisão aceitasse pessoas trans, um desenvolvimento sem precedentes.

Mas desde a chegada ao poder do presidente Abdel Fatah Al Sisi em 2014, a repressão às pessoas LGTBQ + piorou no Egito.

O destino da ativista lésbica Sarah Hegazi, presa e torturada por hastear a bandeira do arco-íris em um show em 2017 e que cometeu suicídio no exílio em 2020, reflete essa situação.

"Nour e Farida receberam apoio porque a sociedade considera que se trata de uma 'correção' e não uma mudança de sexo", afirma a ativista.

Mas quando Nour apoiou publicamente Sarah Hegazi, "a compaixão geral se transformou em raiva e ataques", acrescenta.

Há quatro anos, Ramadan viveu na aldeia de Manchiyet Sira (norte). Todos os meses, os habitantes, "modestos", diz ela com entusiasmo, fazem uma vaquinha para cobrir as suas despesas essenciais.

Oum Menna, uma vizinha de 27 anos, conta a amizade que nasceu entre as duas.

"O passado não importa. É uma criatura de Deus, como todos os outros", explica à AFP. O fato de ela usar um nicab (véu que cobre completamente o corpo e o rosto, exceto os olhos) não a impede de ver Ramadan "todos os dias".

Embora viva em uma comunidade que a acolhe, ela continua lutando para "encontrar uma vida digna".

"Só quero trabalhar e parar de mendigar", insiste a ex-professora, que prepara ação na justiça para exigir seus direitos.

"Não vou me calar, estou cansada, mas (...) vou resistir até o fim", promete.


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