Já no YouTube, dos 15 vídeos brasileiros de maior audiência sobre o assunto, 13 são de canais de tendência conservadora. Estes reproduziram as declarações feitas pelo atual candidato republicano à reeleição Donald Trump sobre "fraude na eleição" - o presidente americano não apresentou qualquer prova sobre o assunto.
Essas são as principais conclusões de um levantamento da Diretoria de Análise de Políticas Públicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV DAPP) feito nestas redes entre as 18h de terça-feira (3/11) — quando os americanos foram às urnas — e as 13h desta quarta (4/11).
A pesquisa mapeou no Twitter o comportamento de uma base minoritária mas barulhenta pró-Bolsonaro, e também pró-Trump, responsável por 15% dos perfis em debate, mas 32% das interações. Na terça-feira, este grupo produziu conteúdo celebrando indicativos favoráveis a Trump na eleição; depois, com novos sinais favoráveis ao democrata Joe Biden, as postagens passaram a questionar mais a idoneidade do processo eleitoral.
Na comemoração dos resultados iniciais, esta base destacou os resultados da Flórida — onde, com 96% das urnas apuradas, Trump aparece com 51,2% dos votos, contra 47,7% para Biden. Muitas mensagens elogiaram a participação de brasileiros naturalizados na votação do atual presidente no Estado.
Por outro lado, a pesquisa mapeou dois grupos majoritários fora desta esfera pró-Trump — e que, em alguns casos, demonstraram rejeição explícita ao republicano.
Um, responsável por 28% dos perfis e apenas 24% das interações, tem contorno partidário pouco definido e é mobilizado por influenciadores digitais como Felipe Neto. Para além da oposição ao governo americano, este grupo produziu mensagens e também piadas elogiando o sistema eleitoral e as pesquisas de opinião do Brasil, em detrimento dos Estados Unidos — cuja demora na apuração foi alvo de memes.
Um segundo grupo incluiu políticos e personalidades de esquerda e centro, além da imprensa, e reproduziu conteúdo informativo — acompanhando a apuração ponto-a-ponto nos Estados-pêndulo e retomando informações sobre a eleição de 2016. Esta base, considerada bastante diversa pelo relatório, correspondeu a 40% dos perfis e 36% das interações no Twitter.
A pesquisa da FGV destaca que um ponto "bastante comum" nestes dois grupos fora da base de apoio de Trump foi a ausência de grandes influenciadores e lideranças políticas como "engajadores da discussão".
"Com figuras partidárias ausentes do engajamento sobre a disputa nos Estados Unidos, algo que ocorre também na base pró-Trump, o debate persiste sob a ótica do mistério em relação ao resultado, com pequeno debate propositivo sobre o impacto da vitória de Biden (ou da reeleição de Trump) para a política externa do Brasil", diz o relatório.
"Exceção é a fala sobre potenciais sanções ao governo brasileiro quanto às queimadas na Amazônia e no Pantanal, em caso de vitória democrata. Grupos esparsos, formados principalmente por jovens e por ativistas digitais, argumentam que Biden é a melhor alternativa para o realinhamento de políticas ambientais no Brasil, por conta da pressão internacional pelo combate ao desmatamento."
Domínio conservador no YouTube
Se no Twitter os perfis pró-Trump compuseram cerca 15% dos perfis, no YouTube canais com esta orientação têm amplo predomínio em alcance e visualizações.
Na liderança está um vídeo do canal pró-governo brasileiro "Terça Livre TV" intitulado "RESULTADO FINAL DAS ELEIÇÕES AMERICANAS", com mais de 1,6 milhão de visualizações. Na lista de 15 vídeos mapeados pela pesquisa da FGV DAPP, há ainda um segundo vídeo deste canal.
Apenas dois vídeos da lista não são alinhados ao conservadorismo, e sim são produzidos pela imprensa — um da CNN Brasil e outro da TV Bandeirantes.
Como no Twitter, canais à direita não só questionam a idoneidade do processo eleitoral, como apontam para as possíveis consequências negativas de uma possível vitória de Biden.
"Também a pauta ambiental é debatida nos canais, com críticas a comentários de Biden sobre a preservação de biomas no Brasil e em defesa da soberania nacional do governo brasileiro sobre o território.
O principal enfoque opinativo dessa base à direita é a hipótese de que, com predomínio democrata, a Amazônia acabará convertida em 'região internacional' administrada por grupos e interesses estrangeiros", analisa o relatório da FGV.
Acompanhe a apuração nos EUA
Como funciona o Colégio Eleitoral?
Os 538 integrantes do chamado Colégio Eleitoral se reúnem nas respectivas capitais de seus estados a cada quatro anos após a eleição para designar o vencedor. Para vencer, um candidato à presidência deve obter a maioria absoluta dos votos do Colégio: 270. Saiba como funcionam os colégios eleitorais.Sistema eleitoral complexo é desafio
Planos de governo de Trump e Biden
O que muda para o Brasil?
Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!