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Estado de Minas BARCELONA

Na Espanha, hospitais pagam a ressaca das festas de final de ano


22/01/2021 09:26

"Há semanas é difícil ter leitos vazios", lamenta a Dra. Mapi Gracia, do Hospital del Mar em Barcelona, enquanto seus colegas se preparam para receber um novo paciente numa unidade de terapia intensiva lotada pela terceira onda da pandemia na Espanha.

"Começamos o dia com dois leitos livres, mas já temos uma internação e estamos aguardando a segunda. Com isso, teremos mais uma vez 100% da UTI ocupada", acrescenta, com voz resignada, a intensivista de 43 anos.

Como temido, o relaxamento das restrições de mobilidade na Espanha para facilitar as festas de final de ano está afetando os hospitais.

As infecções dispararam, com recordes diários que elevaram o total de casos diagnosticados a 2,4 milhões e as mortes para mais de 55.000.

E o número de hospitalizações e internações em UTI cresceu 82 e 60%, respectivamente, em apenas duas semanas, forçando a implantação de hospitais de campanha em locais como Valência (leste).

Neste hospital de Barcelona (nordeste) localizado em frente ao Mar Mediterrâneo, fundado em 1905 para tratar marinheiros com doenças infecciosas que atracavam no porto, quatro de seus doze andares são para a covid e sua UTI está ocupada por esta doença.

Para atender os demais pacientes críticos, foram montados leitos nas unidades de reanimação cirúrgica, mas à custa da redução de cirurgias não urgentes.

"Não é o tsunami que vivemos em março ou abril, mas estamos piores do que na segunda onda", que na Espanha começou em julho e só foi contida no final do outono boreal, reconhece seu diretor médico, Julio Pascual.

"Em novembro, a UTI não estava totalmente lotada. E na internação geral, tínhamos apenas dois andares dedicados à covid, agora estamos começando a ocupar o quarto", completa ele do alto do hospital, com vista para a praia do Barcelona.

- Batalha sem descanso -

Dez andares abaixo, sob uma serenata de bips que alertam problemas em pacientes internados, a maioria intubado e inconsciente, a equipe da UTI não tem trégua.

Alguns pacientes são deitados de bruços para facilitar a respiração, enquanto médicos verificam uma radiografia de tórax que mostra os pulmões brancos de pneumonia e um fisioterapeuta mobiliza os membros de uma mulher adormecida.

"Entrada iminente", soa no alto-falante. "Há cilindros de oxigênio?", "material de intubação?", ouve-se quando oito profissionais da saúde giram em torno do paciente que chegou em uma maca da internação geral.

"Estamos cansados, estamos na mesma situação há um ano", diz a Dra. Gracia. "Sabíamos que isso iria acontecer depois do Natal, porque as restrições não foram duras. Agora não sabemos até onde chegaremos".

A situação é semelhante nos andares da internação geral, onde uma simpática senhora de 71 anos, Dora López, espera em seu quarto, vestida com roupas normais, para receber alta após quarenta dias de internação.

Ela chegou em meados de dezembro "com febre alta" e logo foi encaminhada para a UTI. "Nos primeiros dias na UTI joguei a toalha, sentia como se estivesse me afogando", conta a mulher, que terminará a recuperação em casa.

Nessa ala foram processadas seis altas durante o dia, mas já há 13 pacientes aguardando internação no pronto-socorro. "Fazemos um esforço para agilizar as altas para que o hospital não desmorone, mas as pessoas não param de subir", diz Silvia Gómez, médica infectologista.

"A gente fica emocionalmente abalado. E aí sai para a rua e vê que as pessoas não respeitam as recomendações e se sente incompreendida, como se não valorizassem o nosso esforço", enfatiza a mulher de 39 anos.

- Depressão e pensamentos suicidas -

Um estudo realizado pelo instituto de pesquisa do mesmo hospital com 10.000 profissionais de saúde espanhóis mostrou que 45% sofria de transtornos mentais no final da primeira onda da pandemia.

Além disso, 28% apresentava sintomas de depressão, percentual seis vezes maior que a população em geral, e 3,5% até pensava em cometer suicídio, explica o diretor do estudo, Jordi Alonso.

"Aqui todos nós choramos. Tem havido muitos colegas afetados emocionalmente. E até que isso acabe e comecemos a normalizar um pouco, vão continuar sofrendo", diz a enfermeira de 29 anos, Carla Molina.

Agora, pelo menos, o início da vacinação no final de dezembro permite que os funcionários do hospital comecem a ver a luz no fim do túnel.

"Vemos que neste ano chegaremos a essa luz. Mas sabemos que em 2021 ainda há um jogo pela frente. Ainda temos uma longa batalha pela frente", alerta o diretor do hospital, Julio Pascual.


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