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Estado de Minas WASHINGTON

Brasil foi cúmplice dos EUA para depor Allende no Chile, segundo documentos de Inteligência


31/03/2021 18:32 - atualizado 31/03/2021 18:39

A ditadura militar do Brasil interveio junto aos Estados Unidos para derrubar o governo de Salvador Allende no Chile, segundo documentos de Inteligência divulgados nesta quarta-feira (31) pelo National Security Archive, com sede em Washington.

Vários documentos de Inteligência de Estados Unidos, Chile e Brasil destacam o papel do regime brasileiro em minar a democracia e apoiar o golpe de Estado perpetrado por Augusto Pinochet, em 11 de setembro de 1973 no Chile.

Um dos documentos de destaque é o memorando de uma reunião em dezembro de 1971 entre o então presidente dos Estados Unidos, Richard Nixon, e o líder da ditadura brasileira na época, general Emílio Garrastazu Médici, na Casa Branca, onde discutiram os esforços para derrubar Allende, que chegou ao poder após as eleições de setembro de 1970.

Médici disse a Nixon que Allende seria deposto "pela mesma razão que (o presidente João) Goulart foi deposto no Brasil". Goulart foi derrubado por um golpe militar em 1964 - que completa 57 anos nesta quarta-feira - que estabeleceu uma ditadura que durou até 1985.

Durante este período, houve pelo menos 434 mortos e desaparecidos no Brasil, segundo relatório de 2014 da Comissão Nacional da Verdade (CNV, um órgão oficial) que, no entanto, não inclui as centenas de vítimas de milícias contratadas para reprimir conflitos agrários, nem os massacres de indígenas.

Outro documento de Inteligência da CIA, citado pelo National Security Archive sobre uma reunião entre altos funcionários brasileiros, observa que um deles acreditava que "os Estados Unidos obviamente querem que o Brasil 'faça o trabalho sujo' na América do Sul".

O centro também citou o trabalho do pesquisador brasileiro Roberto Simon, que em seu livro "Brasil contra a democracia: ditadura, golpe no Chile e Guerra Fria na América do Sul" indagou sobre o tema.

Segundo Simon, "o Brasil deu apoio direto e um modelo para a ditadura de Pinochet" e a imagem do regime militar brasileiro como um "'fantoche de Washington' totalmente alinhado com a superpotência regional é um mito e relega o Brasil a um mero papel subsidiário na região".

Para Simon, "a ditadura brasileira tinha motivações próprias, estratégicas, ideológicas, econômicas e outras, para intervir no Chile".

- Um quebra-cabeças histórico incompleto -

O pesquisador destacou que os militares brasileiros estabeleceram canais de comunicação com os oficiais chilenos contrários a Allende e que agentes enviados por Brasília tinham vínculos com o grupo paramilitar de extrema direita chileno Patria y Libertad.

Também destacou que o Brasil obteve informação de Inteligência sobre os primeiros indícios de que um golpe era planejado e que nos dias posteriores a 11 de setembro de 1973 o Itamaraty ajudou a junta militar chilena em seus esforços para apresentar o levante de um prisma más positivo.

Além disso, indicou que o Brasil enviou agentes de Inteligência a Santiago para participar dos interrogatórios de prisioneiros no Estádio Nacional, que foi transformado em um campo de detenção maciço, onde ocorriam torturas e execuções.

Nos 17 anos de duração da ditadura chilena, houve mais de 3.000 mortos e desaparecidos e 38.000 pessoas foram torturadas, segundo cifras oficiais.

Para o historiador americano Peter Kornbluh, "estes documentos mostram que o Brasil foi um ator intervencionista independente no Cone Sul" e que a ditadura militar brasileira tentou proteger seu futuro, eliminando o modelo de uma via pacífica ao socialismo proposta por Allende para ajudar a instalar em seu lugar um "regime militar" repressivo que fosse seu aliado.

"O que é importante nesta nova informação é que agrega importantes pelas históricas ao quebra-cabeças de atores externos na tragédia chilena", informou à AFP Kornbluh, que dirige o projeto de documentação sobre o Chile do National Security Archive e é autor do livro "Pinochet: os Arquivos Secretos".

O especialista americano destacou que enquanto a CIA se viu obrigada a suspender o sigilo dos documentos, os militares e os serviços de Inteligência brasileiros, não.

"Ainda há muito que continua em segredo e não vamos poder ter um quebra-cabeças histórico completo até que os arquivos militares e de Inteligência sejam acessíveis ao povo brasileiro e à comunidade mundial", concluiu Kornbluh.


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