Draghi, conhecido como "Super Mario" por seu papel no resgate da zona do euro em 2012, em plena crise da dívida, foi convocado pelo presidente Sergio Mattarella após a renúncia do primeiro-ministro Giuseppe Conte, abandonado pelo partido Itália Viva, essencial para a coalizão de governo.
Draghi espera reunir partidos nos extremos do tabuleiro político em um governo de transição responsável por aplicar o plano de recuperação econômica e organizar a campanha de vacinação contra a covid-19, que já provocou mais de 90.000 mortes no país.
Draghi já tem o apoio de pequenos partidos e bancadas parlamentares, além do Partido Democrata (PD, centro-esquerda) e do Itália Viva, formação de centro que provocou a implosão do governo Conte por uma divergência sobre o plano de recuperação.
O partido do empresário e ex-chefe de Governo Silvio Berlusconi, Força Itália (FI, centro-direita), também comprometeu a apoiar Draghi.
O imprevisível Salvini, líder de um partido nacionalista, anti-imigração e eurocético, e para quem Draghi é a encarnação da elite europeia e tecnocrática, estendeu neste sábado, no entanto, a mão ao ex-presidente do BCE.
"Estamos à disposição. Somos a maior força política do país, temos uma força que deve governar (...) Ao contrário dos outros, não acreditamos que é possível avançar afirmando sempre não", declarou Salvini após um encontro com Draghi.
"Prefiro estar dentro e controlar o que o Executivo aplica", explicou.
O Movimento 5 Estrelas (M5E, antissistema), que governou o país com Salvini como ministro do Interior em 2018 e 2019, também se declarou disponível para "superar qualquer obstáculo no interesse do país".
O PD quer dar os votos de seus deputados a Draghi, mas sem entrar no governo, caso o Executivo atribua ministérios à Liga.
Como era esperado, o partido de extrema-direita Fratelli d'Italia disse não a Draghi.
Conte, apoiado até o fim pelo M5E - ao qual não pertence, mas do qual é próximo -, prometeu na quinta-feira não ser um obstáculo para Draghi, a quem desejou boa sorte.
"Sempre trabalhei pelo bem do país", afirmou o primeiro-ministro demissionário.
- Um desafio colossal -
Draghi se reunirá na segunda-feira com as "forças sociais" - sindicatos, associações, organizações profissionais - antes de uma segunda rodada de contatos com os partidos políticos nos dias seguintes.
Para o economista de 73 anos, o desafio é colossal.
A Itália espera receber a maior parte - quase 200 bilhões de euros (240 bilhões de dólares) do fundo de recuperação europeu aprovado em julho, mas deve apresentar um plano de gastos a Bruxelas até o fim de abril.
A terceira maior economia da Eurozona está em crise, devastada pelos efeitos catastróficos da pandemia. A península sofreu em 2020 uma das quedas mais expressivas do PIB na UE, com um retrocesso de 8,9%.
A Itália, país europeu mais atingido pela pandemia, adotou um confinamento rígido em março e abril, o que paralisou grande parte das atividades econômicas.
Se Draghi não conseguir a maioria parlamentar ou não conquistar a confiança do Parlamento, o país pode ter eleições legislativas antecipadas.
O presidente Mattarella, o único que pode convocar eleições antes do fim da legislatura, em 2023, já ressaltou que deseja evitar eleições antecipadas em plena crise de saúde e econômica.
ROMA