Jornal Estado de Minas

LAGOS

Nigéria anuncia liberação de 42 sequestrados, mas 317 jovens permanecem reféns

As 42 pessoas, incluindo 27 menores de idade, sequestradas há 10 dias em uma escola da região centro-oeste da Nigéria foram liberadas, anunciaram neste sábado as autoridades locais, um dia depois de um novo sequestro de 317 jovens no norte do país.



"Os estudantes, professores e seus parentes do Colégio de Ciências de Kagara recuperaram a liberdade e foram recebidos pelo governo local", anunciou Abubakar Sani Bello, governador do estado de Níger, centro-oeste do país, região muito afetada pela ação de grupos criminosos.

Em 18 de fevereiro, homens armados atacaram a escola pública de Ensino Médio de Kagara e mataram um estudante. Eles sequestraram 27 alunos, três professores e 12 parentes de funcionários do colégio.

Os criminosos espalham o terror no centro-oeste e noroeste da Nigéria, com sequestros em larga escala para exigir o pagamento de resgate, saques a vilarejos e o roubo de gado há vários anos.

Mas nos últimos meses também intensificaram os sequestros nas escolas.

Na sexta-feira, 317 alunas adolescentes de uma escola do Ensino Médio do estado de Zamfara (noroeste) foram sequestradas em seus dormitórios. As forças de segurança e moradores iniciaram uma operação de resgate.



No mesmo dia, pais de estudantes sequestradas atacaram o comboio oficial que desejava entrar na escola. Um jornalista ficou gravemente ferido na cabeça.

Na manhã deste sábado, a situação era mais calma, de acordo com pessoas entrevistadas pela AFP.

- "Chantagem" -

No início de dezembro, 344 alunos foram sequestrados em uma escola de Kankara, no estado vizinho de Katsina. A liberação aconteceu uma semana mais tarde.

Após cada novo sequestro, as autoridades federais e locais repetem que não pagam resgate para obter a libertação dos reféns, algo que é pouco provável, de acordo com especialistas em segurança que temem a multiplicação deste tipo de crime na região.

No início de fevereiro, Awwalun Daudawa, que coordenou o sequestro de Kankara, se entregou às autoridades em troca de um acordo de anistia, durante uma cerimônia pública na presença de um grupo de jornalistas.

O analista Yan Saint-Pierre, que dirige o Modern Security Consulting Group, afirmou que isto envia um sinal ruim para os criminosos.



O presidente Muhammadu Buhari, muito criticado pela situação catastrófica da segurança no norte da Nigéria, afirmou na sexta-feira à noite que não cederá à chantagem dos bandidos no caso das jovens sequestradas e, Zamfara.

- Violência, extrema pobreza -

O número é incerto, mas estes grupos atraem cada vez mais jovens desempregados nestas regiões, que registram mais de 80% de pobreza extrema em sua população.

"Não é possível dizer quantos são exatamente", explica à AFP Nnamdi Obasi, analista para a Nigéria do International Crisis Group (ICG). "Eles se dividem, reagrupam, formam alianças entre eles. Apenas no estado de Zamfara se calcula que existem 40 lugares onde vivem e se escondem", completa.

Alguns grupos têm centenas de combatentes e outros apenas dezena. Vários deles têm fortes relações com grupos jihadistas presentes no nordeste do país.

A violência dos grupos criminosos provocou mais de 8.000 mortes desde 2011 e forçou a fuga de mais de 200.000 pessoas de suas casas, de acordo com um relatório do ICG publicado em maio de 2020.

A outra preocupação com a nova tendência é que os sequestros estimulam cada vez mais a saída dos alunos das escolas, particularmente das meninas, nesta região que já registra um elevado índice de crianças que não frequentam os centros de ensino, segundo o ICG.

audima