Recebido no início da tarde pelo presidente francês no Palácio do Eliseu antes de uma videoconferência trilateral com a chanceler alemã, Zelensky pede um maior apoio dos europeus em face da concentração de tropas russas na fronteira da Ucrânia.
"Seria muito importante para nós que Macron e Merkel usassem sua influência durante esta videoconferência (...) para lhe explicar a possibilidade de uma cessação definitiva de todas as provocações", afirmou o porta-voz da Presidência russa, Dmitry Peskov.
Há várias semanas, os confrontos se multiplicam entre Kiev e os separatistas pró-russos no Donbass (leste da Ucrânia), enquanto dezenas de milhares de soldados russos foram posicionados nas proximidades. Esta movimentação aumenta o temor de uma operação militar em grande escala.
O Ocidente advertiu a Rússia contra essas demonstrações de força e pediu a Moscou que "diminuísse a escalada".
Neste contexto, sete anos após a anexação da Crimeia pela Rússia e enquanto o conflito segue sem solução no Donbass, o presidente ucraniano pede veementemente a adesão do seu país à Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) e à União Europeia (UE).
"Não podemos ficar indefinidamente na sala de espera da UE e da Otan", disse Volodymyr Zelensky em uma entrevista ao jornal francês Le Figaro.
- "Viver juntos" -
"Se pertencemos à mesma família, devemos viver juntos. Não podemos sair juntos para sempre, como eternos namorados. Devemos legalizar nossa relação", insistiu.
A adesão à Otan parece remota, porém, em vista da feroz hostilidade da Rússia a tal cenário e da relutância de vários Estados-membros da Aliança, incluindo França, por medo de provocar Moscou.
Quanto à entrada na UE, permanece hipotética.
"Podemos apoiar a Ucrânia (...) mas isso não significa adesão, não é uma perspectiva séria", afirmou o secretário de Estado francês para os Assuntos Europeus, Clément Beaune.
Mediadores no diálogo quadripartite com Rússia e Ucrânia (denominado "formato Normandia"), Paris e Berlim pretendem "cumprir seu papel" para salvaguardar o cessar-fogo e relançar o processo político, explica o Eliseu.
"Todo trabalho que estamos fazendo é para evitar escaladas, para reduzir as tensões", sublinhou a Presidência francesa.
As tensões em torno da Ucrânia aumentam, em meio a uma maior turbulência nas relações entre Estados Unidos e Rússia desde que Joe Biden chegou à Casa Branca em janeiro.
O governo dos EUA anunciou na quinta-feira (15) uma série de duras sanções financeiras contra a Rússia, assim como a expulsão de dez diplomatas russos, o que pode complicar a proposta de Biden de uma cúpula com Vladimir Putin.
Já a Rússia anunciou, nesta sexta, que limitará a navegação de embarcações estrangeiras em três áreas da Crimeia até outubro.
Uma delas, perto do estreito de Kerch - que liga o Mar Negro ao Mar de Azov -, é de crucial importância para as exportações de grãos e de aço produzidos na Ucrânia.
Os Estados Unidos desistiram de enviar dois navios de guerra esta semana ao Mar Negro, via estreito da Turquia, em meio às tensões entre Ucrânia e Rússia, segundo Ancara.
A probabilidade de a Rússia invadir a Ucrânia nas próximas semanas é de "reduzida a média", estimou na quinta-feira o chefe das forças americanas na Europa, general Tod Wolters.
O porta-voz do Kremlin afirmou, por sua vez, que há "cada vez menos" relatos de violações do cessar-fogo na frente ucraniana, mas que isso não é "motivo para ficarmos totalmente tranquilos".
PARIS