(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas MOSCOU

Napoleão na Rússia, um invasor que se tornou ícone


03/05/2021 14:42 - atualizado 03/05/2021 14:43

Maldito quando lançou a campanha de 1812, Napoleão foi com o tempo perdoado pelos russos a ponto de ser considerado, 200 anos depois, uma grande figura política, um gênio modernizador e um símbolo romântico.

"Aqui podemos ver sua ascensão do zero a herói e seu fim como mártir", resume o historiador Viktor Bezotnosny, o maior especialista russo nas guerras napoleônicas.

No início do século XIX, os aristocratas russos, francófilos, admiravam-no. Depois, o imperador se tornou um inimigo nacional, quando lançou a campanha russa em 1812. E, desde sua fuga e especialmente após sua morte no exílio em Santa Helena em 5 de maio, ele foi reabilitado.

Até se tornar objeto de recuperação política. Os soviéticos fizeram dele um dos seus, um precursor revolucionário do bolchevismo. O colapso da URSS em 1991 retificou essas distorções.

Mesmo "os russos mais patrióticos deixaram de ver Napoleão como um invasor e o consideram um grande homem político, até mesmo um herói romântico", diz Vladimir Presnov, diretor do museu "Borodinskaya Panorama" dedicado à Batalha de Borodino.

Hoje, a popularidade de Napoleão I segue viva: uma nova publicação aparece a cada semana na Rússia sobre o imperador.

A seguir, três exemplos de russos fascinados por essa paixão.

- Aficionado às reconstituições -

"Viva o imperador! Viva a França!", gritam os "Gronards", russos que perpetuam a lenda do Grande Exército com suas populares reconstituições de batalhas.

Para eles e para seu líder Mikhail Shmayevich, vestindo uniforme de coronel da cavalaria, "Napoleão foi um gênio, cujas ideias, como as de uma Europa unida, estavam à frente de seu tempo".

"Foi graças a ele que a Rússia se tornou uma grande potência europeia, modernizou sua indústria e seu sistema político, até à abolição da escravatura em 1861", acrescenta este entusiasta, que se surpreende ao constatar que "Napoleão parece ser mais reverenciado aqui do que na França".

De físico imponente e "bon vivant", Mikhail Shmayevich se encaixa perfeitamente no coronel napoleônico com seu imaculado uniforme branco, ombreiras azuis e capacete em estilo romano. E, acima de tudo, este presidente de um clube equestre é um excelente cavaleiro.

No total, como ele, mais de 2.500 russos fazem reconstituições, com espetáculos que atraem até 50.000 espectadores, principalmente a cada primeiro fim de semana de setembro, para comemorar a Batalha de Borodino.

- Colecionador -

"Napoleão é o primeiro personagem da história a se tornar espontaneamente um objeto de adoração, mesmo nos países que invadiu", diz Alexander Vikhrov, que possui uma das maiores coleções particulares dedicadas a Napoleão.

Publicitário que fez fortuna com as primeiras privatizações pós-soviéticas, há 40 anos investe em objetos consagrados a Napoleão.

Seus milhares de bronzes, porcelanas, gravuras e retratos ocupam dois quartos inteiros e o terraço de seu espaçoso apartamento em Moscou.

Entre outros objetos, possui um fragmento da cama em que Bonaparte morreu e um medalhão com uma trança dos cabelos do imperador e de Josefina, que comprou por 4.000 euros.

"Quem sabe se um dia esses cabelos poderão ser usados para criar um clone de Napoleão", brinca.

Para ele, Napoleão era um "homem contraditório, um tirano no final do seu reinado, mas, acima de tudo, um grande homem".

O Estado russo guardou as mais belas peças: no Museu da Guerra de 1812, a dois passos do Kremlin, preserva-se o adorno do chapéu bicorne do imperador, sua cama de campanha, ou o trenó que ele abandonou em sua fuga.

- Descendente de desertor -

Maria Lioudko, professora de canto do Conservatório de São Petersburgo, tem orgulho de ser descendente de um dos 2.000 soldados de Napoleão que permaneceram na Rússia, após a retirada do Grande Exército.

Seu ancestral, de sobrenome Vigoureux, "ficou em Lida (hoje Belarus) e trabalhou como governador e se casou com uma aluna", conta Maria Lioudko em um belo salão de música na antiga capital imperial.

No auge da repressão de Stalin na década de 1930, usar um nome francês era perigoso. Sua família o mudou, mas Maria está pensando em recuperá-lo agora.

"A este soldado Napoleão devo o meu senso de combate, iniciativa e responsabilidades, mas também meu apetite, meu humor e minha perspicácia", diz esta mulher sorridente de olhos azuis profundos.

Para ela, Napoleão foi "um verdadeiro herói, inteligente, ambicioso, ao mesmo tempo pragmático e romântico".

E conclui: "a França deve se orgulhar de seu super-herói: é uma vergonha ter vergonha de Napoleão!".


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)