"O espaço que algumas megacidades roubaram da natureza pode ter sido uma das causas da transmissão do vírus dos animais para os humanos. Como disse o Papa Francisco, 'as tragédias naturais são a resposta da Terra aos nossos maus tratos", assegurou Draghi pouco antes do voto de confiança nesta quarta-feira no Senado.
"O aquecimento global tem efeitos diretos em nossas vidas e em nossa saúde", alertou ele, listando os desafios históricos que deve enfrentar devido à pandemia de coronavírus que causou quase 100.000 mortes na Itália.
- Os vínculos de Draghi com Francisco -
Os laços de Draghi com o papa argentino - o primeiro pontífice jesuíta da história - são interessantes, já que o renomado economista foi formado no colégio jesuíta de Roma e acredita na doutrina social da Igreja e na solidariedade com esta.
Em julho passado, o papa Francisco o nomeou membro da Pontifícia Academia de Ciências Sociais, que inclui 26 outras personalidades, incluindo a turca Dani Rodrik, vencedora do Prêmio Princesa das Astúrias de 2020 em Ciências Sociais, e o americano Joseph E. Stiglitz, Prêmio Nobel em Economia.
"Draghi teve várias audiências privadas e telefonemas com o Papa Francisco. Ele há muito tempo é bem considerado dentro do Vaticano", escreveu a agência americana especializada em notícias católicas, a Catholic News Agency.
O ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE), que se define como um "socialista liberal", já foi colaborador do jornal oficial do Vaticano, L'Osservatore Romano, e é muito apreciado pelo diretor do jornal jesuíta La Civiltà Cattolica, Padre Antonio Spadaro, um dos religiosos mais próximos do Papa.
Segundo o jornalista Georgio Meletti, do jornal Domani, Draghi exerceu a liderança sem buscá-la, um dos grandes ensinamentos dos jesuítas.
"Quando estava à frente do banco central italiano, Draghi expressou sua visão de mundo e seus princípios. Suas intervenções foram muito poucas, para proteger sua imagem, e mais que um defensor do neoliberalismo, ele parecia um católico solidário, antecipando as saídas anti-capitalistas do jesuíta Francisco ", lembrou.
Em seu primeiro discurso como chefe de governo, Draghi também aderiu à encíclica "Laudato Sí" de Francisco, na qual vincula o chamado "cuidado da casa comum" à justiça social.
"Proteger o futuro do meio ambiente e conciliá-lo com o progresso e o bem-estar social exige uma nova visão", alertou aos senadores.
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