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Estado de Minas

Movimento de jovens pelo clima conseguirá manter a pressão em tempos de covid?


08/12/2020 06:55

Forçados a permanecer em casa por causa da pandemia e alarmados pelo adiamento de cruciais negociações ambientais, jovens ativistas tiveram que ser criativos para manter a pressão sobre os líderes mundiais enquanto testemunham a aceleração dos impactos de um mundo cada vez mais quente.

Antes da chegada do novo coronavírus, protestos de rua levavam milhões de jovens às ruas de cidades em todo o mundo, inspirados pelas greves escolares da sueca Greta Thunberg e influenciados pela ansiedade sobre o estado precário do planeta.

Com a organização de manifestações fora de cogitação e a decisiva Conferência das Partes das Nações Unidas adiada para 2021, ativistas organizaram sua própria "Mock COP", um encontro virtual que reuniu em duas semanas dezenas de delegados de 140 países.

Cientistas e ativistas afirmam que o progresso nas reuniões anuais da ONU - que começaram em 1995, antes que muitos jovens ativistas tivessem nascido - já era inaceitavelmente pequeno.

"Os líderes mundiais precisam fazer mais, e devem se adaptar aos desafios", disse Malaika Collette, de 17 anos, originária de Ontário, Canadá, que participou das conversações.

"É difícil entender porque o mundo inteiro não está lutando como se sua vida dependesse disso", acrescentou.

Incêndios devastadores, degelo recorde, elevação acelerada do nível do mar, mais tempestades tropicais destrutivas e mais ondas intensas de calor carregam a indisfarçável marca do aumento global das temperaturas - que tem visto as temperaturas subirem acima de um grau Celsius desde meados do século XIX.

Este ano se encaminha para ser o mais quente já registrado, disse na semana passada o secretário-geral da ONU, António Guterres, alertando que o mundo pode estar à beira de uma "catástrofe climática".

Muitos ativistas não precisam olhar para longe para perceber os riscos devastadores das mudanças climáticas.

Quando um tufão devastou sua cidade de Marikina, nas Filipinas, inundando ruas e casas, Mitzi Jonelle Tan se desesperou.

"Eu não consegui fazer contato com a minha mãe... Fiquei com tanto medo porque não sabia se ela ainda estava viva, se ela estava presa no telhado, se eu ainda tinha uma casa para onde voltar", contou Tan, de 24 anos, uma das palestrantes da 'Mock COP', em entrevista à AFP.

-'O relógio está correndo'-

O Acordo Climático de Paris, assinado em 2015, pede que se contenha o aquecimento global "bem abaixo" dos 2º C, uma meta que muitos especialistas temem ficar rapidamente fora do alcance.

Em um relatório contundente publicado em outubro de 2018, o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), subordinado à ONU, avaliou que só uma transformação generalizada da economia global e dos hábitos de consumo poderia evitar a catástrofe climática.

Mais ou menos na mesma época, Greta Thunberg, então com 15 anos, começou a chamar atenção para seus protestos individuais em frente ao Parlamento sueco, com fotos compartilhadas no Instagram e no Twitter.

Ela tocou em um ponto sensível e inspirou jovens em todo o mundo a esvaziarem as salas de aula para se mobilizarem pelo clima.

A greve escolar de Greta Thunberg encontrou eco porque "muitos jovens estão crescendo com marcadores muito claros das mudanças climáticas", explicou à AFP Dana Fisher, professora de Sociologia da Universidade de Maryland.

"O relógio está correndo e eles não veem o tipo de mudança política que os cientistas dizem ser necessária para nos tirar da emergência climática", acrescentou Fisher.

Até mesmo os líderes mundiais têm demonstrado frustração.

"Minha esperança está baseada na juventude", disse Guterres em uma entrevista em setembro à AFP e à iniciativa midiática Covering Climate Now.

"Porque, vamos ser francos, minha geração falhou amplamente em responder aos desafios que o mundo enfrenta. A juventude parece estar muito mais determinada em fazê-lo".

- "Falta de ambição" -

As conversações entre os jovens terminaram em 1º de dezembro com uma declaração em um formato que espelha as produzidas em reuniões da ONU.

Mas não foi um documento de compromisso, diluído pela diplomacia. Foi uma acusação.

"Os governos de todo o mundo estão fracassando em cumprir com suas obrigações legais e morais para enfrentar a crise climática e ecológica, apesar da urgência crescente e da escala projetada da crise", diz o texto.

A declaração também recomenda transformar a destruição deliberada de ambientes naturais em um crime e pede aos governos que se comprometam com a educação climática em todas as idades e com uma "Recuperação Verde" pós-pandemia.

Os organizadores disseram que gostariam de demonstrar o que eles fariam se estivessem no poder.

"Nós participamos de greves, protestos e usamos muitas hashtags e coisas do tipo, mas a maioria de nós não compreende como as decisões são tomadas", disse a colombiana Catalina Reyes-Vargas, de 24 anos, de Bogotá, porta-voz da conferência.

Sua avaliação sobre as reuniões da ONU foi contundente: "ganância, preconceito e falta de ambição".

O pesquisador Chris Shaw, do Climate Outreach, uma organização filantrópica de engajamento público, disse que eventos como a 'MockCop', são "muito importantes" ao permitirem jovens líderes compartilhar e aprimorar suas ideias.

"Também são vitais para sustentar um sentimento de influência, motivação e vontade coletiva", acrescentou.

- Futuro na mira -

A ativista australiana disse à AFP que os jovens deveriam ter um assento na mesa da conferência climática da ONU em Glasgow no ano que vem "porque obviamente é nosso futuro que está na mira".

Como para muitos dos jovens ativistas, as mudanças climáticas são uma realidade visceral para a adolescente de 15 anos.

Quando vivia na região de Blue Mountains, perto de Sydney, havia dias em que os incêndios florestais representavam um risco e as crianças eram mantidas em casa. Quando criança, ela considerava estes eventos como feriados excitantes e inesperados.

Recentemente, no entanto, se tornaram mais ameaçadores.

"No ano passado, houve grandes incêndios no entorno e perto da nossa casa... Toda a cidade foi salva pelos bombeiros", contou ela à AFP.

Os incêndios foram a força motriz que a levaram ao ativismo, mas ela diz que a pandemia causou uma perda de ímpeto.

"Definitivamente não há a mesma energia dentro do movimento que havia quando organizávamos manifestações maciças", lamentou.

Fisher entrevistou 171 organizadores do Dia da Terra - celebrado anualmente em 22 de abril - e descobriu que mais da metade afirmou que a covid-19 afetou "demais" seu trabalho político.

Mas a mobilização nas redes sociais continua, mesmo com as campanhas presenciais paralisadas.

O movimento Fridays for Future, criado por Thunberg, pede que simpatizantes se unam em um dia de ação em 11 de dezembro, antes da cúpula climática virtual celebrada pela Grã-Bretanha.

Tan, que costumava bater nas portas das salas de aula para pedir aos professores cinco minutos para falar sobre as mudanças climáticas, disse que as negociações online dos jovens eram valiosas para "solidificar nosso movimento juvenil global".

"Neste momento, precisamos fazer tudo isso ao mesmo tempo", disse ela.


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