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Estado de Minas BAGDÁ

Após incêndio em hospital, iraquianos lamentam a corrupção que mata


25/04/2021 11:37

O incêndio em um hospital de Bagdá dedicado à covid-19, onde 82 pessoas morreram carbonizadas ou sufocadas neste domingo (25), é para os iraquianos uma nova demonstração de que a má gestão e a corrupção estão matando o país.

Principal envolvido e "acusado", o ministro da Saúde, Hassan al-Tamimi, foi suspenso e colocado à disposição dos investigadores. Próximo do poderoso líder xiita Moqtada Sadr, Tamimi não publicou nenhuma reação após a tragédia no hospital Ibn al-Khatib.

Após o incêndio que começou em cilindros de oxigênio "armazenados sem respeitar as condições de segurança", segundo fontes médicas, testemunhas e médicos garantiram à AFP que não era possível identificar muitos dos corpos carbonizados.

Porque a evacuação foi lenta e dolorosa, com pacientes e parentes se empurrando nas escadas de serviço e doentes morrendo quando seus ventiladores foram abruptamente retirados para evacuá-los.

Um médico de Ibn al-Khatib disse à AFP, sob condição de anonimato, que "na unidade de terapia intensiva da covid não havia saída de emergência ou sistema de combate a incêndios".

- Fumantes e visitantes -

Isso já havia sido denunciado em um relatório público sobre o setor da Saúde de 2017 e resgatado hoje pela Comissão governamental de Direitos Humanos.

Pior, o ministério do Interior anunciou que 7.000 incêndios ocorreram de janeiro a março no Iraque. Muitos deles, segundo autoridades e bombeiros, provocados por curtos-circuitos em lojas, restaurantes ou prédios cujos proprietários pagaram propinas para evitar a fiscalização.

"Foi a má gestão que matou essas pessoas", protestou o médico de Ibn al-Khatib, enumerando as muitas falhas no estabelecimento.

"Funcionários andam fumando pelo hospital onde os cilindros de oxigênio são armazenados. Mesmo na UTI, sempre há dois ou três parentes ao lado do leito do doente", denunciou. E "não é só em Ibn al-Khatib, é assim em todos os hospitais públicos" do país.

"Quando equipamentos quebram, nosso diretor nos diz para não relatar", contou uma enfermeira de outro hospital de Bagdá. "Ele diz que isso daria uma imagem ruim do estabelecimento, mas, na realidade, não temos nada que funcione", disse à AFP.

E até o presidente da República, Barham Saleh, admitiu no Twitter: "A tragédia de Ibn al-Khatib é o resultado de anos de enfraquecimento das instituições do Estado por meio da corrupção e da má administração".

Até a década de 1980, o Iraque era reputado no mundo árabe por seu serviço de saúde público gratuito e de alta qualidade. Hoje, seus hospitais estão dilapidados, suas equipes mal treinadas e o orçamento de saúde não chega a 2% em um dos países mais ricos em petróleo do mundo.

Os médicos contam as mesmas histórias há anos: colegas espancados, ameaçados de morte ou sequestrados por parentes de pacientes que morreram ou caíram sob o fogo cruzado de confrontos tribais ou familiares.

Os iraquianos preferem se submeter a operações e tratamentos no exterior, porque no Iraque a especulação explodiu os preços: do cilindro de oxigênio aos comprimidos de vitamina C, os preços triplicaram desde o início da pandemia.

Em 2019 e no início de 2020, os iraquianos protestaram contra a corrupção que custou ao país o dobro de seu PIB. Para eles, a decadência dos serviços públicos é resultado de anos de nepotismo e entendimento entre partidos políticos que operam em cartéis para se protegerem.

Além de Tamimi, o governador de Bagdá e autoridades locais foram suspensos e estão sendo interrogados.

Diante de líderes considerados "corruptos" e "incompetentes", os iraquianos há muito preferem se defender sozinhos.

Foram jovens, com a boca e o nariz cobertos por camisetas, que retiraram os feridos do hospital, os colocaram em ambulâncias e ajudaram os sobreviventes em meio à densa fumaça no Ibn al-Khatib.


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