Jornal Estado de Minas

Adeus solitário de Trump


Foi ao som de YMCA, do grupo Village People, que Donald Trump subiu pela última vez no Air Force One em direção a Mar-a-Lago, na Flórida, onde decidiu morar. Depois de um discurso no qual elencou suas atuações à frente do governo americano, o agora ex-presidente se despediu dizendo: “Tenham uma boa vida, nos vemos em breve”. Depois de divulgar um vídeo de 20 minutos, na tarde de terça-feira, no qual avisava que “o movimento que iniciamos está apenas no começo” e de anunciar a vontade de criar um partido, Trump reafirmou a intenção de voltar à arena política.




 
“Eu só quero dizer adeus, mas espero que não seja um adeus de longo prazo”, disse aos repórteres na Casa Branca, antes de embarcar no helicóptero Marine One com a mulher, Melania Trump, em direção à Base Conjunta Andrews, na qual era aguardado para uma cerimônia de despedida com direito a salva de tiros, música pop e a presença da família e alguns convidados.
 
Na base, em seu último discurso como presidente, o magnata republicano falou sobre como seu governo melhorou a vida dos veteranos e abaixou os tributos. “Espero que eles não aumentem seus impostos, mas se o fizerem, eu avisei”, disse, antes de se autoelogiar por ter sido o responsável por conseguir que as vacinas contra o coronavírus fossem produzidas em menos de um ano. Ao longo de toda a pandemia, Trump minimizou o vírus, que voltou a chamar de chinês ao longo do discurso, desprezou o uso de máscaras, uma das medidas de contenção da doença, e receitou remédios sem eficácia comprovada, como a cloroquina, além de sugerir injeções de água sanitária como forma de prevenção.
 
Trump foi o primeiro presidente a não comparecer à posse de seu sucessor em 152 anos. A decisão também ajudou a esvaziar a cerimônia organizada por ele para sua própria despedida. Convidadas, figuras importantes do Partido Republicano, como o líder no Senado, Mitch McConnell, e Kevin McCarthy, líder da bancada, declinaram porque preferiram comparecer à posse de Joe Biden. Durante a cerimônia militar na base de Andrews, Trump voltou a desejar “boa sorte e muito sucesso” ao novo governo, novamente sem citar Biden pelo nome. “Foram quatro anos incríveis”, disse Trump a assessores, simpatizantes e parentes reunidos no local, após uma saudação de 21 tiros seguida da música Salute to the chief.




 
“Conseguimos muito juntos”, disse ele. “Sempre lutarei por vocês. É minha maior honra e privilégio ter sido seu presidente.” Antes de partir para a Flórida, Trump encorajou seus seguidores, afirmando: “Vamos voltar de alguma forma”. A decolagem do avião presidencial Air Force One coincidiu com o início de uma missa que reuniu Biden e líderes democratas e republicanos do Congresso antes da transferência do comando.
 
Segundo um porta-voz do Executivo americano, Donald Trump seguiu a tradição de deixar uma carta ao seu sucessor. Foi a única tradição respeitada pelo ex-presidente, que dificultou até mesmo o processo de transição de governo e se recusou, por mais de dois meses, a aceitar sua derrota eleitoral. Trump nunca parabenizou Joe Biden pela vitória.

Indultos Em sua última atuação oficial como presidente dos Estados Unidos, Donald Trump concedeu uma série de indultos na madrugada de ontem. Entre os 73 que receberam o perdão está Steve Bannon, seu ex-conselheiro, como antecipado por vários jornais americanos. 




 
Bannon, de 66 anos, foi perdoado da acusação de fraudar cidadãos que doaram dinheiro para construir um muro na fronteira com o México, um dos principais projetos de Trump. Bannon foi também um dos arquitetos da campanha presidencial vitoriosa do magnata, em 2016.

Depois de alguns meses no governo, o conselheiro foi afastado de suas funções por Trump. “Bannon tem sido um líder importante no movimento conservador e é conhecido por sua perspicácia política”, diz a nota divulgada pela Casa Branca. Também receberam o perdão presidencial Elliott Broidy, ex-arrecadador de fundos para Trump, que assumiu violação à lei de lobby, e o rapper Lil Wayne, que se declarou culpado de posse de arma de fogo e munição, crime passível de pena de até 10 anos de prisão.
Nem Trump nem nenhum de seus filhos estão na lista de indultados, possibilidade sobre a qual a imprensa norte-americana especulou bastante nos últimos dias. Além dos indultos, Trump comutou a pena de 70 pessoas.  É o caso de Liz Cheney, que declarou que Trump foi responsável pela invasão, mas acredita que tem apoio para seguir representante do Wyoming”, afirma. 




 
O professor norte-americano alerta, ainda, que Donald Trump enfrenta vários processos na Justiça, e que isso pode enfraquecer sua imagem.
O pesquisador do Instituto Nacional de Estudos sobre os Estados Unidos Roberto Goulart Menezes, professor visitante na Universidade Johns Hopkins, considera o termo trumpismo exagero. 
 
“Na literatura, denota uma era, um conjunto de mudanças que se estendem ao tempo. Trumpismo é preguiça mental para designar encontro de conveniência de um plutocrata, que é supremacista branco, misógino, racista e anti-imigrante, com quem concorda com essa agenda”, diz. 
“Trump encontrou conexão com esses grupos, que não são a maioria nos Estados Unidos. Ele catalisou essa agenda, mas esse movimento vai conti- nuar. E, se aparecer um pior que Trump, eles vão seguir”, afirma.


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