A emissária da ONU para Mianmar, Christine Schraner Burgener, apelou aos membros da ONU para que tomem "medidas muito rígidas".
"Tive uma discussão com o exército e os alertei que os Estados-membros e o Conselho de Segurança poderiam tomar medidas amplas e drásticas", declarou em uma videoconferência.
Esta quarta-feira foi o dia "mais sangrento" em Mianmar desde o golpe de 1º de fevereiro, enfatizou a emissária.
Depois de disparar gás lacrimogêneo e balas de borracha, as forças de segurança mais uma vez recorreram a armas de fogo para dispersar as concentrações de opositores na capital econômica, Yangon, além de cidades como Monywa, Mandalay e Myingyan.
"Temos agora mais de 50 mortos desde o início do golpe e vários feridos", disse a autoridade da Suíça, onde mora.
Sobre as condições impostas pelos militares para uma possível visita à Mianmar, que a ONU solicita há um mês, a resposta que Schraner obteve foi que ela seria bem-vinda, mas "não agora", pois alguns problemas precisam ser resolvidos antes.
Os Estados Unidos reagiram dizendo-se "horrorizados" com a "violência atroz" dos militares birmaneses e advertiu que estuda "novas medidas" para que os militares "prestem contas", de acordo com o porta-voz da diplomacia americana, Ned Price.
- "A democracia é nossa causa"-
Vídeos publicados nas redes sociais nesta quarta-feira mostram jovens cobertos de sangue, explosões e gritos de manifestantes: "Nossa revolta deve vencer!"
Com o bloqueio da internet, um reforço do arsenal repressivo e ondas de prisões, a junta militar está determinada a sufocar seus detratores desde o golpe que derrubou o governo civil de Aung San Suu Kyi.
Os birmaneses continuam, apesar de tudo, saindo às ruas para exigir a saída dos generais golpistas e a libertação de centenas de detidos presos nas últimas semanas.
A situação é muito tensa em Yangon, a capital econômica, onde seis manifestantes perderam a vida, segundo um socorrista e um jornalista local.
Pelo menos onze manifestantes foram mortos em quatro cidades centrais, incluindo dois em Mandalay e sete em Monywa, de acordo com fontes médicas.
O domingo também foi especialmente violento, com pelo menos 18 manifestantes mortos, de acordo com a ONU.
Uma das vítimas foi sepultada nesta quarta-feira. Centenas de pessoas gritaram "a democracia é nossa causa" durante a cerimônia.
- Jornalistas acusados -
A repressão também continua no âmbito judicial.
O ex-presidente da República Win Myint, que já havia sido acusado de não respeitar as restrições vinculadas à pandemia, foi acusado agora de violar a Constituição, informou à AFP seu advogado Khin Maung Zaw.
A ex-chefe de fato do governo Aung San Suu Kyi, que continua detida em um local secreto, enfrenta quatro acusações, incluindo "incitação a desordens públicas".
Seis jornalistas birmaneses, entre eles o fotógrafo da agência americana Associated Press (AP) Thein Zaw, foram acusados de violar uma lei de ordem pública recentemente modificada pela junta, segundo o seu advogado.
O texto engloba agora qualquer pessoa que "cause medo na população, divulgue informação falsa (...) ou incite a desobediência e a deslealdade dos funcionários", explicou.
Os seis homens, que podem ser condenados a três anos de prisão, estão na tristemente célebre penitenciária de Insein, em Yangon, onde muitos presos políticos cumpriram longas sentenças durante as ditaduras anteriores.
"Os jornalistas independentes devem ser autorizados a informar livremente e com segurança, sem medo de represálias", afirmou Ian Philips, vice-presidente de informações internacionais da AP.
- Confusão na ONU -
O exército continua ignorando as críticas internacionais.
O embaixador de Mianmar na ONU, Kyaw Moe Tun, rompeu com os generais na semana passada e pediu o "fim do golpe de Estado".
Desde então, a junta militar designou um substituto, mas Kyaw Moe Tun afirma que continua representando o país, uma disputa jurídica que deve ser solucionada pelas Nações Unidas.
O Conselho de Segurança abordará novamente a situação de Mianmar na sexta-feira a pedido do Reino Unido.
No início de fevereiro, os 15 países membros do Conselho expressaram inquietação com a situação de Mianmar em uma declaração, mas sem condenar o golpe de Estado, pois China e Rússia são apoios tradicionais do exército birmanês e não aceitaram a menção no texto.