"Esta complementaridade é a chave", disse o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, durante uma videoconferência de três horas com os líderes dos 27 países do bloco.
"Queremos reforçar a capacidade da UE de atuar de maneira autônoma, com o desejo de ser um associado confiável para a Otan e os Estados Unidos", completou.
Na opinião do belga, "uma parceria forte requer parceiros fortes. Portanto, uma União Europeia forte representa uma Otan mais forte".
Por sua vez, o secretário-geral da Otan, o norueguês Jens Stoltenberg, declarou por videoconferência que a aliança militar partilha com a UE "quase a mesma população, os mesmos membros e os mesmos desafios".
"Isso torna absolutamente claro que devemos trabalhar juntos", acrescentou.
- Questionamentos -
Para Stoltenberg, "todos enfrentamos as mesmas ameaças, e nem a Europa nem os Estados Unidos podem enfrentá-los sozinhos".
"Queremos promover a adaptação e preparação da União Europeia para enfrentar de forma eficaz as ameaças e desafios no âmbito da segurança", ressaltaram os líderes em uma declaração divulgada no fim da reunião.
Os europeus, em particular, insistem em fortalecer as parcerias com a ONU, Estados Unidos e Otan.
"Esta cooperação global se beneficiará de uma UE mais forte na área da segurança e da defesa", argumentam no documento.
"Seguimos comprometidos com implementar a Agenda Estratégica 2019-2024, buscando um curso de ação mais estratégico e um aumento na capacidade da UE de atuar de forma autônoma", enfatizam na declaração.
Vários líderes europeus promovem uma visão baseada na "autonomia estratégica" da UE em matéria de segurança e defesa.
Uma autoridade europeia observou, porém, que o fortalecimento da capacidade "da UE de agir de forma autônoma preocupa os países na linha de frente contra a Rússia, porque temem uma desconexão europeia da Otan".
Essas preocupações "são reforçadas pelo questionamento da existência da Otan por alguns líderes nos Estados Unidos e na Europa", aponta.
Uma fonte diplomática afirmou à AFP que durante a conferência os representantes da Lituânia, Letônia e Polônia expressaram esta preocupação de forma enfática, "mas ninguém questionou a necessidade de atuar de maneira autônoma".
O presidente francês Emmanuel Macron disse em uma entrevista há uma semana que a Otan deveria "ser revisada, porque a aliança foi projetada para enfrentar o Pacto de Varsóvia, e o Pacto de Varsóvia não existe mais".
Vários ex-signatários desse pacto militar, aliados da União Soviética, são agora membros da própria União Europeia ou candidatos e fazem parte da Otan.
- Diversidade de ameaças -
As ameaças atuais à UE incluem terrorismo e ataques cibernéticos, e Macron insistiu na quinta-feira sobre a necessidade de a Europa desenvolver capacidades para "antecipar novas ameaças, sejam elas cibernéticas, marítimas, espaciais ou aéreas".
Um alto funcionário europeu observou que "o nível de ameaça é atualmente o mais alto desde a Guerra Fria e não vem da Rússia. Não passa um dia sem um ataque à nossa infraestrutura estratégica".
Já o eurodeputado conservador francês Arnaud Danjean, especialista em questões de defesa, lamenta o "falso debate" criado em torno da autonomia da defesa da UE.
"Todos sabem que o coração da Otan é seu papel no front oriental, enfrentando a Rússia", disse ele.
Enquanto isso, um diplomata destacou que "os europeus têm meios para agir, mas precisam de vontade política. Países como Alemanha, Espanha ou Portugal ainda se recusam a participar além das missões de treinamento".
BRUXELAS