Jornal Estado de Minas

Após escândalo de água contaminada, cidade americana de Flint ainda desconfia

Seis anos depois de um escândalo sanitário, as autoridades em Flint dizem que a água nesta cidade do Michigan, no norte dos Estados Unidos, agora está em conformidade com os padrões nacionais de saúde pública, mas os residentes não acreditam.

Em 2014, o então governador republicano de Michigan, Rick Snyder, decidiu mudar o abastecimento de água da cidade para economizar no orçamento.





A água ácida e poluída do rio local, preferida à água pura do Lago Huron, corroeu os dutos do sistema de distribuição, expondo os residentes ao envenenamento por chumbo.

Entre 18.000 e 20.000 crianças viviam em Flint na época dessa contaminação dramática.

Desde então, três vezes por semana, dezenas de carros fazem fila perto de uma igreja no leste da cidade para coletar pacotes de água engarrafada.

"Ainda estamos receosos de beber a água da cidade", disse Cleophus Mooney, enquanto esperava em seu carro para pegar seu suprimento para a semana.

"Continuaremos a beber a água engarrafada até que um alto funcionário diga: 'Tudo bem beber a água'.

"Às vezes, a água ainda cheira a esgoto e às vezes está manchada", disse a ativista JoJo Freeman, cuja filha continua a ter urticária depois de tomar banho.





- "Estabilizada" -

As declarações oficiais do governo não são totalmente tranquilizadoras, pois não afirmam de forma clara e contundente que a água é segura para beber.

No site do estado de Michigan, por exemplo, afirma-se que o abastecimento de água da cidade "atende a padrões muito elevados".

Por sua vez, a prefeitura de Flint garante que a qualidade da água está "estabilizada" e apresenta baixos níveis de chumbo.

Segundo uma porta-voz, mais de 90% dos tubos foram substituídos como parte de um programa de descontaminação.

A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) diz que a água da cidade não precisa ser filtrada para lavar as mãos e para chuveiros, mas recomenda enfaticamente não usá-la para cozinhar ou escovar os dentes.

"Não beba água não filtrada. Não é seguro", diz a agência federal em seu site.

A ativista Claire McClinton reconhece que a água melhorou. Mas "não nos mostraram as evidências de que precisamos para acreditar que a água é segura", lamenta.

As dúvidas persistem, especialmente porque as autoridades do Michigan estão no processo de indenizar as famílias de baixa renda e os ativistas temem que isso possa encerrar o processo penal em andamento devido ao escândalo.





O Michigan concordou em pagar até 600 milhões de dólares para resolver o caso, a maior parte do qual irá para crianças cuja exposição ao chumbo é particularmente prejudicial.

- Desconfiança -

A EPA ou as empresas privadas envolvidas no caso poderiam se juntar ao processo de resolução de disputas, potencialmente dobrando o valor da indenização, explicou Corey Stern, do escritório de advocacia Levy Konigsberg, que ajudou a negociar o acordo.

"Não acho que haja atualmente qualquer problema de segurança da água", disse Stern. Mas "obviamente há desconfiança entre meus clientes em relação ao governo", observou.

O acordo legal, que nem todos em Flint compartilham, encerra milhares de processos civis contra Michigan.

A procuradora-geral do Michigan, Dana Nessel, democrata eleita em novembro de 2018, teve de rejeitar as acusações criminosas contra altos funcionários do governo acusados de orquestrarem a mudança no abastecimento de água e minimizarem ou enganarem o público sobre os efeitos na saúde POR falhas técnicas no processo iniciado por seu antecessor republicano.

No entanto, seu porta-voz garante que a investigação criminal continua.

Muitos ativistas continuam insatisfeitos, alegando que o estado deveria fazer mais para compensar as vítimas, inclusive reparando os danos em suas casas e substituindo canos danificados por água contaminada.

Para Nayirrah Shariff, do grupo ativista Flint Rising, os 600 milhões de dólares de indenização são "um insulto" porque, segundo ela, as vítimas deveriam ser indenizadas pelo resto da vida.

E Kent Key, um ativista e pesquisador da Universidade de Michigan, acredita que "a justiça não foi feita", já que nenhum oficial de alto escalão realmente se importou com este caso.





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