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Estado de Minas BAJO CHIQUITO

Enfrentando a morte, migrantes cruzam a selva panamenha para os EUA


12/02/2021 12:46

"Você pode morrer", lamenta o sudanês Ahmed Kabeer, depois de passar cinco dias na selva panamenha do Darién, transformada em corredor para a migração irregular em busca da realização do sonho americano.

Cansadas, com feridas e calos nos pés, várias pessoas atravessam o rio para chegar à aldeia panamenha de Bajo Chiquito, na fronteira com a Colômbia.

Nesse povoado de ruas de terra, o Estado panamenho instalou um dos acampamentos que possui na fronteira com a Colômbia para prestar assistência humanitária aos migrantes.

Casas simples e barracas com roupas penduradas são vistas na aldeia. O choro ocasional de crianças também é ouvido e o cheiro de fogões improvisados é sentido.

Alguns migrantes precisam da ajuda da polícia enquanto cruzam o rio. Outros aproveitam a torrente de água para se refrescar do sol inclemente.

- Mortos na selva -

Em um ritmo cansativo, pessoas de fora, incluindo crianças pequenas e mulheres aparentemente grávidas, caminham carregando os poucos pertences que lhes restam.

Acabaram de deixar o Tampão de Darién, um corredor de selva de 266 km entre a Colômbia e o Panamá.

"Se soubesse como era essa rota antes, não a teria tomado", diz Kabeer à AFP. "Foi muito difícil e muito perigoso, está cheio de obstáculos", lembra o sudanês de 34 anos.

Ele afirma que três migrantes do seu grupo morreram cruzando a selva.

"Caíram (de um penhasco) quando subimos a montanha e morreram, dois homens e uma mulher", conta após cruzar a selva em cinco dias, mancando e com uma cicatriz profunda na perna esquerda.

Darien, uma floresta virgem de 575.000 hectares e sem rotas de comunicação terrestre, tornou-se uma rota para a imigração irregular da América do Sul para os Estados Unidos.

Os migrantes enfrentam cadeias de montanhas, rios caudalosos, cobras venenosas, onças, aranhas, escorpiões, lagartos, abelhas africanas e até mesmo a atividade de grupos criminosos.

"Bandidos nos renderam três vezes, roubaram-nos todo o dinheiro, atiraram contra nós", relata o angolano Paulo da Silva à AFP.

- Nova onda migratória -

E os migrantes devem esperar que os países centro-americanos abram suas fronteirar para continuar o percurso.

Em Bajo Chiquito, havia 500 migrantes no início da semana, mas as autoridades esperam uma nova onda.

"Temos informações de que cerca de 800 migrantes estão vindo, estamos nos preparando", alertou poucos dias antes à AFP Jorge Bernal, chefe da Primeira Brigada Oriental do Serviço Nacional de Fronteiras (Senafront).

De acordo com dados oficiais, mais de 47.000 pessoas cruzaram a fronteira de Darién desde 2017. Embora o fluxo tenha diminuído em 2020 devido à pandemia, mais de mil pessoas já o cruzaram.

A maioria são haitianos e cubanos, mas também há asiáticos e africanos, que descobriram uma maneira de chegar aos Estados Unidos pela rota panamenha, apesar do perigo.

O Darién é "um dos pontos mais perigosos da viagem, pois tem que passar pela selva em rotas irregulares e em condições de risco", avisa Santiago Paz, chefe da Organização Internacional para as Migrações (OIM).

"Os números sobre mortes são incertos" e a situação é mais "preocupante" com a covid-19, lamenta Elías Solís, presidente da Cruz Vermelha do Panamá.

Como se não bastasse, o número de crianças que cruzaram a selva disparou, com mais de 6.200 em quatro anos.

Atualmente, um em cada quatro migrantes é menor de idade e a maioria tem menos de 5 anos.

Muitos chegam desidratados, com parasitas, feridas e várias doenças.

"Agora, as famílias e adultos migrando para os Estados Unidos estão decidindo fazer a rota com as crianças", ressalta Diana Romero, técnica em proteção e migração do Unicef Panamá.


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