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Estado de Minas MOSSUL

Centro histórico de Mossul está à venda, mas não há compradores


29/01/2021 09:30

O centro histórico de Mossul continua em ruínas, três anos depois dos combates para expulsar os jihadistas do Estado Islâmico. Sem ajuda para reconstruí-lo e uma economia em queda livre, os proprietários estão desesperados para vender suas casas.

Mas muitos dos que viveram os horrores da tirania do grupo jihadista não conseguem encontrar compradores para suas propriedades no que ainda parece um campo de batalha.

Os escombros bloqueiam as ruas e prédios em ruínas desfiguram o centro de uma cidade antes famosa por suas mesquitas, igrejas e sinagogas.

Um cheiro desagradável envolve bairros inteiros. Os moradores atribuem o odor aos corpos enterrados sob os escombros, à destruição de dutos de esgoto e a lixões ilegais.

Muitas casas nas margens do rio Tigre não sofreram danos, mas não estão acessíveis porque o EI instalou minas e armadilhas.

"Durante meses, tentei vender minha casa na cidade velha porque estava muito danificada para morar", diz Saad Gergis, de 62 anos. "Mas ninguém quer comprá-la porque está rodeada de casas que exalam cheiros horríveis".

O EI, que criou um "califado" num extenso território abrangendo a Síria e o Iraque, conquistou Mossul em 2014, mas foi expulso pelo Exército iraquiano em meados de 2017, após meses de violentos combates nas ruas.

Muitos residentes de Mossul esperavam que o Estado os compensasse ou ajudasse a reconstruir a cidade destruída, mas a crise econômica e política destruiu suas esperanças.

Gergis juntou o que pôde e comprou um terreno fora da cidade para tentar construir uma nova casa para sua esposa e quatro filhos.

Enquanto a construção é concluída, mora de aluguel nos arredores de Mossul.

Gergis acha difícil voltar para seu antigo bairro, onde viveu por três anos sob a brutal lei do EI.

"Quando volto, vejo todos os horrores do EI: massacres, explosões, execuções", diz à AFP.

- Ajuda do Estado -

O Iraque sofre a pior crise econômica em anos, exacerbada pelo colapso do preço do petróleo no ano passado e pela pandemia do coronavírus. O dinar desvalorizou 25%.

"Comprei minha casa muito antes da guerra por 60 milhões de dinares iraquianos", cerca de US$ 50.000 na época, conta Gergis à AFP. "Agora não vale um quarto. O mesmo vale para todas as casas da cidade velha".

Maher Al-Naqib, um corretor de imóveis em Mossul, diz que os preços das casas despencaram em uma cidade devastada que recebeu pouca ajuda do governo.

"O Estado não pagou pelos danos, os serviços públicos não foram restaurados, os prédios do governo não reabriram e as pontes não foram reconstruídas", afirma.

De acordo com as autoridades locais, Mossul enviou 90.000 pedidos de indenização ao governo central, incluindo 40.000 por perdas humanas e 50.000 por propriedades destruídas.

Mas com recursos cada vez mais escassos, Bagdá compensou apenas 2.500 famílias.

Como resultado, diz Naqib, os preços das casas antes muito altos no centro histórico "despencaram".

- Periferia -

Muitos deram as costas ao centro outrora apreciado.

Naqib afirma que os ex-moradores estão pedindo informações sobre a possibilidade de comprar terrenos na periferia, mais baratos e com melhores serviços.

Fora de Mossul agora crescem complexos residenciais com estradas pavimentadas, eletricidade confiável e água potável.

Os novos subúrbios, com nomes como Zayuna, Fellah-2 e Jamiyati, prometem normalidade e serviços básicos que os moradores de Mossul praticamente careciam na última década.

Yunes Hasun, um incorporador imobiliário de 56 anos de Mossul, diz que os novos subúrbios são o futuro da cidade.

"Esses enormes prédios são mais fáceis de registrar nas autoridades do que os antigos terrenos, onde os processos burocráticos assustam as pessoas", explica.

Também é mais barato, já que o metro quadrado custa entre 75 e 200 dólares.

Uday Hamid, de 42 anos, comprou um lote há pouco mais de um ano e acaba de concluir a construção de sua casa.

"Pude comprar 200 metros quadrados por cerca de 20 milhões de dinares. Pela mesma quantia, compraria metade da superfície no centro de Mossul", explicou à AFP.

Este pai de cinco filhos diz que as vendas estão crescendo nesta área.

Converter terras rurais em áreas urbanizáveis costuma ser um processo burocrático árduo no Iraque.

Mas com a pequena perspectiva de reconstrução de Mossul, sem compensação à vista e com quase 1,2 milhão de pessoas deslocadas no país, poucos se importam com os regulamentos, mesmo com as autoridades lutando para mantê-los.

Diante da proliferação de conjuntos habitacionais, o prefeito de Mossul, Zuhayr al Araji, garante que a cidade está preparando um plano de desenvolvimento urbano.

Mas, por enquanto, "ainda está em estudo", disse à AFP.


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