"Hoje foi decidido virar a página e restabelecer todas as relações diplomáticas" com o Catar, declarou à imprensa o príncipe Fayzal bin Farhan Al Saud.
Os países do Golfo assinaram nesta terça um acordo "de solidariedade e estabilidade" e uma declaração final em uma cúpula destinada a diminuir as tensões entre Catar e vários de seus vizinhos, incluindo a Arábia Saudita.
"Os esforços (do Kuwait e dos Estados Unidos) nos ajudaram a chegar a um acordo (...) em que afirmamos a solidariedade e a estabilidade do Golfo e dos países árabes e muçulmanos", anunciou o príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman, ao abrir esta cúpula realizada em Al-Ula (noroeste da Arábia Saudita).
Ele então se reuniu com o emir do Catar, xeque Tamim bin Hamad Al Thani. Um encontro bilateral dedicado, segundo a agência de notícias oficial saudita SPA, ao "desenvolvimento das relações entre os dois países e à ação comum dos países do Golfo".
Os seis países do Conselho de Cooperação do Golfo (CCG) assinaram este pacto - chamado "Declaração de Al-Ula" - na presença de Jared Kushner, genro e assessor do presidente dos EUA, Donald Trump.
O ministro das Relações Exteriores iraniano, Mohammad Javad Zarif, reagiu parabenizando o Catar por "sua resistência à pressão" e garantiu a seus "outros vizinhos árabes que o Irã não é um inimigo nem uma ameaça". Também pediu que aceitassem a "oferta" iraniana "por uma região forte".
A reunião começou com grandes esperanças, depois que o Kuwait, mediador do Golfo, anunciou na noite de ontem que a Arábia Saudita reabriu seu espaço aéreo e todas as suas fronteiras com o Catar, após três anos e meio de boicote e mensagens hostis.
Em junho de 2017, a Arábia Saudita e três países aliados (Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Egito) romperam os laços com Doha, acusando-a de apoiar grupos islâmicos, de manter boas relações com seus adversários iranianos e turcos e de semear desordem na região.
Sempre negando todas as acusações, os catarianos dizem ser vítimas de um "bloqueio" e de um ataque à sua soberania.
O CCG nasceu há 40 anos com a ambição de aproximar seus membros política, econômica e militarmente. Fazem parte do grupo Arábia Saudita, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Catar, Omã e Kuwait.
- "Amigos como antes" -
Os Estados Unidos intensificaram a pressão sobre os países do Golfo para alcançar uma reconciliação, com o objetivo de isolar cada vez mais o Irã, dentro de sua estratégia de pressão máxima contra Teerã.
O príncipe herdeiro saudita, Mohamed bin Salman, afirmou que o objetivo da cúpula é criar uma frente comum diante dos "desafios", especialmente "o programa nuclear iraniano, seu programa de mísseis balísticos e seus projetos de sabotagem".
Nesta terça-feira, o emir do Catar foi recebido na pista do aeroporto com um sorriso e um abraço pelo príncipe Bin Salman. Um gesto que seria impensável algumas semanas atrás.
As respectivas mídias da Arábia Saudita e Catar, normalmente muito hostis com o lado oposto, mudaram radicalmente de tom.
"Veremos todos os sauditas aqui e, também, todos os catarianos irão à Arábia Saudita. Seremos amigos como antes e ainda mais", disse à AFP Hisham Al-Hashmi, um catariano vestido com uma túnica branca tradicional.
A ruptura com o Catar foi acompanhada de medidas de represália: fechamento das fronteiras e do espaço aéreo aos vizinhos do Catar e restrição aos deslocamentos de catarianos, o que provocou a separação de famílias mistas.
- "Negociações difíceis" -
O quarteto havia formulado 13 condições para a retomada das relações com Doha, em particular o fechamento da rede de televisão Al-Jazeera, desprezada por muitos regimes árabes, e compromissos de pôr fim ao financiamento de grupos extremistas, ou ainda o fechamento de uma base militar turca no Catar.
Doha não cedeu a nenhum desses pedidos.
Diplomatas, observadores e alguns artigos na imprensa sugeriram que nenhum desses temas de controvérsia será abordado durante a cúpula, o que parece afastar, por enquanto, a perspectiva de uma resolução geral da disputa.
"Como qualquer reconciliação, terá obstáculos e poderá levar a um impasse e tensões", declarou à AFP Bader Al-Saif, professor adjunto de história na Universidade do Kuwait.
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