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Estado de Minas PARIS

Por trás do sucesso da vacina Pfizer/BioNTech, uma série de apostas arriscadas


09/04/2021 12:20 - atualizado 09/04/2021 12:26

Desenvolvida com celeridade, excepcionalmente eficaz contra a covid-19 e produzida em larga escala, a vacina representa uma história de sucesso, graças a uma mistura de sorte e decisões criteriosas, o que evitou que os criadores enfrentassem polêmicas, apesar de uma busca desenfreada de rentabilidade.

Dia 9 de abril de 2020, nos primeiros meses da crise de saúde, a farmacêutica americana Pfizer e o laboratório alemão BioNTech, uma pequena empresa especializada em tecnologias de ponta, anunciam a aliança para desenvolver uma vacina contra a covid-19.

Ambas apostaram em uma tecnologia inovadora, o RNA mensageiro, que nunca havia sido utilizada no ser humano, e prometeram "proporcionar algumas milhões de doses em 2021", no momento em que a Europa estava fechada por confinamentos, e a epidemia acelerava nos Unidos.

Sete meses depois, a Pfizer anunciou os primeiros resultados positivos de uma vacina procedente do mundo ocidental. A eficácia anunciada, de mais de 90%, foi confirmada em Israel, onde a campanha de vacinação está muito avançada.

O êxito também é industrial. Em março, a BioNTech prometeu 2,5 bilhões de doses para o verão (hemisfério norte, inverno no Brasil), 25% a mais do que o inicialmente previsto. A vacina domina no momento as campanhas de imunização da União Europeia e deu início às campanhas nos Estados Unidos e no Reino Unido.

A aposta ousada já parece uma vitória e provocou o esquecimento das polêmicas que surgiram, em um contexto de suspeita de busca implacável por lucros e rentabilidade.

- Trabalhadores exaustos -

Em novembro de 2020, a venda, pouco depois do anúncio de testes positivos, de um pacote de ações de milhões de dólares que pertencia ao CEO da Pfizer, Albert Bourla, provocou surpresa, mas em seguida foi informado que a operação já estava programada.

Em janeiro, surgiu uma polêmica, ao ficar constatado que os frascos da vacina da Pfizer continham seis doses, e não cinco.

Assim, a farmacêutica poderia entregar mais vacinas que o anunciado. Mas, na Europa, e em menor medida nos Estados Unidos, a falta de seringas adaptadas provocou o temor de que não poderia ser extraída a última dose.

Dois meses depois, a polêmica também foi esquecida, pois não parece que haja dificuldades para obter seringas.

"Nunca foi um problema", afirmou à AFP Romain Comte, diretor de um centro de vacinação em Paray-le-Monial, centro da França. "Agora sabemos com clareza, inclusive conseguimos retirar sete doses da vacina Pfizer".

A Pfizer trabalha a pleno vapor em suas fábricas, como na unidade belga de Puurs.

"Nos departamentos para covid, trabalhamos em sistema disse à AFP Patrick Coppens, diretor do sindicato FGTB, que reclama dos salários.

"Muitos colegas estão literalmente com os nervos à flor da pele, pois estão fazendo tudo há um ano", alerta. "Isto não pode continuar assim", insiste.

Apesar das disputas por salário na indústria química belga, os sindicatos pediram expressamente aos trabalhadores de Puurs que não façam greve diante da emergência sanitária.

Outro assunto delicado é que a Pfizer vende sua vacina por um preço elevado. De acordo com documentos revelados acidentalmente pela secretária de Estado belga, Eva de Bleeker, a vacina é, ao lado da desenvolvida pela startup Moderna, a mais cara.

A dose custa 12 euros, contra menos de dois euros que a UE paga pela dose da britânica AstraZeneca, que prometeu vender a vacina desenvolvida com a Universidade de Oxford a preço de custo durante a pandemia.

Este é o preço a pagar para recompensar startups como BioNTech e Moderna e seu uso da inovadora tecnologia RNA mensageiro?

"Pfizer e Moderna sabem muito bem que suas vacinas só podem ser usadas nos países desenvolvidos, devido às dificuldades de armazenamento e distribuição", afirmou Adam Barker, especialista em saúde da empresa de gestão de ativos londrina Shore Capital.

- Uma aliança eficaz -

Estas vacinas são conservadas a temperaturas muito reduzidas, mas a Pfizer conseguiu provar que a sua consegue sobreviver por duas semanas em um frio menos intenso.

"A AstraZeneca sabe que sua vacina poderá ser usada muito mais amplamente, inclusive quando acabar a crise de saúde", explica Adam Barker.

A AstraZeneca, que desenvolveu uma vacina de "vetor viral", barata e fácil de armazenar, está produzindo centenas de milhões de doses no Serum lnstitute da India, o maior fabricante de vacinas do mundo.

Mas, no momento, a polêmica cerca esta vacina.

Relacionada com casos - muito raros - de problemas de coágulos sanguíneos, às vezes mortais, vários países europeus proibiram a aplicação da vacina da AstraZeneca para pessoas com menos de 60 anos.

Além disso, o laboratório anglo-sueco mantém uma disputa com a União Europeia por seu atraso em entregar milhões de doses prometidas.

No início de 2021, a Pfizer também teve algumas dificuldades e admitiu atrasos em sua fábrica de Puurs.

"Mas isto aconteceu para aumentar o ritmo de produção a partir da semana seguinte", recordou a empresa à AFP, ao rejeitar o termo "dificuldades".

De fato, a Pfizer é citada como exemplo por Bruxelas para culpar a AstraZeneca.

De todas as possibilidades, a decisão mais importante da Pfizer e BioNTech foi a aposta na vacina de RNA mensageiro, cuja técnica consiste em injetar no organismo pedaços de instruções genéticas que determinam às nossas células o que precisam produzir para lutar contra o coronavírus.

Usada nas vacinas para animais, esta técnica era promissora, mas sem garantia de êxito.

"Há um ano, eu teria dito para desconfiar", declara à AFP Dan Mahony, especialista de saúde do fundo britânico Polar Capital. "Muitas vezes, quando algo parece ótimo em laboratório, na vida real não funciona tão bem".

"Mas isto funcionou muito melhor do que eu jamais teria imaginado", admite.

A Pfizer calculou no início do ano que a vacina representaria 15 bilhões de euros em 2021, um grande valor na comparação com os quase 40 bilhões de receita no ano passado. Mas isto foi antes da BioNTech revisar e aumentar as metas de produção.


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