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Estado de Minas ROMA

Guerra desde criança: 'via cadáveres na estrada', diz juiz Nicola Gratteri


13/01/2021 11:24

Para Nicola Gratteri, promotor do julgamento mais importante contra a máfia calabresa, a guerra contra a organização criminosa é um assunto pessoal desde sua infância.

"Conheço a máfia desde minha infância, porque pegava carona para ir à escola e muitas vezes via cadáveres na estrada", confessou à AFP poucas horas antes da abertura do processo histórico nesta quarta-feira (13).

"Então disse a mim mesmo: quando for mais velho, farei algo para que isso não volte a acontecer", contou o magistrado, que vive ameaçado e sob escolta há três décadas.

Mais de 350 pessoas serão julgadas em Calábria, na terra da temida 'Ndrangheta, com acusações que vão de assassinato ao narcotráfico, incluindo lavagem de dinheiro e associação mafiosa.

Uma imponente estrutura de mais de 3.000 metros quadrados foi construída para a ocasião na cidade industrial de Lamezia Terme, dentro da qual se sentarão no banco dos réus os líderes na Itália e Europa do tráfico de cocaína, contou Gratteri.

O promotor cresceu em Calábria, a região pobre do sul da península e berço da organização que se ramificou em todo o mundo, superando a Cosa Nostra siciliana, para tornar-se uma das estruturas criminosas mais poderosas do velho continente.

"Conheço bem a 'Ndrangheta, de dentro, porque quando era menino, ia para a escola com os filhos dos chefes da máfia", lembra Gratteri.

"Os meninos com quem brincava na época se tornaram mafiosos e depois narcotraficantes. Por isso, conheço a filosofia criminosa, a forma de pensar dos membros da 'Ndrangheta, e isso me ajuda no meu trabalho", reconheceu.

- Quebrar a omertá -

Gratteri, que está "muito seguro" do sucesso de sua investigação, alertou que será um processo longo e complexo, com mais de 900 depoimentos citados apenas pela Promotoria.

Serão reveladas as conexões com a política, a maçonaria, os empresários, através de advogados, funcionários e agentes corruptos e o foco estará voltado para a família Mancuso - o clã sanguinário da província de Vibo Valentia.

Gratteri, de 62 anos, se inspira nos dois lendários magistrados anti-máfia, Giovanni Falcone e Paolo Borsellino, assassinados pela máfia e famosos por presidirem o primeiro grande julgamento contra a máfia siciliana na década de 1980.

Graças a esse julgamento, centenas de pessoas foram condenadas em um dos golpes mais duros à Cosa Nostra, apesar de ter custado a vida dos dois magistrados, assassinados por ordem da máfia em 1992.

Para seu desafio, Gratteri conta com o colapso gradual da "omertá" - a lei do silêncio imposta pela máfia.

"Nos últimos anos, ganhamos muita credibilidade, muita confiança. As pessoas começaram a cooperar, estão nos apoiando, estão começando a acreditar em nós", explicou o juiz, que sacrificou sua vida pessoal pelo combate à máfia.

Autor de diversos livros sobre o assunto, entre eles "Hermanos de sangre" (2006) e "La red de los invisibles" (2019), viajou inúmeras vezes para a América Latina, especialmente para escrever "Oro blanco" (2015) sobre o tráfico de cocaína.


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