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Estado de Minas

A cobertura da imprensa americana em uma campanha eleitoral 'anormal'


21/10/2020 11:31

Perguntas educadas, tendência à moderação, poucas críticas a uma campanha com acesso restrito. Os jornalistas incomodam menos Joe Biden do que Donald Trump, reconhecem vários especialistas em mídia, e alguns justificam a diferença pelos métodos do presidente.

O "caso Hunter Biden", sobre uma suposta ligação entre o ex-vice-presidente e uma empresa ucraniana acusada de corrupção, ocupou parte importante do espaço midiático na semana passada. Mas Biden só foi questionado sobre o assunto pela primeira vez dois dias e meio depois das primeiras notícias, e sua resposta foi minimizar a questão.

No dia seguinte, o candidato democrata não falou com a mídia que acompanha diariamente sua campanha.

E no domingo, ele respondeu apenas uma pergunta... sobre o aroma de seu smoothie.

"Pergunta do dia para Joe Biden", tuitou o repórter político do New York Times Jonathan Martin: "Você está se escondendo esta semana porque só quer responder a perguntas sobre smoothies?"

Biden anunciou na terça-feira que pausaria sua campanha para se preparar para o último debate presidencial, marcado para quinta-feira.

Durante meses, o acesso à campanha do candidato democrata está entre os mais limitados da história. Apenas cerca de vinte veículos nacionais e internacionais podem acompanhar de perto sua campanha devido à pandemia de covid-19, segundo sua equipe.

- Perguntas "mais suaves" -

"Seria lógico que os jornalistas que cobrem a campanha se frustrassem por não receberem muitas informações (...) e por não terem acesso ao candidato", disse Richard Benedetto, ex-correspondente da Casa Branca do jornal USA Today.

No entanto, houve poucas reclamações da mídia.

"Se sou candidato e percebo que consigo me virar sem me envolver em muitos assuntos ou responder a muitas perguntas, (...) por que não continuar assim?", aponta Benedetto, hoje professor da American University.

As críticas à cobertura da campanha de Biden transcendem a questão dos negócios de seu filho e não vêm apenas de comentaristas conservadores, que questionam o trabalho da imprensa sobre o candidato democrata.

Na última quinta-feira, a diferença ficou maior, quando os dois candidatos participaram de dois programas de televisão. Trump suportou uma bateria de perguntas críticas da jornalista da NBC Savanah Guthrie, enquanto a entrevista de George Stephanopoulos com Biden na ABC começou com perguntas do público.

"As perguntas a Biden foram mais suaves do que as de Trump", diz Benedetto. "Não há dúvidas".

Em outro caso semelhante ocorrido em meados de setembro, Stephanopoulos, que foi conselheiro do ex-presidente democrata Bill Clinton, entrevistou Trump. Um encontro que o site Politico chamou de "interrogatório hostil", enquanto definiu uma entrevista posterior com Biden na CNN como "um encontro afável de velhos conhecidos".

"Para mim, o problema não é tanto a leniência da mídia em relação a Biden, mas sua agressividade ao cobrir o presidente Trump", comenta Grant Reeher, professor de Ciências Políticas na Universidade de Syracuse.

"Muitas vezes você tem a impressão de que a mídia apoia Biden", diz. Na verdade, a maioria dos principais jornais americanos, que tradicionalmente declaram apoio a um ou outro candidato, desta vez optou pelo democrata.

Dean Baquet, editor do New York Times, também admite que a cobertura de seu veículo da campanha de Trump é "muito agressiva", embora "jornalisticamente moral".

- Não é uma campanha "normal" -

Alguns especialistas justificam uma cobertura mais comedida do candidato democrata.

"É como comparar maçãs e peras", diz Gabriel Kahn, professor de Jornalismo da Faculdade Annenberg de Comunicação e Jornalismo da Universidade do Sul da Califórnia.

"Em tempos normais, poderíamos pressionar mais um candidato se (seu adversário) se comportar normalmente", mas, neste caso, isso "não parece apropriado", explica Kahn.

Não se pode comparar a cobertura das duas campanhas "quando você tem um candidato que se refere à imprensa livre como inimiga e incita à violência contra os membros da imprensa, se recusa a responder a quaisquer perguntas diretas e despeja mentiras sobre sua vida... tentar comparar a cobertura de um candidato com o outro nesta situação está fora de questão".

Dan Froomkin, editor do site independente Press Watch, concorda com Kahn. Em maio, ele escreveu que seria "negligência jornalística" tratar os erros de Biden "de uma forma que os fizesse parecer comparáveis aos de Trump".

No entanto, Froomkin reconhece que "em uma campanha eleitoral normal, problemas como os que Biden tem tido receberiam mais cobertura da mídia do que estão recebendo atualmente".

Para o editor, Biden não deve se deixar levar pela falsa sensação de que "ele é imune ao escrutínio da imprensa".

"Os presidentes devem ser responsabilizados e a responsabilidade e a transparência devem ser restauradas no período pós-Trump. Isso não acontecerá com uma imprensa submissa."


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