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Estado de Minas BUENOS AIRES

"Somos todas Úrsula", o grito da Argentina contra o feminicídio


08/03/2021 14:30

Apesar de ter apresentado 18 denúncias, Úrsula Bahillo se tornou uma das 62 vítimas de feminicídio nos dois primeiros meses deste ano na Argentina, país onde nasceu o lema "Nem uma menos" e que nesta segunda-feira (8) renova sua reivindicação no Dia da Mulher.

"Quando a Úrsula foi morta todas desabamos, chorando. Isso nos fez pensar: Úrsula é você, sou eu, é a vizinha, somos todas. Se ela fez 18 denúncias e acabou morta, o que me isenta de acabar igual?", disse Rocío Veneroso, de 38 anos, à AFP.

Rocío compartilha seu desconforto com suas companheiras de um grupo de terapia, todas vítimas de violência doméstica. O caso chocou a sociedade argentina.

Úrsula, de 18 anos, morava em Rojas, cidade 240 km a noroeste da capital argentina. Em 8 de fevereiro, ela foi encontrada em um pasto, apunhalada 15 vezes por faca de cozinha.

Seu ex-companheiro, o policial Matías Martínez, de 25 anos, foi preso e acusado de feminicídio agravado.

Ela já havia previsto seu destino. "Se me matarem, você sabe quem foi", escreveu a uma amiga em novembro.

A ex-companheira de Martínez, Belén, também denunciou o ex-policial por ameaçá-la com sua arma de serviço.

"Ela me dizia que tinha medo. E eu disse a ela que estava com medo por ela", conta Belén, a quem Úrsula havia procurado pouco antes.

Três dias antes de morrer, Úrsula tuitou: "Nunca pensei que estava denunciando violência de gênero. Quero ser a última".

Mas mesmo depois de sua morte, ocorreram mais 19 feminicídios, segundo levantamento diário feito pelo Observatório Lucía Pérez, cujo nome evoca outra vítima de violência de gênero, em crime ocorrido em 2016.

- "Todas as violências" -

Para Rocío Veneroso, a terapia de grupo a fortaleceu porque percebeu que o padrão do homem violento se repete.

Advogada de formação, mãe de um adolescente de 17 anos e uma menina de 5 anos, ela entrou com uma ação contra o ex-marido em 2019, um contador com quem foi casada há oito anos e cujos primeiros dois filhos, de outro casamento, ela ajudou a criar.

"Sofri todas as violências, demorei muito para perceber. Tem aquele pacto de silêncio, de vergonha, no início você continua encobrindo. Com a minha denúncia consegui acabar ao menos com a violência psicológica, física, ambiental. Não consegui parar a violência econômica. Ele parou de pagar tudo e eu não tinha renda porque trabalhava para ele", conta.

Sua situação foi classificada como de "alto risco" pelo Gabinete de Violência Doméstica (OVD) do Supremo Tribunal de Justiça.

Eles deram a ela um botão anti-pânico, mas a bateria se esgota rapidamente e na única vez que ela a usou, um policial chegou 35 minutos depois.

Ela pediu que colocassem uma tornozeleira eletrônica nele para controlá-lo e impedi-lo de se aproximar.

"Eles me responderam que seria estigmatizante para ele", lamenta.

Em 2020, 295 feminicídios foram cometidos na Argentina. Em média cinco por semana e um a cada 29 horas, segundo o Observatório do Femicídio da Ouvidoria Nacional. Vítimas colaterais somam-se a isso: 212 crianças que ficaram sem as mães.


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