Jornal Estado de Minas

ESTADOS UNIDOS

Republicanos influentes pressionam Donald Trump a aceitar derrota para Biden

O Partido Republicano começa a apresentar fissuras importantes, enquanto o presidente norte-americano, Donald Trump, aferra-se ao poder e resiste em admitir a vitória do democrata Joe Biden nas eleições de 3 de novembro. O governador do estado de Ohio, Mike DeWine, e o estrategista político Karl Rove, duas figuras influentes na legenda, exortaram o magnata a aceitar a derrota e a parabenizar o sucessor. “Acho que nós precisamos considerar o ex-vice-presidente como presidente eleito”, declarou DeWine à emissora CNN. “Olha, estou preocupado com este vírus (causador da covid-19), não estou olhando quais os méritos do caso. Parece que Joe Biden será o próximo presidente dos EUA”, acrescentou.





Os governadores Larry Hogan (Maryland) e Charlie Baker (Massachusetts), também republicanos, engrossaram o coro dos que reconhecem Biden como o novo comandante em chefe da nação. O ex-presidente George W. Bush chegou a felicitar o democrata e a declarar que “o povo americano pode ter a confiança de que a eleição foi fundamentalmente justa, de que sua integridade foi preservada, e de que o resultado é claro”. Rove escreveu um artigo no Wall Street Journal em que reconhece que o resultado do pleito não será revertido, mesmo com a ofensiva de Trump nos tribunais.

Vários senadores do partido também instaram a Casa Branca a fornecer a Biden acesso aos relatórios ultrassecretos de inteligência. “Acho que é do nosso interesse nacional que o presidente eleito receba informações”, disse Mitt Romney, ex-candidato à Presidência dos EUA. “Isso talvez seja a parte mais importante da transição”, ponderou a senadora Susan Collins, que cobrou celeridade no repasse dos dossiês. James Lankford, membro do Comitê de Segurança Interna do Senado, avisou que, caso isso não ocorra hoje, fará uma intervenção.

Por sua vez, Biden alavanca o processo de transição, de olho na posse prevista para 20 de janeiro. Depois de nomear Ron Klain, 59 anos, para a chefia de gabinete da Casa Branca, o presidente eleito conversou com os primeiros-ministros Yoshihide Suga (Japão) e Scott Morrison (Austrália) e com o presidente da Coreia do Sul, Moon Jae-in. Biden e Moon falaram-se por 14 minutos e concordaram em reunir-se dias depois da cerimônia de juramento.





Trump fez nova denúncia, ontem, contestada pelo Twitter. “Relato: a Dominion (empresa que faz softwares para a votação) apagou 2,7 milhões de votos em Trump em todo o país. A análise de dados descobriu que 221 mil votos passaram do presidente Trump para Biden; e 941 mil votos de Trump foram deletados. Os estados usando os sistemas de votação Dominion trocaram 435 mil votos de Trump para Biden”, escreveu o magnata republicano. Mais uma vez, autoridades eleitorais dos EUA reforçaram que “não há evidências” de votos perdidos ou adulterados.

Hesitação

Professor de ciência política da Universidade Estadual de Ohio, Paul A. Beck admitiu ao Correio que lideranças do Partido Republicano começam a reconhecer publicamente a realidade da apuração dos votos. “A maioria dos estados ainda não relatou os resultados oficiais da votação, mas eles começarão a fazê-lo em breve, embora apenas alguns deles por vez. Eles terão até 8 de dezembro para reportar os resultados oficiais da corrida presidencial — em tempo para a votação do Colégio Eleitoral em cada estado. Assim que os resultados oficiais forem informados, espero que mais figuras republicanas admitam a derrota”, afirmou. “Por enquanto, muitas delas estão hesitantes, pois temem a ira de Trump e de seus seguidores, uma parte considerável da base republicana.”

Beck acredita que Trump, provavelmente, jamais cederá a aceitar os estertores de seu governo, mas ficará isolado. “As suas forças desistirão, assim que as apurações tornarem-se oficiais e os processos na Justiça não forem bem-sucedidos. Nenhuma das ações reverteu a contagem dos votos, e espero que tal resultado prossiga”, comentou. Segundo o especialista, Biden mantém foco na transição, apesar das barreiras impostas pela Casa Branca e pelos departamentos executivos que controla. “A resistência de Trump não pode mudar a agenda e o resultado das eleições.”





Colega de Beck no Departamento de Ciência Política da Universidade Estadual de Ohio, Richard Gunther disse à reportagem que não há evidência crível de irregularidades nas eleições. Ele explicou que o fato de os votos enviados pelos correios terem sido contabilizados dias depois do início da apuração reverteu a aparente vantagem de Trump na apuração. “Isso foi usado como base para falsas alegações de que a eleição foi ‘roubada’ por Biden e pelos democratas”, comentou.

» Palavra de Especialista
Petulância e infantilidade

“O presidente Donald Trump tem feito várias alegações falsas de que ganhou a eleição e que a fraude eleitoral é generalizada. Não há evidência para apoiar suas afirmações. As eleições são administradas estado a estado, e em muitos deles (como Ohio e Geórgia), os secretários de Estado republicanos (que supervisionam a votação e o processo de apuração) contradizem, categoricamente, as afirmações de Trump. Os chamados fact checkers (‘verificadores de fatos’) documentaram cuidadosamente mais de 23 mil mentiras que Trump publicamente proferiu desde que assumiu o cargo, em 2017. As acusações de fraude eleitoral são consistentes com esse padrão de comportamento desonesto e antidemocrático.

O presidente Trump tem feito virtualmente tudo o que pode para interromper o processo de transição para o governo Biden. Isso inclui lhe negar o financiamento e o espaço de escritório tradicionalmente dado a todos os presidentes recém-eleitos, suspender correspondências de líderes mundiais parabenizando-lhe pela vitória e se recusando a permitir que o democrata tenha acesso a briefings de segurança nacional. Tais comportamentos não têm precedentes e surtem um impacto negativo sobre a transição para a nova administração, além de ameaçarem a segurança nacional. Trata-se de um comportamento infantil e petulante, que representa grave desafio à legitimidade democrática.”

Richard Gunther, professor de ciência política da Universidade Estadual de Ohio.




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