Os livros suspensos "retratam as pessoas de uma maneira errada e dolorosa", disse a empresa em um comunicado publicado em seu site nesta terça-feira (2), no aniversário do escritor Theodor Geisel (1904-1991), mais conhecido como Dr. Seuss.
O anúncio é feito no momento em que cresce o debate nos Estados Unidos sobre a forma como as minorias são descritas em vários livros do Dr. Seuss e ganha força a discussão que questiona se livros que usam termos ou ilustrações racistas devem continuar sendo publicados e usados nas escolas.
A empresa disse que um grupo de especialistas que inclui educadores revisou todo o seu catálogo e suspendeu as vendas desses seis livros, com o objetivo de "apoiar todas as crianças e famílias com mensagens de esperança, inspiração, inclusão e amizade".
Várias figuras conservadoras denunciaram o que consideram uma forma de censura em nome do politicamente correto. Para elas, os livros são vítimas da "cultura do cancelamento", que busca manchar a imagem ou prejudicar a atividade de uma personalidade ou empresa para obrigá-la a retirar declarações, imagens ou produtos considerados ofensivos ou discriminatórios, a pedir desculpas e até a se retirar da vida pública. "Quando a História examinar este período, ele será considerado um exemplo de disputa sócio-política depravada, alimentada pela histeria e loucura", tuitou o senador republicano Marco Rubio.
Os livros do Dr. Seuss, escritos en rima, tiveram mais de 650 milhões de exemplares vendidos e foram traduzidos para dezenas de idiomas, mas são alvo de uma releitura, devido à forma como apresentam os negros e asiáticos. Um estudo de 2019 publicado na revista "Research on Diversity in Youth Literature" analisou 50 de seus livros e concluiu que 43 dos 45 personagens não brancos tinham "características que se alinham com a definição de Orientalismo". Os dois personagens negros dos livros foram identificados como "africanos" e ambos "se alinham com o tema da antinegritude".
Em um dos livros retirados de circulação, dois homens originários da África aparecem com o peito nu, sem sapatos enquanto carregam um animal exótico. Em outro, os olhos de um personagem descrito como chinês são pintados com duas linhas pretas. O homem veste sapatos tradicionais japoneses e aparece com uma tigela de arroz e hashis.
Segundo o estudo, Seuss publicou desenhos antissemitas e racistas em uma revista nos anos 1920, bem como propaganda racista contra o Japão durante a Segunda Guerra Mundial. Suas charges durante a guerra para o jornal esquerdista de Nova York "PM", no entanto, também foram elogiadas por criticarem o racismo, antissemitismo e isolacionismo americano.
A enteada de Seuss, Lark Grey Dimond-Cates, declarou hoje ao jornal "New York Post" que "não havia um osso racista" no corpo do escritor, mas considerou a suspensão dos livros "uma decisão sábia".
O anúncio gerou uma disputa pelos livros suspensos no eBay. A primeira edição de "On Beyond Zebra!" viu seu preço subir de 14,99 dólares ontem para 810 esta tarde.
NOVA YORK