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Estado de Minas BAGDÁ

Atentado em Bagdá escancara fragilidades das forças de segurança


22/01/2021 11:51

O duplo atentado suicida na quinta-feira em Bagdá, reivindicado pelo grupo Estado Islâmico (EI), colocou em evidência os problemas nas forças de segurança iraquianas, debilitadas pela pandemia de coronavírus, grupos armados rivais e tensões políticas.

Pelo menos 32 pessoas morreram e mais de 100 ficaram feridas no ataque, cometido em um bairro comercial da capital. Foi o mais mortífero em anos.

"O EI não retornou (...) mas há verdadeiros problemas dentro do aparato de segurança iraquiano e (este atentado) é a prova", comentou à AFP AFP Jack Watling, pesquisador no Royal United Services Institute de Londres.

Em 2003, quando os americanos derrubaram Sadam Hussein, o aparato de segurança foi renovado completamente, principalmente com a ajuda de instrutores estrangeiros, que deixaram o país com a pandemia de covid-19.

A falta de espaço e alto índice de contágios nos quarteis, além dos chamados das tropas estrangeiras para ajudarem em seus países, "criaram lacunas", admitiu recentemente um oficial americano à AFP.

Os iraquianos perderam grande parte do apoio da coalizão em termos de vigilância, "um sistema de alerta precoce" crucial para abortar ataques jihadistas, de acordo com Watling.

O Iraque declarou vitória sobre o EI no final de 2017, reabriu ruas e removeu quilômetros de cercas em Bagdá. As tropas mais experientes foram enviadas em busca de células jihadistas adormecidas, em desertos e montanhas, e as cidades foram deixadas nas mãos de unidades militares menos treinadas.

Para o especialista Alex Mello, "a rede do EI para ataques urbanos em Bagdá parecia degradada, a ponto de quase não funcionar", mas o grupo acabou encontrando "uma lacuna a explorar".

O oficial americano deu alguns exemplos: Em dezembro, a coalizão realizou um bombardeio perto de Mossul, no norte do país, visto que o grupo jihadista começava a circular livremente, dada a incapacidade das tropas terrestres em contê-lo.

Em um único bombardeio, 42 jihadistas foram mortos, de acordo com a coalizão. Um balanço sem precedentes.

"As autoridades em Bagdá ficaram furiosas com as forças locais, que deveriam saber que todos esses jihadistas haviam se reagrupado", disse a autoridade americana à AFP.

E isso não é nada comparado com a outra grande questão que abala o Iraque: que papel deve ser dado aos ex-paramilitares das Forças de Mobilização Popular (Hashd al Shaabi), que muitos consideram milicianos pró-Irã e que agora que fazem parte do Estado?

Como fazê-los trabalhar lado a lado com as unidades de elite criadas pelos americanos?

Já se foi a sagrada união da guerra contra o EI de 2014 a 2017, quando a coalizão, as Forças de Mobilização Popular e o Exército trocavam informações.

Além disso, o governo Trump apenas adicionou lenha à fogueira matando o general iraniano Qasem Soleimani e seu tenente iraquiano Abu Mehdi al Muhandis em Bagdá.

"O principal obstáculo é político", segundo Watling. O primeiro-ministro, Mustafa al-Kazimi, passou por isso várias vezes.

Al-Kazimi, que também é o chefe dos serviços de inteligência estrangeiros e um aliado de longa data dos americanos, está na mira dos comandantes pró-Irã.

Contra eles, frequentemente mobiliza unidades de contraterrorismo de elite, campeãs na guerra contra o EI, que também são usadas para prender funcionários corruptos ou grupos acusados de lançar foguetes contra a embaixada dos Estados Unidos.

Essas unidades são as únicas em que Al-Kazimi pode confiar totalmente, de acordo com observadores.

Mas, ao usá-las dessa forma, as faz competir com outras forças também ligadas ao Estado, os grupos pró-Irã que em muitas ocasiões acabam libertando os homens que as unidades de elite detiveram, frisou o pesquisador Marsin Alshamary, do Instituto Brookings.

"Retirar ordens constantemente e pedir desculpas aos grupos contra os quais você agiu enfraquece o contraterrorismo, o primeiro-ministro e o Estado", acredita.

Na quinta-feira, Al-Kazimi anunciou mudanças na direção da segurança, mas, segundo especialistas, não é apenas nos escalões superiores do comando que é preciso intervir.

"Em um sistema burocrático corrupto, ninguém está de mãos limpas", disse Watling.


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