Jornal Estado de Minas

Líderes de Tigré 'prontos para morrer' após ultimato do presidente etíope

O presidente da região dissidente de Tigré (norte) declarou nesta segunda-feira (23) que seu povo está "pronto para morrer", um dia após o ultimato do primeiro-ministro etíope Abiy Ahmed dando 72 horas aos líderes tigrés para se renderem.

Quase três semanas após o início desta operação militar destinada a restaurar sua autoridade, Adis Abeba planeja "cercar" em breve Mekele, capital de Tigré e sede do governo local da Frente de Libertação do Povo Tigré (TPLF).





Dez dias atrás, Abiy deu um primeiro ultimato aos soldados tigrés, pedindo-lhes que desertassem em favor do Exército federal. Poucos dias depois, anunciou que a intervenção entrava na sua "fase final".

"Quantas vezes (Abiy Ahmed) disse três dias? Não entende quem somos. Somos um povo de princípios e pronto a morrer para defender o nosso direito de administrar a nossa região", reagiu à AFP o presidente de Tigré e chefe da TPLF, Debretsion Gebremichael.

"Trata-se de camuflar a derrota que sofreram hoje em três frentes. Para ter tempo de se reagrupar", acrescentou. Debretsion não especificou de quais "frentes" estava falando.

A verificação no terreno e com fontes independentes é muito difícil, pois Tigré está quase isolada do mundo desde o início da operação em 4 de novembro.

Não há balanços precisos dos combates, que mataram pelo menos centenas de pessoas. Mais de 36.000 residentes da região já fugiram para o vizinho Sudão.

- "Cercar Mekele com tanques" -

No domingo, em uma declaração aos líderes da TPLF, Abiy, primeiro-ministro desde 2018 e prêmio Nobel da Paz no ano seguinte, anunciou as últimas 72 horas para a rendição.





"O caminho para sua destruição está chegando ao fim", escreveu ele.

O governo afirma controlar a cidade de Edaga Hamus, 100 km ao norte de Mekele, enquanto o Exército afirmou na semana passada controlar Mehoni, 125 km ao sul. Essas duas cidades estão na estrada principal para a capital regional.

No sábado, o Exército alertou para o ataque iminente a Mekele, que pretende "cercar com tanques". Um de seus porta-vozes convidou seu meio milhão de habitantes a "se salvarem", anunciando que não haveria "misericórdia".

"Tratar uma cidade inteira como um alvo militar não seria apenas ilegal, mas também poderia ser visto como uma forma de punição coletiva", reagiu Laetitia Bader, diretora da Human Rights Watch (HRW) no Twitter no domingo.

O primeiro-ministro acusou no domingo a TPLF de ter destruído numerosas "infraestruturas" em Tigré, incluindo o aeroporto de Aksum (noroeste, também controlado pelo Exército de acordo com Addis Abeba), bem como "escolas, centros médicos, pontes e estradas que eram propriedade do país.





Nesta segunda, dois moradores disseram à AFP que tiros atingiram a cidade de Bahir Dar, capital de Amhara, região vizinha a Tigré, ao amanhecer.

"Três foguetes caíram na cidade perto da área do aeroporto. Não sabemos se houve vítimas ou danos", disse um dos moradores à AFP.

O aeroporto de Bahir Dar já foi atingido duas vezes por foguetes. A TPLF assumiu a responsabilidade pelo primeiro tiro em 13 de novembro, alegando que essa infraestrutura era usada pelo Exército federal.

Também reivindicou o lançamento de foguetes nos aeroportos de Gondar, em Amhara, e Asmara, capital da Eritreia.

As tensões entre Addis Abeba e a TPLF, que controlou com punho de ferro por quase três décadas o aparato político e de segurança da Etiópia, culminaram com a organização em Tigré de uma eleição qualificada como "ilegítima" pelo governo federal.

Ao enviar o Exército para Tigré, Abiy afirma ter respondido a ataques a duas bases militares na região pelas forças da TPLF.

audima