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Estado de Minas

Até a última palavra: obituários viram meio de comunicação eleitoral


02/11/2020 19:01

Poucos dias depois da morte de Barry Kreiter, seu obituário apareceu na internet com dois sinais destes tempos: um link para assistir a seu funeral online e um pedido eleitoral a seus entes queridos para as eleições presidenciais desta terça-feira nos Estados Unidos.

Kreiter, um inspetor de propriedades comerciais de Chicago, morreu repentinamente em 25 de outubro de miocardite, uma inflação do coração, aos 63 anos.

Embora seu obituário não estivesse planejado com antecedência, sua filha, Rachel, disse que era um reflexo perfeito deste ferrenho seguidor do Partido Democrata, que colaborou dando telefonemas para a campanha de Joe Biden em seu tempo livre e pediu voto porta a porta para a eleição da deputada local Lauren Underwood.

"Nunca tivemos uma conversa sobre o que gostaria em seu obituário", contou Rachel à AFP. "Foi uma decisão que tomamos com a minha mãe e a minha irmã porque sabíamos que isto era importante para ele".

"Não posso imaginar um pior gesto com a memória do meu pai do que ter que assistir ao seu funeral e poucos dias depois ver Trump ser reeleito", acrescentou.

O obituário que Rachel Kreiter escreveu para o pai terminava pedindo "contribuições para ajudar a tirar Donald Trump do governo e eleger os democratas em 3 de novembro".

Segundo Kay Powell, ex-editora da seção de obituários do The Atlanta Journal-Constitution e uma das fundadoras da Associação de Escritores Profissionais de Obituários, as mensagens políticas em obituários não são nada novas, embora costumem aumentar em anos eleitorais.

"Os avisos de falecimento, escritos por familiares, são uma forma de arte nos Estados Unidos. As famílias podem colocar o que quiserem nelas, e o fazem", explicou Powell.

"Já em 1996, quando [Bill] Clinton enfrentava [Bob] Dole, vi aparecerem avisos de falecimento escritos pela família. Assim, pelo menos desde 1996 venho vendo isto e é normalmente perto do ano eleitoral", afirmou.

Na era Trump, as paixões estão especialmente exaltadas, o que também se reflete em lemas políticos nas homenagens escritas.

- Despedida com mensagem -

"No lugar de flores, por favor não votem no sr. Joseph R. Biden Jr", dizia o obituário de Patricia Wiggins, uma mulher de Auburn, Nova York, bisavó de 13, falecida em 8 de setembro.

Outros são ainda mais específicos, como o recente obituário dedicado ao veterano da guerra do Vietnã Mark Schroeder, que não se esqueceu das polêmicas declarações de Trump sobre os mortos em guerras americanas, aos quais supostamente chamou de "bobos" e "perdedores", durante uma visita à França.

A última passagem da homenagem a Schroeder dizia: "Mark Schroeder foi muitas coisas. Foi pai, herói, melhor amigo, professor, irmão, e às vezes um verdadeiro filho da p***".

"Mas algo que com certeza não era, senhor Trump, era bobo ou perdedor. Foi um veterano orgulhoso até o dia da sua morte", dizia.

Outros obituários recentes incluem mensagens políticas relacionadas com a pandemia de covid-19, como a redigida pela viúva de David Nagy, um texano de 79 anos, morto pelo novo coronavírus em 22 de julho.

Em seu texto, Stacey fez um ataque direto a Trump e ao governador do Texas, Greg Abbott.

"A culpa pela sua morte e a morte de todas as outras pessoas inocentes recaem em Trump, Abbott e todos os outros políticos que não levaram esta pandemia a sério, e estavam mais preocupados com sua popularidade e os votos do que pelas vidas" dos demais, assegurou.

A especialista em etiqueta Diane Gottsman, que dirige a Escola de Protocolo do Texas, afirmou que as mensagens políticas podem ser mais comuns este ano, mas nem por isso são apropriadas.

"Temos um conjunto único de circunstâncias com líderes únicos e estamos mais propensos a expressar nossas opiniões políticas hoje em dia. Dito isso, não o torna correto", acrescentou.

"Seja porque tiveram afeto pelo falecido ou por uma ligação pessoal muito próxima, é muito pedir a alguém que mude suas preferências de voto pela morte de outra pessoa", argumentou.

Powell, no entanto, não concorda com isso, pois este tipo de opinião reflete frequentemente que tipo de pessoa era o falecido.

"As pessoas querem que seus obituários e avisos de falecimento sejam verdadeiros e um cuidadoso reflexo de sua vida e das pessoas que foram", argumentou a ex-editora de obituários.

"Se um forte sentimento político fazia parte deles, então é natural que se inclua, assim como se era um amante dos cães ou das aves. É parte de quem foram", afirmou.


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