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Estado de Minas CUENCA

Equador frente à barbárie de suas prisões após 'massacre' de 79 detentos


25/02/2021 05:57 - atualizado 25/02/2021 06:01

O Equador viu escancarada na quarta-feira a barbárie que dominou por horas suas principais prisões: 79 presos morreram em revoltas simultâneas que deixaram corpos decapitados e que revelaram o poder das gangues do narcotráfico nos presídios superlotados.

Um dia após as piores revoltas no sistema penitenciário, o comandante a polícia, general Patricio Carrillo, citou "confrontos na prisão de Guayaquil, com a óbvia desvantagem (da polícia) diante da agressividade e irracionalidade dos grupos criminosos".

Horas depois, o Serviço Nacional de Atenção Integral a Pessoas Adultas Privados de Liberdade (SNAI) informou que, com a participação de carcereiros, policiais e das Forças Armadas, os "incidentes ocorridos" na prisão foram "controlados".

Foi "um extermínio entre gangues criminosas", denunciou o presidente Lenín Moreno ao falar sobre os incidentes de terça-feira, que ele classificou de "barbárie".

Nunca antes este país de 17,4 milhões de habitantes enfrentou uma crise carcerária dessas dimensões.

Em Guayaquil, Cuenca e Latacunga - que concentram 70% da população carcerária - estourou uma série de confrontos na terça-feira pelo aparente controle dos centros de detenção.

Durante a quarta-feira, o sistema penitenciário aumentou o número de vítimas de 75 para 79: 37 em Guayaquil, 34 em Cuenca e oito em Latacunga. Presos e policiais feridos também são oficialmente mencionados, mas sem números detalhados.

Foi um "massacre sem precedentes", disse o Ministério Público.

Terceira maior cidade do Equador com cerca de 600 mil habitantes, Cuenca digeria o choque após as revelações do procurador local Leonardo Amoroso: "Cerca de 18 cadáveres foram decapitados, tentaram até cremar os corpos".

O governo acredita que foi um ataque coordenado de um grupo criminoso envolvido no tráfico de drogas para eliminar uma gangue rival.

"O que aconteceu ontem não foi por acaso. Foi organizado de fora das prisões e orquestrado internamente por quem disputa a liderança e o tráfico de drogas em todo o território nacional", afirmou Moreno.

As autoridades afirmam "que é uma guerra de gangues", mas a superlotação e precariedade nas prisões "é generalizada e também é um tipo de violência e causa violência", disse à AFP o especialista em assuntos carcerários Jorge Núñez, do Centro de Etnografia Interdisciplinar Kaleidos.

- "Eles iam matá-lo" -

Nos arredores da prisão de Turi, Digna Pacho espera que alguém lhe dê notícias sobre o corpo de seu filho de 33 anos. Jackson, España, 'El Ñato', foi transferido de Esmeraldas, na costa do país, para a andina Cuenca após receber uma sentença de 35 anos por um assassinato que cometeu durante um motim na prisão.

A mulher de 63 anos viajou 14 horas pela estrada. Sentada na beira de uma calçada, tremendo de frio, ela garante à AFP que 'El Ñato' entrou em contato com seu advogado na terça-feira para pedir ajuda porque "eles iam matá-lo". "Só quero que o corpo de Jackson seja entregue a mim e volto para Esmeraldas", completou.

Entre outros parentes, a lei do silêncio reinou.

Ana Arpi, vendedora de alimentos fora da prisão, afirma que nunca tinha visto algo parecido com o que aconteceu na terça-feira: "Gente desesperada, presos que fugiam, tiros foram disparados por toda parte, gritos de desespero".

Segundo seu relato, algumas pessoas que estavam visitando detentos corriam "aterrorizadas porque iam ser mortas. Foi uma loucura".

As autoridades identificaram gangues como Los Pipos, Los Lobos, Tigrones e Chone Killers dentro das prisões.

Como resultado da crise, o presidente Moreno ordenou aos militares que apoiassem as tarefas de "controle de armas, explosivos e munições no perímetro externo dos centros de reabilitação social 24 horas por dia e pelo tempo que for necessário".

- Pedido da ONU -

O escritório da ONU no Equador solicitou nesta quarta-feira "uma investigação imediata e imparcial". Também pediu punir "os responsáveis e administrar a crise de acordo com os padrões da Constituição e os instrumentos internacionais de direitos humanos".

As autoridades alegaram ter recuperado o controle das prisões.

Em uma das operações que se seguiram à revolta no porto de Guayaquil, "foram recolhidas provas como armas de fogo, facas, facões, telefones celulares e drogas. As armas foram utilizadas nos ataques entre os detentos", revelou o procurador Carlos Vaca.

O Equador tem cerca de 60 presídios com capacidade para abrigar 29.000 pessoas, mas a superlotação gira em torno de 30%.

Hoje, existem cerca de 38.000 presos sob a custódia de aproximadamente 1.500 guardas. De acordo com especialistas, seriam necessários 4.000 guardas para exercer um controle eficaz das prisões.

O governo Moreno tentou conter a violência nas prisões decretando um estado de exceção que durou até novembro. Apoiado nessa medida, o presidente enviou militares para reforçar a vigilância.

Mas, somente em 2020, houve "103 assassinatos" no sistema prisional, segundo o Ministério Público, que relatou um aumento nas mortes violentas em comparação com os "últimos anos".


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