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Estado de Minas PORTO PRÍNCIPE

Igreja denuncia 'queda ao inferno' no Haiti após sequestro de clérigos


12/04/2021 19:56 - atualizado 12/04/2021 20:02

O Haiti desceu "ao inferno" e o governo é omisso, denunciou nesta segunda-feira (12) a Igreja Católica da ilha, após o sequestro de dez pessoas, incluindo membros do clero e cidadãos franceses, cujos captores exigem resgate de um milhão de dólares.

"Há algum tempo, temos sido testemunhas da queda ao inferno da sociedade haitiana", reagiu a Arquidiocese de Porto Príncipe, a capital do país, em um comunicado, no qual afirma que "a violência dos grupos armados" está adquirindo proporções "sem precedentes".

"As autoridades públicas, que não fazem nada para resolver esta crise, não estão imunes à suspeita. Denunciamos a complacência e a cumplicidade de onde vier", acrescenta o comunicado, publicado no dia seguinte ao sequestro, que ocorreu em Croix-des-Bouquets, cidade a nordeste da capital.

Entre os capturados estão sete clérigos católicos - cinco haitianos, assim como uma freira e um padre franceses - e três familiares de um sacerdote que não está entre os sequestrados.

O sequestro ocorreu quando os religiosos se dirigiam "à instalação de um novo pároco", disse à AFP o padre Loudger Mazile, porta-voz da Conferência Episcopal do Haiti, uma antiga colônia francesa e o país mais pobre das Américas.

A promotoria de Paris, competente para crimes ocorridos no exterior contra cidadãos franceses, abriu uma investigação sobre o caso nesta segunda-feira.

Os sequestradores exigem um milhão de dólares de resgate pelo grupo.

Os cinco religiosos haitianos pertencem à Sociedade Sacerdotal de Santiago, com sede na França, confirmou nesta segunda à AFP seu superior geral, Paul Dossous.

"Estamos tentando rezar enquanto também estamos ativos. Estamos negociando. O contato é feito, isso é importante", disse.

O Ministério francês das Relações Exteriores anunciou ter ativado sua unidade de crise após o sequestro, embora não tenha dado mais detalhes "por razões de eficiência e segurança".

Os sequestros extorsivos aumentaram nos últimos meses em Porto Príncipe e no interior do Haiti, que compartilha a Ilha Espanhola com a República Dominicana.

As autoridades suspeitam que um grupo armado ativo na região, denominado "400 Mawozo", está por trás do sequestro, segundo uma fonte policial.

A Conferência de Religiosos do Haiti (CHR) criticou a inação do governo e expressou seu "profundo pesar" e "irritação pela situação desumana que o país atravessa há mais de uma década", em alusão à violência das gangues e à crise política.

"Não passa um dia sem choro e temores e, no entanto, os chamados líderes deste país, enquanto se agarram ao poder, são cada vez mais impotentes", acrescentou em um comunicado.

"Isto é demais. Chegou o momento de cessar estes atos desumanos", disse por telefone no domingo o monsenhor Pierre-André Dumas, bispo de Miragoâne. "A Igreja ora e se solidariza com todas as vítimas deste ato vil", acrescentou.

- Estado de emergência -

Em março, o governo haitiano declarou o estado de emergência por um mês em certos distritos da capital e uma região do interior com o objetivo de "restaurar a autoridade do Estado" em áreas controladas por gangues.

A medida foi motivada pela atuação de grupos armados que "sequestram pessoas para pedir resgate, roubando e saqueando bens públicos e privados, e enfrentando abertamente as forças de segurança pública", informou o decreto presidencial.

A violência das gangues e a instabilidade política provocaram recentemente protestos nas ruas da capital.

Em 3 de abril, centenas de mulheres marcharam em Porto Príncipe para denunciar o poder crescente das gangues no território.

Os sequestros para pedir resgate afetam os moradores mais ricos, mas também aqueles que vivem debaixo da linha da pobreza, que constituem a maioria da população.

Juntamente com a violência advinda do crime, o Haiti sofre uma profunda crise institucional.

O presidente, Jovenel Moise, avalia que seu mandato terminará em 7 de fevereiro de 2022, enquanto para a oposição e parte da sociedade civil, terminou em 7 de fevereiro passado.

Esta desavença se deve ao fato de que Moise foi eleito em uma votação anulada por fraude e foi reeleito um ano depois.

Sem um Parlamento que funcione, em 2020 o país mergulhou ainda mais na crise e o presidente governa por decreto, o que alimenta a desconfiança crescente sobre sua administração.

Neste contexto, Moise decidiu convocar um referendo constitucional para junho próximo.


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