A decisão foi anunciada depois que Navalny, militante anticorrupção de 44 anos e grande inimigo do Kremlin, encerrou na sexta-feira uma greve de fome de 24 dias no complexo penitenciário de Pokrov, após o agravamento de seu estado de saúde.
O presidente francês, Emmanuel Macron, expressou nesta segunda sua "grave preocupação com o estado de saúde de Navalny".
O Ministério Público de Moscou anunciou em um comunicado que suspendeu as atividades dos 37 escritórios de Navalny na Rússia, à espera do resultado do julgamento por "extremismo" contra esses estabelecimentos.
- "Ataque cínico" -
Como parte do julgamento, nesta segunda-feira aconteceu a primeira audiência preliminar a portas fechadas, enquanto outra está prevista para quinta-feira, informou o tribunal municipal de Moscou.
Se os escritórios de Navalny forem reconhecidos na Rússia como "extremistas", podem entrar na mesma categoria que os grupos extremistas islâmicos Estado Islâmico e Al Qaeda.
O MP de Moscou disse que solicitou a suspensão do Fundo da Luta contra a Corrupção (FBK), organização de Navalny, que está por trás de suas investigações sobre o estilo de vida das elites russas.
Com essa decisão, "é como se gritassem: temos medo de suas atividades, temos medo de suas manifestações, temos medo de suas campanhas de votação", disse no Twitter o diretor do FBK, Ivan Jdanov.
A Alemanha, que assim como outras capitais ocidentais exige a libertação de Navalny, condenou a decisão por considerá-la "incompatível com os princípios do Estado de Direito".
Por sua vez, a ONG Anisitia Internacional disse que foi "um ataque cínico de uma audácia e magnitude sem precedentes". "O objetivo é claro: esmagar o movimento de Alexei Navalny enquanto ele definha na prisão".
O escritório de Navalny em Moscou afirmou em uma mensagem no Telegram que não pode mais "trabalhar sob o antigo formato", com base na decisão judicial.
"Seria muito perigoso para nossos funcionários e para nossos seguidores", afirmou, antes de prometer que todos "continuarão, a título pessoal, lutando contra a corrupção".
- Ameaça de prisão -
O MP russo pediu que as organizações vinculadas a Alexei Navalny sejam classificadas como "extremistas", o que provocaria sua proibição no país e significaria duras penas de prisão para os colaboradores e seguidores do opositor.
A Promotoria acusa as organizações de buscar "criar as condições para a desestabilização da situação social e sociopolítica" na Rússia, "acobertados por slogans libertários".
"Os objetivos reais de suas atividades são criar as condições para mudar os fundamentos da ordem ordem constitucional", afirmou o MP em 16 de abril.
O termo "extremismo" tem uma definição muito ampla na lei russa, o que permite às autoridades lutar contra organizações da oposição, grupos racistas ou terroristas, assim como contra movimentos religiosos como as Testemunhas de Jeová.
O Fundo de Luta contra a Corrupção de Navalny fez em janeiro sua investigação mais importante, na qual acusou o presidente Putin de ter um opulento "palácio" à beira do Mar Negro. O vídeo foi assistido mais de 11 milhões de vezes no YouTube e obrigou Putin a desmentir pessoalmente a acusação.
No início de abril, um tribunal russo condenou a dois anos de prisão efetiva um colaborador de Navalny que trabalhava para o FBK, Pavel Zelenski, pela publicação de dois tuítes que criticavam duramente as autoridades e que foram considerados "extremistas".
Os escritórios das organizações de Navalny e as residências de seus colaboradores foram alvos de operações policiais em várias ocasiões nos últimos anos. A oposição denunciou uma perseguição judicial para calar os críticos do governo.
MOSCOU