Jornal Estado de Minas

WASHINGTON

Congressistas querem que o 'desequilibrado' Trump renuncie ou sofra impeachment

O presidente Donald Trump anunciou nesta sexta-feira (8) que se ausentará da cerimônia de posse de seu sucessor, Joe Biden, no último ato de um divisionismo impenitente, enquanto sua Presidência implodia em meio a pedidos de que renuncie nos 12 dias que lhe restam no cargo.



"A todos aqueles que perguntaram, eu não comparecerei à Cerimônia de Posse no dia 20 de janeiro", anunciou o presidente no Twitter.

Biden respondeu que isso era "uma coisa boa", chamando Trump de "vergonha".

No entanto, Biden mostrou cautela com os pedidos crescentes de impeachment do presidente em fim de mandato, o que poderia aprofundar a guerra política nacional, após sua incitação à multidão que invadiu o Capitólio na quarta-feira.

"Essa é uma decisão do Congresso", disse Biden, acrescentando que a maneira "mais rápida" de retirar Trump do poder é ele e a vice-presidente eleita Kamala Harris tomarem posse em 12 dias.

"Estou focado agora em assumirmos o controle como presidente e vice-presidente no dia 20 e em colocar nossa agenda em andamento o mais rápido possível", afirmou.

Embora não surpreenda por vir do presidente americano que mais fomentou a divisão do país em décadas, o anúncio acaba com as expectativas de que Trump pudesse passar seus últimos momentos na Casa Branca tentando ajudar seu sucessor a acalmar as tensões que ele próprio fomentou.



É algo inédito desde 1869 que um presidente em exercício não esteja presente à posse do futuro líder da nação, uma cerimônia que simboliza a transferência pacífica do poder.

Dois dias depois de Trump incitar seus seguidores a invadir o Congresso, sua Presidência está em queda livre, com aliados abandonando o governo e adversários pedindo sua saída.

A presidente da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, alertou que o Congresso agirá para destituir o presidente se ele não renunciar voluntariamente ou se o vice-presidente Mike Pence não evocar a 25ª emenda e iniciar o processo que permite ao gabinete remover o presidente.

Além disso, em um momento surpreendente, ela revelou ter conversado com o chefe do Estado-Maior Conjunto, Mark Milley, para "discutir as precauções disponíveis para evitar que um presidente instável inicie hostilidades militares ou acesse códigos de lançamento e ordene um ataque nuclear".



Os democratas na Câmara de Representantes (baixa), que em 2019 já tinham aprovado o impeachment de Trump em uma votação traumática, afirmaram que um segundo processo de destituição do republicano, algo sem precedentes, poderia estar pronto para votação na próxima semana.

"Podemos agir muito rapidamente quando queremos", disse à CNN a representante (deputada) Katherine Clark.

Se os líderes republicanos no Senado concordariam em seguir adiante com um julgamento de impeachment relâmpago antes de 20 de janeiro é outra questão.

Na Câmara, o republicano Kevin McCarthy rejeitou um eventual impeachment contra Trump, dizendo que, a 12 dias do fim de seu mandato, isso "apenas dividirá ainda mais o país".

- Muito pouco, tarde demais -

Trump, que recorreu a esforços persistentes para reverter a vitória eleitoral de Biden em 3 de novembro, acabou concedendo a derrota na quinta-feira e apelou para a calma.



"Um novo governo será empossado em 20 de janeiro. Meu foco agora se volta a assegurar uma transição do poder tranquila e ordeira", disse Trump em um breve vídeo.

No entanto, a concessão evidentemente relutante, na qual Trump deixou de cumprimentar Biden ou admitir diretamente a derrota foi muito pouco e ocorreu tarde demais para acalmar a indignação por seu papel na invasão do Capitólio.

Cinco pessoas morreram nos distúrbios, inclusive uma mulher que foi baleada por um agente da Polícia do Capitólio e que sucumbiu ao ferimento na quinta-feira. As bandeiras em todo o Capitólio foram hasteadas a meio mastro nesta sexta.

O senador Ben Sasse, um republicano que diz que iria "definitivamente considerar" o impeachment, recomendou ao menos que Trump saia de cena e deixe seu vice-presidente comandar o show nos últimos dias de seu mandato.

"Acho que quanto menos o presidente fizer nos próximos 12 dias, melhor", disse à rádio NPR.

- Governo de saída -

A secretária de Educação, Betsy DeVos, tornou-se o segundo membro do gabinete a deixar o governo.

Mais cedo, a secretária dos Transportes, Elaine Chao, um dos membros mais longevos do gabinete de Trump, anunciou sua saída devido à violência "inteiramente evitável". Uma série de funcionários de escalões inferiores também deixou o governo.



Segundo a imprensa americana, a única razão de não ter havido uma debandada foi a decisão de personalidades dos escalões mais altos de tentar manter a estabilidade durante a transição de Biden.

Trump, no entanto, parece ter perdido o controle que ele exerceu no Partido Republicano e em sua própria equipe ao conduzir por quatro anos uma das presidências mais turbulentas da história americana.

Em declarações à CNN, o general reformado dos Marines John Kelly, que foi chefe de gabinete de Trump por 18 meses, disse a a 25ª Emenda devia ser considerada, mas acredita que o presidente já está isolado.

"Ele pode dar todas as ordens que quiser, mas ninguém vai violar a lei", disse Kelly.

- Biden pode ter uma posse sombria -

Biden, que teve sete milhões de votos a mais que Trump, assim como a decisiva maioria no Colégio Eleitoral, será empossado na escadaria do Capitólio sob um forte esquema de segurança.

Entre drásticas restrições a multidões para evitar os contágios por covid-19, a ausência de Trump e uma nova cerca "impossível de escalar" erguida em torno ao complexo legislativo, sobrará pouco do clima das cerimônias de posse tradicionais.

E Biden enfrentará desafios extraordinários na sequência, a começar pela promessa central de sua campanha, de que pode "curar" a nação.

Ao mesmo tempo, a crise provocou tal repulsa dos dois lados do Congresso que Biden pode assumir o cargo com um inesperado impulso bipartidário.

Nesta sexta-feira, Biden disse que mais republicanos agora veem Trump pelo que realmente é depois que ele "arrancou o Band-Aid por completo". "Acho que torna meu trabalho mais fácil, francamente".



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