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Estado de Minas CALI

Comissária da ONU para DH pede investigação independente sobre mortes em Cali


30/05/2021 10:47 - atualizado 30/05/2021 10:49

A Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, expressou preocupação neste domingo com os confrontos na cidade colombiana de Cali, que deixaram mais de 10 mortos, e pediu diálogo e uma investigação independente.

"É essencial que todas as pessoas que supostamente provocaram ferimentos ou mortes, incluindo funcionários do Estado, sejam submetidas a investigações rápidas, eficazes, independentes, imparciais e transparentes, e que os responsáveis respondam à lei", afirmou Bachelet em um comunicado.

O exército reforçou no sábado a segurança na terceira maior cidade da Colômbia, diante da violência que deixou 13 mortos na sexta-feira durante os protestos que eclodiram há um mês contra o governo de Iván Duque.

No sábado à noite apenas alguns poucos veículos eram vistos nas ruas da cidade, onde na véspera se enfrentaram manifestantes, policiais e civis armados até com fuzis.

Restos de barricadas e grandes quantidades de escombros refletem o caos que envolveu esta cidade de 2,2 milhões de habitantes, sob toque de recolher noturno.

Treze pessoas morreram na sexta-feira em diferentes episódios, entre elas um funcionário do Ministério Público, que matou com sua arma dois manifestantes que bloqueavam uma via. A multidão se lançou sobre o homem - que estava de folga - e o linchou, segundo a instituição.

"No sul da cidade tivemos (...) quase uma guerra urbana, onde muitas pessoas não só perderam a vida, como também tivemos uma importante quantidade de feridos", disse o secretário de Segurança, Carlos Rojas, à Caracol Radio.

Ao menos oito das mortes foram por armas de fogo, segundo a polícia.

"Peço o fim de todas as formas de violência, incluindo o vandalismo, e que todas as partes continuem conversando, para que se garanta o respeito pela vida e a dignidade de todas as pessoas", afirmou Bachelet.

Em um mês de protestos morreram pelo menos 59 pessoas, inclusive os 13 mortos da véspera, pois a Defensoria do Povo tinha reportado 46 falecidos até a sexta. Enquanto isso, os feridos passam dos 2.300 entre manifestantes e uniformizados, segundo o Ministério da Defesa.

A ONG Human Rights Watch garante ter recebido "denúncias confiáveis" de 63 mortes, 28 delas relacionadas diretamente com as manifestações.

Duque determinou em Cali a mobilização de tropas sob a figura de assistência militar, que faculta ao exército o apoio à polícia nos trabalhos de controle.

- Civis "massacrando" -

No total 1.141 militares vão assumir a vigilância em Cali. Em um decreto assinado na noite de sexta, o presidente ativou um dispositivo de apoio militar de cerca de 7.000 militares para dez departamentos (estados) afetados por bloqueios viários.

Desde 28 de abril, multidões se mobilizam para protestar contra o governo pelos abusos policiais e a gestão da crise econômica provocada pela pandemia.

Na sexta-feira, o dia foi particularmente violento em Cali. "Nós estávamos em uma atividade cultural com as pessoas porque já estávamos celebrando um mês de paralisação" no bairro de Meléndez (sul), "quando foram ouvidos alguns tiros", contou à AFP uma testemunha que pediu para não ter seu nome revelado por medo.

"Começaram a massacrar as pessoas". Eram "uns cinco personagens à paisana, escondidos atrás das árvores", contou o estudante secundarista de 22 anos. Vídeos que viralizaram nas redes sociais apoiam a versão dele.

A polícia garantiu em um comunicado que vai investigar os membros da força pública que foram "permissivos com a atuação de civis armados".

O representante especial do secretário-geral da ONU na Colômbia, Carlos Ruiz Massieu, pediu em um comunicado que se evite a "escalada" da violência.

- Militarização sob críticas -

A Colômbia vive um levante popular inédito detonado por uma proposta de Duque para aumentar os impostos para a empobrecida classe média, com o fim de tapar o buraco fiscal deixado pela pandemia. O presidente cedeu à pressão das manifestações e arquivou a iniciativa, mas a violência policial agravou o mal-estar social.

Os excessos da polícia, que na Colômbia é subordinada ao Ministério da Defesa, foram condenados pela comunidade internacional. Segundo a ONG Indepaz, 43 das mortes seriam de "suposta autoria da força pública".

Nos bairros carentes de Cali, onde a violência policial se intensifica, a chegada dos militares gerava certo temor.

"Não nos sentimos confortáveis, nos sentimos ameaçados, nos sentimos mais em perigo. De fato, nossos filhos têm medo", lamentou Lina Gallegas, líder social de 31 anos na comuna de Siloé. "Se acontecer algo não podemos chamar a polícia porque são eles os que (...) estão matando", acrescentou.

O governo evita condenar abertamente a repressão policial e assegura estar enfrentando vandalismo e o "terrorismo urbano de baixa intensidade". Também denunciou que grupos guerrilheiros financiados pelo narcotráfico se infiltraram no movimento de protesto.

Luis Felipe Vega, professor de ciência política da Universidade Javeriana, questionou a medida. É como "apagar um incêndio com gasolina", já que um soldado é formado para "neutralizar uma ameaça", e não para controlar protestos, disse à AFP.

Rejeitado por 76% da população, Dique tenta há duas semanas negociar uma saída para a crise com a frente mais visível dos protestos. Mas está sob pressão do seu partido, o Centro Democrático (direita), que reivindica mão dura a um ano das eleições.


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