O presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, confirmou nesta segunda-feira (30) Janet Yellen, ex-presidente do Federal Reserve (Fed, banco central americano), para chefiar o Tesouro, anunciando uma equipe econômica com a qual busca romper as barreiras raciais e de gênero e superar a crise decorrente da pandemia.
Depois de fazer história ao escolher Kamala Harris, a primeira mulher e primeira pessoa de ascendência afro-americana e sul-asiática a ganhar a vice-presidência, Biden nomeou quatro mulheres de diferentes origens para cargos importantes em sua equipe econômica, assim como o primeiro subsecretário negro do Tesouro.
"Esta é a equipe que nos ajudará a reconstruir nossa economia melhor do que nunca", disse em comunicado Biden, cuja posse está prevista para 20 de janeiro.
Os Estados Unidos, país do mundo com mais mortes por covid-19, enfrenta um desemprego de 6,9%, o dobro do que era antes da pandemia. O crescimento registrado no terceiro trimestre segue abaixo de 2,9% em relação ao terceiro trimestre de 2019.
O Senado deve aprovar a nomeação de Yellen, ainda que os republicanos mantenham a maioria na Câmara alta após as duas eleições parciais que serão realizadas em janeiro no estado da Geórgia.
O presidente do Comitê de Finanças do Senado, o republicano Chuck Grassley, disse a repórteres na segunda-feira que Yellen deve receber "uma opinião favorável".
Seu colega John Cornyn afirmou, por sua vez, que não via "nenhum problema" na nomeação da ex-presidente do Fed.
Se as previsões se cumprirem, Yellen se tornará, aos 74, a primeira mulher a chefiar o Tesouro americano - equivalente ao Ministério da Economia - depois de ser a primeira mulher a presidir o poderoso Federal Reserve (Fed, o Banco Central americano) entre 2014 e 2018.
"Estamos enfrentando grandes desafios como país no momento", disse Yellen no Twitter após ter revelada sua nomeação.
Uma prioridade absoluta para ela será obter a aprovação no Congresso de um novo plano de ajuda para os mais atingidos pela pandemia, quando expirar o enorme pacote de estímulo econômico aprovado em março.
A tarefa, porém, não será fácil, pois ainda não se sabe se os democratas manterão o controle do Senado em janeiro, ao contrário do que aconteceu quando Barack Obama assumiu o cargo em 2009 em meio à crise financeira.
"Para que possamos nos recuperar, devemos restaurar o sonho americano, uma sociedade onde cada pessoa pode realizar seu potencial e sonhar ainda maior para seus filhos", tuitou Yellen. "Como secretária do Tesouro, trabalharei todos os dias para reconstruir esse sonho para todos".
Biden anunciou também nesta segunda a nomeação de Wally Adeyemo como subsecretário do Tesouro. Advogado nascido na Nigéria, ele é ex-assessor de segurança nacional e atual presidente da Fundação Obama.
- "Com responsabilidade" -
Além de Yellen, três outras mulheres foram indicadas para altos cargos econômicos, informou a equipe de transição de Biden.
Neera Tanden, presidente do Center for American Progress, será nomeada para chefiar o Escritório de Administração e Orçamento da Casa Branca, se tornando a primeira sul-asiática e americana a ser escolhida para o cargo.
Embora Biden tenha elogiado a trajetória de Tanden, ex-assessora de Hillary Clinton durante a campanha de 2016, a indicação, que não tem o apoio unânime dos democratas mais progressistas, pode ser bloqueada no Senado, em um momento em que os republicanos já se manifestam contrários.
A afro-americana Cecilia Rouse, reitora da Escola de Assuntos Públicos e Internacionais da Universidade de Princeton, foi nomeada para presidir o Conselho de Consultores Econômicos do Presidente (CEA).
Heather Boushey, descrita como uma "economista eminente" especialista em desigualdade e atualmente presidente do Washington Center for Equitable Growth, também assumirá um cargo no CEA, juntamente com Jared Bernstein, um amigo de Biden que foi seu conselheiro quando o presidente eleito era vice-presidente de Obama.
Vários cargos importantes na formulação de políticas econômicas, como o Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR) e o Secretário de Comércio, ainda não foram anunciados.
Essas nomeações são aguardadas com ansiedade no exterior, já que o governo Donald Trump travou uma guerra comercial com a China e abalou as relações comerciais com os principais aliados dos Estados Unidos.
Biden disse que sua equipe econômica representa a diversidade da América.
"É composta por funcionários públicos comprovados, respeitados e inovadores que ajudarão as comunidades mais afetadas pela covid-19 e abordarão as desigualdades estruturais em nossa economia", garantiu Biden.
Harris lembrou que o objetivo do governo Biden é abrir a economia "com responsabilidade".
Embora os democratas manterão a maioria na Câmara Baixa quando o novo Congresso for inaugurado em janeiro, o controle do Senado, responsável por aprovar os nomes indicados por Biden, será decidido por duas eleições na Geórgia no mesmo mês.