Jornal Estado de Minas

MOSCOU

Ao menos 2.500 pessoas são presas na Rússia em atos pró-Navalny

A Rússia viveu neste sábado (23) uma das maiores manifestações registradas nos últimos anos no país, convocadas pelo opositor russo detido Alexei Navalny, que encontra-se preso após retornar ao país. Nela, mais de 2.500 pessoas foram presas e foram registrados protestos em diversas cidades, principalmente em Moscou.



As principais manifestações ocorreram em Moscou e São Petersburgo, com cerca de 20.000 participantes em cada cidade, segundo jornalistas da AFP.

Manifestações também foram realizadas em uma centena de outras cidades, em um movimento de protesto inédito na história recente da Rússia. Ao contrário do que aconteceu neste sábado, as mobilizações de oposição de 2012 e 2019 se concentraram principalmente em Moscou. Além disso, em 2017-2018, houve grandes manifestações contra a reforma previdenciária.

A multidão gritava frases como "Putin ladrão", "Navalny, estamos com você" e "Liberdade para os presos políticos".

Em Moscou, jornalistas da AFP assistiram a detenções violentas e a choques entre policiais e participantes na concentração.

Alguns dos manifestantes foram espancados com cassetetes, e centenas de pessoas se reuniram gritando "liberdade!" não muito longe de um centro prisional no norte da capital russa.

Muitos manifestantes fugiram antes da chegada dos policiais, situados perto da prisão, de acordo com um jornalista da AFP.

Leonid Volkov, membro da equipe Navalny, afirmou que "entre 250.000 e 350.000 pessoas" foram "às ruas" em toda a Rússia.



"É algo sem precedentes", declarou ao canal no YouTube Navalny LIVE, anunciando novas manifestações marcadas para "o próximo fim de semana".

O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, lamentou no Twitter "as prisões em massa" e o "uso desproporcional da força", e disse que na segunda-feira iria discutir "as próximas etapas com os ministros das Relações Exteriores" da União Europeia.

Em Washington, o governo Joe Biden também condenou "métodos brutais" contra "manifestantes e jornalistas" na Rússia, escreveu o porta-voz do Departamento de Estado dos Estados Unidos, Ned Price, em um comunicado.

Por sua vez, as autoridades canadianas, "profundamente preocupadas", apelaram ao governo russa para "libertar imediatamente" os detidos.

Em nota, a Anistia Internacional acusou a polícia de ter "espancado indiscriminadamente e detido arbitrariamente" os manifestantes.

- Cassetetes contra bolas de neve -

Em Moscou, a marcha ocorreu em torno da Praça Pushkin e nas ruas e avenidas vizinhas. As bolas de neve lançadas por alguns manifestantes contra a polícia foram respondidas com golpes.



Esta jornada de protestos, organizada por Navalny e por seus seguidores, acontecem alguns meses antes das eleições legislativas marcadas para o outono boreal (primavera no Brasil), em um contexto de queda da popularidade do partido da situação, o Rússia Unida.

As primeiras manifestações no Extremo-Oriente e na Sibéria, onde milhares de pessoas tomaram as ruas em Vladivostok, Khabarovsk, Novosibirsk e Chita, tiveram de enfrentar um significativo dispositivo policial. E, em alguns lugares, a repressão foi brutal.

Mesmo antes do início do protesto na capital, policiais do Batalhão de Choque, em grande número, já haviam detido várias dezenas de pessoas e convocado os manifestantes a "abandonarem a concentração ilegal".

Yulia Navalnaya, esposa de Navalny, foi presa hoje na capital russa, conforme anúncio da própria em sua conta no Instagram.



"Desculpem pela má qualidade , a luz é ruim no furgão policial", escreveu, ironicamente, em sua página, ao publicar uma "selfie".

Mais cedo, nesta mesma rede social ela havia manifestado sua intenção de protestar em Moscou em apoio a seu marido, que "não se rende nunca".

Outros cidadãos protestaram em silêncio, com faixas que diziam "Não tenho medo", ou "Não à ditadura".

Ontem, a polícia de Moscou havia advertido que "reprimirá" qualquer protesto não autorizado que considere uma "ameaça à ordem pública".

A prefeitura da capital denunciou manifestações "inaceitáveis" em meio a uma pandemia.

Em Yakuts, ao sul do Círculo Polar Ártico, 100 manifestantes enfrentaram uma temperatura de -50°C.

- Embaixada americana, ponto de mira -

A embaixada americana em Moscou terá de dar explicações sobre a publicação, em sua página na Internet, do itinerário das manifestações deste sábado, afirmou o Ministério russo das Relações Exteriores.



"Ontem (sexta), a embaixada dos Estados Unidos em Moscou publicou as 'rotas dos protestos' em diversas cidades russas e lançou informações sobre uma 'manifestação para o Kremlin'", disse a porta-voz do Ministério russo, Maria Zakharova, na rede social Facebook.

Nossos "colegas americanos terão de vir dar explicações", acrescentou.

Em comunicado, o Ministério das Relações Exteriores russo indicou que a direção da embaixada americana seria convocada para uma "conversa séria".

Preso até pelo menos 15 de fevereiro e com vários processos judiciais abertos contra ele, Navalny, de 44 anos, foi preso em 17 de janeiro ao retornar da Alemanha. Ele passou meses em Berlim se recuperando de um envenenamento, pelo qual responsabiliza o Kremlin.

Três laboratórios europeus também concluíram que se tratou de um envenenamento. Moscou nega categoricamente qualquer envolvimento e denuncia um complô.

Mesmo sabendo que corria o risco de ser preso, Navalny decidiu voltar para a Rússia com sua mulher, no domingo passado, e pediu a seus apoiadores que protestassem.

Pouco depois de seu retorno, publicou uma investigação sobre um luxuoso palácio nas margens do Mar Negro, do qual o presidente russo, Vladimir Putin, se beneficiaria. O vídeo que acompanha a denúncia teve mais de 70 milhões de visualizações no YouTube.

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