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Estado de Minas PALMIRA

Guerra na Síria, um 'apocalipse cultural' para as joias do patrimônio


09/03/2021 14:41

Dez anos de guerra na Síria destruíram o presente e obscureceram o futuro de uma população carente, mas também devastaram relíquias de um passado lendário, algumas delas perdidas para sempre.

A Síria, terra de civilizações milenares, dos cananeus aos omíadas, passando pelos gregos, romanos e bizantinos, é o lar de tesouros arqueológicos que a tornam uma das joias do patrimônio mundial.

Em um nível humanitário, a guerra que começou em 2011 teve um impacto catastrófico. Porém, os danos ao patrimônio também estão entre os mais graves em várias gerações.

Ao longo de uma década, sítios arqueológicos foram bombardeados e museus roubados.

No museu de Palmira que dirigiu por 20 anos, Jalil al-Hariri se emociona ao falar sobre os traumas vividos nos últimos anos.

Em maio de 2015, extremistas do grupo do Estado Islâmico (EI) estavam prestes a conquistar a "pérola do deserto", no centro da Síria. Ele e sua equipe permaneceram até o último momento para tentar salvar tudo o que pudessem.

A última van saiu do museu apenas dez minutos antes da chegada do EI, que transformou o prédio em tribunal e prisão.

"Mas o dia mais difícil foi quando voltei a Palmira e vi as antiguidades destruídas e o museu em ruínas", conta o homem sexagenário.

"Vendo o estado do museu, desabei na porta", acrescenta.

"Eles destruíram e esfarelaram os rostos de todas as estátuas que sobraram e que não pudemos salvar. Algumas podem ser restauradas, mas outras foram destruídas", finaliza.

Conhecida por seus templos greco-romanos que datam de mais de 2.000 anos, Palmira experimentou seu esplendor no século III sob o governo da Rainha Zenóbia, que enfrentou o Império Romano.

Tombada como patrimônio mundial pela UNESCO, a "Veneza do deserto" era famosa por sua avenida de 1.100 metros ladeada por imponentes colunatas.

A chegada dos extremistas, um ano depois de proclamar seu "califado", gerou indignação em todo o mundo.

Os vestígios de uma civilização refinada e cosmopolita se tornaram o lugar onde combatentes sanguinários colocaram a barbárie à solta.

As ruínas foram local para execuções públicas registradas pela organização para servir de propaganda na internet. O corpo decapitado do renomado arqueólogo Khaled al-Assaad ficou exposto durante três dias, após ser torturado pelo EI, que queria que ele confessasse o local para onde foram levadas as peças do museu.

As forças governamentais e a Rússia, sua aliada, reconquistaram o local em 2017, mas a essa altura os extremistas, ávidos pelo genocídio cultural, já haviam destruído os templos de Bel e Baalshamin com explosivos.

Cenas que lembram a destruição dos Budas de Bamiyan pelos talibãs afegãos em 2001.

Os combatentes do EI destruíram os objetos grandes, que não podiam transportar, e o restante foi vendido no mercado clandestino.

- "Destruição total" -

Palmira é uma das perdas mais inestimáveis do patrimônio sírio, mas não a única. Nenhuma região ficou livre do que aconteceu.

"Cerca de 10% das antiguidades da Síria foram danificadas", afirma o ex-diretor de Antiguidades Maamun Abdel Karim, durante uma entrevista em Damasco à AFP .

"Ao longo dos últimos dois milênios da história da Síria, não houve nada pior do que o que aconteceu durante a guerra", afirmou, citando "destruição total e global".

"Não é um terremoto nem um incêndio, nesta região ou em outra, nem mesmo uma guerra em uma determinada cidade. A destruição atinge toda a Síria", lamenta o ex-diretor, de 54 anos.

O país possui seis locais de patrimônio mundial segundo a UNESCO, mas todos foram incluídos na lista de patrimônios ameaçados em 2013.

"Simplificando, é um apocalipse cultural", confirma o historiador Justin Marozzi.

A devastação da guerra o lembra de uma época distante, a dos invasores mongóis que vieram ao Oriente Médio para ampliar o império de Genghis Khan.

"Não posso deixar de pensar em Timur (também chamado de Tamerlão), que semeou o inferno aqui em 1400", acrescenta Marozzi.


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