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Estado de Minas GAZA

Palestinos lutam para sobreviver em UTI de Gaza


26/04/2021 10:20

Deitado de lado na cama, o rosto escondido por uma máscara de oxigênio que mal revela os olhos úmidos, Hussein al Hajj insiste: quer conversar. Mas dizer o quê? Que "a vacina é necessária", pondera, entre a vida e a morte, em um serviço de terapia intensiva em Gaza.

Em torno de Hussein, em meio às telas piscantes, o incessante "bip-bip" de máquinas que medem sua saturação de oxigênio, frequência cardíaca e pressão arterial. O homem de 71 anos está em uma unidade especial criada há dois meses para lidar com a covid-19 na Faixa de Gaza.

No início da pandemia, os mortos se multiplicavam em Israel, e não do outro lado da densa barreira militarizada de segurança que separa o Estado hebreu deste território palestino.

Mas os primeiros casos foram registrados em agosto, fora dos centros de quarentena desse microterritório sob bloqueio israelense desde 2007, quase sem infraestrutura. A covid-19 começou a devastar seus dois milhões de habitantes.

Hoje, enquanto Israel reabre bares e restaurantes e registra pouca contaminação graças a uma campanha massiva de vacinação, a Faixa de Gaza enfrenta uma tempestade sanitária, sem meios ou vacinas.

Em um terreno empoeirado na saída da principal cidade do enclave, depois de um campo de treinamento das brigadas Al Qasam - braço armado do movimento islamita Hamas - e de alguns lagos cheios de esgoto, fica um hospital turco que foi construído em 2017.

Em sua unidade de terapia intensiva, vários pacientes intubados. A ordem à AFP é clara: pode filmar, mas sem mostrar os rostos dos enfermos, nem incomodá-los.

De repente, a voz cavernosa de Hussein al Hajj emerge: "É uma questão de vida ou morte, a qualquer momento as coisas podem piorar", diz este professor aposentado, impotente.

"Minha esposa e eu temos o coronavírus. Ela está em quarentena em casa, mas eu tinha problemas pulmonares, por isso me levaram primeiro para um hospital, e depois para cá", murmura.

- "Situação crítica" -

"Desde que instalamos essa unidade de terapia intensiva para o coronavírus, já recebemos 40 pacientes. Sete morreram", explica Samer Mansour, enfermeiro-chefe da unidade. "40% dos pacientes têm menos de 50 anos", diz.

O aparecimento no início de março da variante britânica - mais contagiosa - neste densamente povoado território entre Israel e Egito favoreceu a transmissão e uma explosão no número de casos.

"A situação é crítica", resume Rami al Abadelá, médico e diretor do serviço de infecção do Ministério da Saúde.

Gaza registrou na semana passada um recorde de 23 mortes em um único dia, de um total de 830.

Os 100.000 casos vão ser ultrapassados esta semana. Mas são feitos apenas 3.200 exames por dia, com índice de positividade de 36%, um dos mais altos do mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde.

"Oficialmente, são cerca de 1.000 casos por dia, mas provavelmente são 5.000 ou mais, já que as pessoas não vão ao hospital ou não nos ligam para dizer que têm sintomas. Essas pessoas vão aos mercados, entram em contato com outras, e o vírus se espalha" em grande velocidade, explica Abadelá.

"Além disso, os hospitais estão em péssimas condições", diz ele.

Diante dos contágios, o governo do Hamas impôs toque de recolher a partir das 19h para tentar evitar que as famílias se reúnam para o "iftar", refeição que marca a quebra diária do jejum durante o mês do Ramadã.

Tudo isso, enquanto espera as vacinas. "Recebemos 110.000 doses, mas precisamos de 2,6 milhões de doses suplementares", assegura Abadelá.

Na terapia intensiva, Hussein al Hajj teria preferido ser vacinado em vez de intubado. "A vacina é necessária, muito necessária, mas no momento o que tenho que fazer acima de tudo é sobreviver".


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