Jornal Estado de Minas

NOVA DÉLHI

Reserva de vagas pela Internet para vacinação expõe divisão digital na Índia

Às duas da madrugada, Ananya Maskara, olha para o smartphone e procura uma vaga disponível para a vacinação contra a covid-19 em Nova Délhi, a capital da Índia.



Aterrorizada com a onda de infecções que afeta o país, a jovem de 19 anos, ansiosa pela vacina, passou vários dias navegando em vão entre os portais de imunização até conseguir uma vaga na capital indiana.

"Era realmente difícil Muitos amigos ainda não conseguiram a vaga e continuam esperando", conta Ananya à AFP, que diz ter vivido "uma montanha-russa emocional".

Muitos estados da Índia também enfrentam a escassez de vacinas, o que limita as oportunidades para os 600 milhões de adultos com idades entre 18 e 44 anos, autorizados a participarem da campanha.

A Índia abriu a campanha de vacinação a todos os adultos em 1º de maio, mas na faixa etária entre 18 e 44 anos é obrigatório fazer uma inscrição on-line. A exigência afasta quase metade da população indiana - sobretudo, nas zonas pobres e rurais, sem smartphones, ou Internet.

Depois de procurar durante vários dias nos sites por um horário em Ahmedabad, no estado de Gujarat (noroeste), Devang Bhatt finalmente conseguiu marcar a vacinação nos arredores da cidade.

"Foi cansativo, mas valeu a pena", conta o jovem de 28 anos à AFP.



Alguns especialistas desenvolveram ferramentas para ajudar os indianos a encontrarem vagas assim que são disponibilizadas.

Berty Thomas, 35 anos, que vive em Chennai, criou uma ferramenta de alerta no aplicativo de mensagens Telegram e tem mais de 400.000 assinantes.

"Meu foco agora é expandir os alertas a várias pequenas cidades e vilarejos", diz ele à AFP.

- Sem internet, sem vacinação -

Seema, uma empregada doméstica em Lucknow, a capital do estado de Uttar Pradesh (norte), afirma que a vacinação parece fora de seu alcance.

"Eu não tenho acesso à Internet (...) Alguns jovens do meu bairro têm telefones celulares, mas não sabem como usar para isto (o cadastro)", disse à AFP esta mulher que se identifica apenas pelo primeiro nome.

O governo "deveria pensar em pessoas como nós. Todos os dias corro o risco de me expor à doença, trabalho para três famílias. Gostaria de poder me vacinar", completa.



De acordo com especialistas, o governo deveria permitir o comparecimento sem agendamento prévio aos centros de vacinação, medida já adotada para pessoas com mais de 45 anos.

Gautam Menon, professor de Física e Biologia da Universidade de Ashoka, destaca que as autoridades também deveriam considerar a criação de clínicas móveis de vacinação em zonas remotas.

Para Mohendra Sharma, que trabalha em uma loja de leite de Délhi, que não tem telefone celular, as mudanças não podem demorar.

"Tem que existir um sistema de vacinação porta a porta. Os que não têm um telefone celular vão fazer o quê?", pergunta o jovem de 26 anos.

"Estou preocupado com minha família e comigo, se não formos vacinados", desabafa.

audima